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13/May/2025

“Carne de Fungo” é a aposta de startup brasileira

Aos 14 anos, Sthefany Viana viu o pai, José Viana, iniciar o cultivo de cogumelos comestíveis em Araçoiaba da Serra (SP). Mais de duas décadas depois, formada em Biologia, é ela quem comanda os negócios da família, que passaram por uma transformação gradual, com a diversificação da oferta. Os cogumelos tradicionais, como shitake e shimeji, que se misturavam a outras dez espécies na propriedade, deram lugar a fungos que imitam carne ou atuam como biocontroladores naturais de pragas em lavouras. José Viana, químico de formação, foi gerente de multinacional e trabalhou na Universidade de São Paulo (USP) antes de se ver desempregado. Apreciador do paisagismo, decidiu empreender na área, o que abriu caminho para o cultivo de cogumelos e o envolvimento da filha no negócio. Foi o incentivo para que Sthefany cursasse Biologia e, mais tarde, fizesse mestrado e doutorado em estudos com fungos. Em 2014, começaram a exportar extratos de cogumelos medicinais.

Convidada pelo Sebrae para uma missão em Chicago, nos Estados Unidos, Sthefany conheceu a "carne de fungo" e percebeu o potencial para agregar ainda mais valor à produção. Os cogumelos medicinais foram mantidos como parte dos negócios, mas a linha de comestíveis mudou de patamar. Os Viana não precisam mais esperar meses para que o fungo se desenvolva e esteja em ponto de extração. Antes, eram necessários 120 dias para colher o shitake. Agora, em 48 horas, é possível ter o micélio disponível. Micélio é o nome dado ao emaranhado vegetativo dos fungos, responsável pela sustentação e pela absorção de nutrientes. Esse material é multiplicado rapidamente pela família, que verticalizou toda a produção, por meio de biorreatores. As três cepas de fungos comestíveis com as quais Sthefany e o pai trabalham são moldadas com uma prensa até ficarem muito parecidas com carne de frango (versão chicken) e bovina (beef). Tem ainda a versão frango desfiado, para diversos usos culinários, como recheio de coxinha.

Para ofertar o produto, pioneiro no mercado brasileiro, eles criaram a startup Hummami e construíram uma fábrica em Sorocaba (SP), da qual saem 300 quilos de "carne de fungo" por mês. Até o final deste ano, deve chegar a 1 tonelada/dia. A aposta é no mercado de comidas veganas, em franca expansão. Um estudo da Alled Market Research apontou que esta vertente alimentar movimentou US$ 19,7 bilhões em 2020 no mundo, com expectativa de dobrar de tamanho até 2030. No Brasil, levantamento do IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) revelou, em 2022, que 46% da população com mais de 35 anos havia parado de consumir carne de origem animal por conta própria ao menos uma vez por semana. E que 32% já preferem opções veganas em restaurantes e estabelecimentos similares. O principal foco desse mercado são produtos derivados de plantas, os chamados plant-based meat. De acordo com o CrunchBase, consultoria internacional que reúne informações sobre o cenário corporativo, só entre 2021 e 2022, as empresas de proteínas alternativas captaram mais de US$ 1,6 bilhão em rodadas de negócios.

Apesar do desempenho não ter se mantido nos anos seguintes, principalmente em 2024, por causa de retrações na economia mundial, vários investidores mantêm suas apostas, considerando, justamente, as tendências no ramo de alimentação e o crescimento da biotecnologia no planeta. Até porque, mesmo quando há impacto, ele é pequeno, já que o volume anual produzido é de cerca de 15 mil toneladas, contra 350 milhões de toneladas de carnes de origem animal. No Brasil, o movimento plant-based começou com a startup Fazenda Futuro, criada em 2019. O objetivo da empresa é popularizar o consumo de "carnes" à base de plantas do Brasil. Para isso, passou a acelerar, no ano passado, seu plano de se transformar num hub de produtos vegetais. Além do carro-chefe da startup, o hambúrguer, a empresa mira leite, queijo, pão, mel e até bacon, e tem visto suas ideias se expandirem para outros países, como os Estados Unidos. Um dos públicos-alvo são os flexitarianos, pessoas que ainda consomem produtos animais, mas que têm introduzido na dieta as opções veganas.

No caso específico da "carne de fungo", Sthefany aposta na saudabilidade, já que o produto não se encaixa entre os alimentos ultraprocessados, diferente de muitos que têm plantas como base, nos sabores, que são neutros, e no preço. Por ter uma produção verticalizada, a expectativa é conseguir, com um aumento de volume, um custo menor que o da carne vermelha e a de frango. Mas, as criações dos Viana não param por aí. Com as cepas que não são comestíveis, eles montaram outra empresa, a Bragen, que fornece soluções B2B para controle biológico natural. Para a produção dos biocontroladores, os fungos precisam ser inoculados em um substrato. No caso, usando o arroz. Por dia, são processadas 2 toneladas do grão, com perspectivas de que o número se expanda significativamente nos próximos anos, impulsionado pela demanda. Alguns clientes já tratam lavouras de cana-de-açúcar exclusivamente com produtos biológicos. A Bragen busca se alinhar às principais tendências de substituição dos defensivos químicos por alternativas naturais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.