25/Apr/2025
Na última semana de março, o MilkPoint e a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) divulgaram o Levantamento Top 100 2025 que mapeia os 100 maiores produtores de leite do País. Nesta edição, as fazendas, além de responderem sobre as questões produtivas, também responderam sobre ações sustentáveis. Isso demonstra que produção leiteira e meio ambiente são uma dupla inseparável em nossas discussões. A Embrapa Pecuária Sudeste e a Nestlé, desde 2021, organizam um banco de dados sobre o consumo de água em fazendas leiteiras. São mais de 1.000 fazendas monitoradas mensalmente para vários usos da água: bebida dos animais, lavagem da sala de ordenha, irrigação, residências e etc. Certamente, o maior banco de dados de uso da água em fazendas leiteiras do País. A partir das informações do banco de dados são gerados valores de referência de consumo por tipo de sistema de produção e época do ano. Para sistemas confinados, que representam 86% das TOP 100, para cada litro de leite se produz em média 1,9 litros de dejeto (água+fezes+urina+outros).
A média de produção de leite diária das TOP 100 foi 32.555 litros de leite/dia. O que significa 61.855 litros de dejeto/dia, equivalente ao esgoto gerado por 476 pessoas por dia. A Fazenda Colorado, que tem a maior produção diária nacional (98.921 litros de leite/dia), produz entorno de 187.950 litros de dejeto/dia, o equivalente ao esgoto de 1.446 pessoas. A produção anual de dejeto da Colorado equivaleria a 34 piscinas olímpicas. 95 fazendas declararam que armazenam os dejetos em esterqueiras/lagoas e fazem a posterior utilização como adubo. Mas, quanto este adubo represente em quantidade de nitrogênio? Considerando que a concentração média de nitrogênio no dejeto está em torno de 0,1%, então aquela média de produção de leite diária fornecerá pelos dejetos entorno de 22.577 Kg de nitrogênio/ano. Como o dejeto é armazenado em esterqueiras/lagoas e aplicado no solo de forma superficial, considera-se que 50% do nitrogênio é perdido para atmosfera por volatização. Outras rotas de perda podem existir.
Então, do total de nitrogênio (22.577 Kg de nitrogênio/ano), o que efetivamente se tem a disposição para suprir a necessidade das culturas vegetais seria 11.288 Kg de nitrogênio/ano. Considerando a aplicação deste dejeto em uma lavoura de milho-silagem com produtividade de 60 toneladas por hectare. A necessidade de nitrogênio seria de 150 Kg de nitrogênio/hectare/ano. Então os 11.288 Kg de nitrogênio fertilizariam 75 hectares. Se a fazenda tem esta área para aplicação, ótimo. Se a fazenda não tiver esta área disponível, teria que exportar parte destes dejetos e/ou cultivar culturas que tenham maior necessidade de nitrogênio e/ou diminuir a quantidade e a carga de nitrogênio nos dejetos. Somente 38 fazendas declaram ter biodigestores, sistema de tratamento que gera o biogás (mistura de metano+gás carbônico+ outros gases) e o digestato (líquido com poder fertilizante). Se converter a produção anual de dejetos da fazenda média em m³ de biogás, daria um total de 112.785 m³ de biogás/ano. Em equivalente energético, esta quantidade de biogás poderia gerar entorno de 73.310 KWh.
Outros dados interessantes do levantamento se referem ao uso da água. 51 fazendas declararam monitorar o consumo de água. Isso é muito importante, pois não tem como manejar o que não é medido. Medir este consumo possibilitará identificar os pontos de eficiência e ineficiência hídrica e, para os de ineficiência, propor práticas para corrigir o uso excessivo. 55 fazendas declararam captar a água da chuva. Esta água é uma fonte alternativa as fontes tradicionais (superficial e subterrânea). Os usos que podem ser feitos dela dependerá dos padrões de qualidade. Usos menos nobre: como lavagem de pisos para retirara de dejetos, podemos utilizar esta água de forma direta. Usos mais nobres: como consumo dos animais, depende de uma análise de qualidade da água para ver se ela atende aos padrões para este tipo de uso. Levantamentos como o TOP 100 que aliam informações produtivas com ambientais são muito bem-vindos e podem gerar uma série de informações e conhecimentos que auxiliem os atores da pecuária leiteira a tomar decisões baseadas na ciência e em realidades produtivas. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.