22/Apr/2025
Quase cinco meses após o encerramento de sua recuperação judicial, o Laticínios São Vicente, de Minas Gerais, traça planos ambiciosos de crescimento. Durante o processo, iniciado em 2020 e que se alongou em função da pandemia, a empresa passou por uma reestruturação agressiva, que incluiu corte de mais de 40% funcionários e mudanças no portfólio. Quando pediu proteção contra os credores, num processo envolvendo dívidas de R$ 23 milhões, o laticínio faturava R$ 70 milhões. Em 2024, alcançou R$ 170 milhões e a expectativa para este ano é chegar a R$ 230 milhões. Em três, quatro anos, mais que dobrou a companhia, afirma o CEO e um dos sócios Alysson Almeida. Um dos maiores produtores de queijo mofo do País, o São Vicente foi uma das empresas investidas pelo fundo Mercatto, do Bozano. O fundo de private equity, que hoje não existe mais, entrou na companhia em 2014 e deixou a operação cinco anos depois.
Então, Alexandre Gribel, hoje sócio majoritário da companhia e primo da família fundadora, investiu na empresa e convidou Almeida para assumir a presidência, ser acionista e coordenar o processo de reestruturação do São Vicente. Era novembro de 2019, e a empresa estava “tecnicamente quebrada”. Era uma empresa com R$ 18 milhões de prejuízo para uma dívida de R$ 65 milhões. O executivo é cauteloso ao falar dos motivos que levaram o São Vicente à crise financeira, mas aponta a estratégia de alavancagem agressiva de fundos como uma das razões. Como o fundo fez um crescimento bastante acelerado, sem olhar a estrutura de capital que iria financiar aquele crescimento, houve uma explosão no endividamento da companhia. A partir de 2016, a empresa começou a tomar empréstimos de curto prazo para financiar o crescimento. Isso porque os recursos que o fundo aportou foram praticamente imobilizados na aquisição do laticínio Lulitati, em 2015.
Almeida admite que já considerava um pedido de recuperação assim que chegou à empresa, mas conta que os sócios decidiram tentar mais alguns meses. Então, a direção implementou medidas para estancar o endividamento, reestruturar a indústria, o portfólio de produtos e a estratégia de mercado. A companhia chegou à colher alguns bons resultados nos primeiros meses de 2020, mas veio a decretação da pandemia de Covid-19 e a única saída foi pedir proteção contra os credores. Após o pedido, deferido em maio daquele ano, o São Vicente demitiu 120 de seus 290 funcionários e reduziu à metade sua captação de leite, que era de cerca de 90 mil litros de leite por dia. Mas, essa adequação incluiu também um projeto para a empresa voltar a crescer, a partir de um patamar menor. Era preciso crescer rápido em função de toda a dívida que precisava repagar. O plano do São Vicente acabou sendo homologado apenas em setembro de 2022, em função de adiamentos de assembleias por causa da Covid-19.
Nesse processo, a criação da classe de credores essenciais (os fornecedores de leite) foi fundamental para que a empresa voltasse a crescer. A ideia foi que aqueles que estivessem na RJ e aceitassem voltar a fornecer leite pudessem ter uma vantagem sobre aqueles credores que não quisessem ter mais relacionamento com a companhia. Com isso, a empresa recuperou grande parte dos fornecedores de leite, o que permitiu retomar o processo de crescimento. A dívida na recuperação judicial contemplou quatro classes de credores, duas delas (trabalhista e “micro/pequeno empresários/essenciais) tiveram deságio zero enquanto os com garantia real tiveram rebate de 50%; e os quirografários, de 35%. Havia ainda uma dívida tributária nominal no valor de R$ 30 milhões, sobre a qual não houve deságio e que foi negociada à parte da recuperação, em parcelas de longo prazo. Com a retomada, o São Vicente encerrou 2024 com 350 funcionários. O número de fornecedores de leite, que caíra para 150, está em 330. E a captação diária voltou ao patamar de 90 mil litros.
Na reestruturação, uma das medidas tomadas foi encerrar a produção de queijos commodity, como frescal e muçarela, de baixo retorno e um dos motivos que levaram a empresa aos problemas financeiros. Hoje, o foco são produtos premium, como as linhas de mofo branco e azul. Além disso, a empresa lançou linha de requeijão para o food service em 2024, que deve ser ampliada para o varejo. Outra aposta foi o queijo coalho, além de produtos porcionados. É com base nesses lançamentos e no crescimento de volumes nos pontos de vendas já existentes e em novos que o São Vicente espera elevar seu faturamento para a casa dos R$ 230 milhões. Para este ano, a empresa projeta investimentos de R$ 4 milhões, em expansão da capacidade produtiva das linhas de queijos mofo em Perdões e Ritápolis e amarelos, além do aumento da capacidade de armazenamento. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.