10/Apr/2025
Todos os setores da economia, Brasil e mundo afora, estão às voltas com ajustes em seus planejamentos a partir da turbulência criada pelo “tarifaço de Trump”. As perdas já registradas nas bolsas de valores em todo o mundo sinalizam desaquecimento da economia, ou seja, a capacidade de consumo, em geral, pode arrefecer. Os impactos nos países e setores serão variados. No Brasil, a alta acelerada do dólar favorece as exportações, e as tarifas impostas pelos Estados Unidos também tendem a reforçar a demanda por produtos agropecuários brasileiros. Ainda que países importadores de carne bovina tenham reflexos negativos em suas economias, é possível que a demanda externa por carne bovina do Brasil se mantenha em bom patamar. Por outro lado, as tarifas diretas dos Estados Unidos ao Brasil e a turbulência na economia de outros países devem impactar, direta ou indiretamente, em vários setores nacionais. Isso tende a acarretar redução dos investimentos, desemprego e diminuição da renda dos brasileiros para o consumo de carne e outros bens.
Além disso, dólar alto encarece os custos de produção da pecuária e de vários outros setores, corroendo a lucratividade dos negócios e desacelerando investimentos. No ano passado, as exportações representaram 28,16% da produção da carne bovina nacional. Portanto, o escoamento de quase três quartos depende da renda dos brasileiros. No primeiro trimestre deste ano, as exportações da carne bovina (in natura + processada) se mantiveram em alta. No acumulado de janeiro a março, o faturamento externo foi de US$ 3,2 bilhões e superou em 22% o do primeiro trimestre de 2024. Esse resultado refletiu o aumento de 12% no volume embarcado e de 9% do preço médio em dólar. Em março especificamente, houve incremento de expressivos 39% no faturamento em dólar em relação a março de 2024, puxado pela alta de 29% no volume e de 8% no preço em dólar. A carne in natura representou 90% da receita em dólar do trimestre.
A cotação média da carne in natura subiu 9% e o volume embarcado, 11% frente ao mesmo trimestre de 2024. Na comparação dos valores anuais de março, o preço avançou 8% e a quantidade, 30%, resultando em alta de 40% no faturamento em dólar. Esse forte resultado foi puxado pela maior demanda da China (+27%), Estados Unidos (+639%) e Chile (+64%), que tiveram respectivas participações de 47%, 13% e 6% no faturamento total. Em volume, houve aumentos de 18%, 565% e 45%, na mesma comparação. E os preços em dólar também subiram, 7%, 8% e 13%, nesta ordem. As exportações para os Estados Unidos serão tarifadas em mais 10%, além dos atuais 26% para o volume “não cota”, e não há clareza sobre o impacto que haverá. Para China, principal cliente da carne brasileira, há notícias de que o produto está sendo negociado com reajustes e as perspectivas são de que as vendas sigam firmes. Os primeiros dados de abril, no entanto, vieram mais mornos, com redução de 17% da média de embarques diários na comparação com a quarta semana de março.
Por sua vez, os preços médios em dólar avançaram 1% de uma semana para outra. No mercado doméstico, as cotações da carne no atacado de São Paulo vêm se mantendo firmes, mas, com a aproximação da Semana Santa, o consumo deve enfraquecer. Às vésperas da Páscoa (20/04), podem ter alguma reação. Na parcial do mês de abril, o dianteiro acumula valorização de 3,55%, a ponta de agulha, de 4,64% e o traseiro, de 0,71%; a carcaça casada de boi se valoriza 2,08%, com média de R$ 22,59 por Kg. No segmento de bovinos para abate, os pecuaristas têm se mantido resistentes, pedindo preços maiores e muitas negociações têm ocorrido com pequenos aumentos. Apesar de a demanda parecer um pouco maior que a oferta, é clara a postura cautelosa dos frigoríficos. Estes agentes entram comprando em alguns dias, melhoram suas escalas de abate e recuam. O preço médio do boi gordo em São Paulo é de R$ 324,40 por arroba, alta de 1,53% no mês. Em março, o boi gordo acumulou elevação de 2,75%. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.