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02/Apr/2025

Boi: índices de reprodução devem ser monitorados

Estar atento aos sinais de mudança do ciclo pecuário, como os índices reprodutivos, é importante para decisões estratégicas em longo prazo. O primeiro registro de nascimento de bovino fruto da inseminação artificial (IA) no Brasil foi reportado em 1938 e, desde então, a técnica tem mostrado resultados impressionantes. Após ter se difundido comercialmente na década de 70, apresentou crescimento constante até os dias atuais, se consolidando com uma importante ferramenta para o incremento da produtividade. O aumento da produtividade é importante para a permanência do produtor na atividade agropecuária e, como o boi é uma commodity, significa que ela tende a ter uma depreciação ao longo do tempo, enquanto os custos de produção seguem em direção oposta.

Ou seja, para que a atividade continue competitiva, a pecuária precisa ganhar em escala, produzir mais na mesma área. O controle de enfermidades e o melhoramento genético são ganhos também obtidos por meio da técnica de IA. Além disso, o melhoramento genético possibilita o aumento no número de descendentes de um bom reprodutor e a facilidade de aquisição de doses de sêmen de bovinos de alto padrão, fatores que resultam em maior eficiência produtiva. E a um custo relativamente baixo. A aplicação da técnica está ligada às fases do ciclo pecuário, que funciona da seguinte maneira: cada fase do ciclo pecuário tem duração média de três a quatro anos, podendo variar. O ciclo é composto por períodos com preços em ascensão e de períodos com preços em declínio.

Com isso, quando os preços estão em alta, o produtor é estimulado a investir na atividade, ou seja, aplica técnica, adquire novas áreas e retém matrizes, de forma que a produção aumenta até o momento em que o mercado fica saturado de bovinos e os preços caem, desestimulando os investimentos. Inicialmente, além de reduzir o uso de insumos ou substituí-los por outros mais baratos e adiar investimentos, o produtor também abate as fêmeas para manter o caixa da Propriedade. Isso exerce uma pressão sobre o mercado. Entretanto, com o tempo, a quantidade de bezerros disponível diminuirá. E, posteriormente, a oferta de bovinos prontos para o abate também será menor, o que fará com que o ciclo mude de direção. Dessa forma, os investimentos em reprodução funcionam como um dos indicadores da fase do ciclo pecuário.

Em 2021, com a fase de alta do ciclo pecuário de preços (menor abate de fêmeas e preços em ascensão), as vendas de sêmen aumentaram, tendo sido recorde. Já em 2023, a elevada participação das matrizes no abate de bovinos (41,8%) aliada à redução de investimentos devido aos baixos preços pecuários resultou em uma queda nas vendas de sêmen. Nesse contexto, observa-se uma relação inversamente proporcional entre o número de fêmeas abatidas e as vendas de sêmen, com ambos os indicadores apresentando comportamentos antagônicos. Em 2023, 26,9% das fêmeas do rebanho brasileiro foram inseminadas, considerando uma dose de sêmen por fêmea. Isso representa uma queda de 6,8% em relação a 2021.

De acordo com as estimativas da Scot Consultoria, em 2024, 28,5% das fêmeas que constituíam o rebanho brasileiro foram inseminadas, melhora de 1,6% em relação a 2023. Apesar da melhora, há ainda um longo caminho a ser percorrido pela pecuária nacional. Estima-se que, nos próximos anos, haverá um crescimento nas vendas de doses de sêmen, impulsionado pela ascensão dos preços do boi gordo e pelos resultados positivos das inseminações artificiais, tanto no retorno produtivo quanto no econômico nas fazendas, uma vez que a inseminação artificial é a biotecnologia que causa o forte impacto entre os programas de melhoramento genético. A verdade é que os índices indicam um grande espaço para evolução no que tange à "aplicação de tecnologia". Além disso, é crucial não apenas adotar técnicas, mas também saber gerenciá-las de maneira eficaz.

Com as constantes mudanças no setor pecuário, é essencial ter acesso a uma ampla gama de informações e monitorar índices e tendências de forma contínua. Isso permite aproveitar os momentos favoráveis e se beneficiar das oscilações do mercado, além de adotar estratégias alinhadas às realidades atuais. Estar bem-posicionado dentro do ciclo pecuário e perceber os sinais de que ele está mudando, como o comportamento dos índices reprodutivos, por exemplo, pode ser um excelente indicador para as decisões em longo prazo. Esses números revelam se o produtor está investindo ou não no aumento da produção, oferecendo uma visão clara sobre a atratividade da atividade e, também, sobre a possível saturação da oferta de bovinos nos próximos anos. Fonte: Alcides Torres. Broadcast Agro.