02/Apr/2025
A raça zebuína que deu origem à base da pecuária brasileira está fazendo o caminho de volta para a Índia por meio da exportação crescente de material genético brasileiro. No ano passado, só a Alta Genetics Brasil, que tem um terço de share no mercado brasileiro de material genético bovino, exportou 40 mil doses de sêmen para o melhoramento genético do gado leiteiro na Índia, maior produtor mundial de leite. Neste ano, a Geneal Genética e Biologia Animal vai fazer a primeira exportação de embriões para a Índia. Os indianos reconhecem que o zebu teve um melhoramento genético incrível no Brasil e agora querem levar isso para lá visando aumentar a produtividade do seu rebanho leiteiro, explica a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). O Brazilian Cattle é um dos projetos setoriais executados pela ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) desde 2003 em parceria com a ABCZ que visa abrir novos mercados e consolidar os atuais para elevar a exportação dos produtos das empresas da cadeia pecuária brasileira.
O projeto tem 113 empresas de toda a cadeia pecuária como associadas, entre elas Alta e Geneal. No ano passado, as exportações brasileiras de sêmen e embriões bovinos, segundo o Agrostat, sistema de estatísticas do agronegócio brasileiro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), renderam US$ 6,11 milhões ante os US$ 4,7 milhões de 2023, um crescimento de cerca de 30%. O maior aumento percentual de receita foi dos embriões, que passaram de US$ 818,9 mil para US$ 1,41 milhão, crescimento de 73,3%. Em volume, foram exportados 1.450 Kg de material genético ante os 942 Kg de 2023. Os embarques de sêmen para a Índia tiveram o maior crescimento no período, passando de US$ 37,6 mil para US$ 618,9 mil, um aumento de 16 vezes e uma participação de 10% no total exportado. No ranking das empresas associadas do Brazilian Cattle, responsáveis por 80% das exportações brasileiras de material genético bovino, a Índia passou de 16º maior importador em 2023 para a liderança, seguida por Colômbia, Paraguai, Equador e Costa Rica.
Os países da América Latina ainda lideram as importações do setor, mas a Índia, o Paquistão (que fazia parte da grande Índia quando o Brasil importou os primeiros bovinos do berço do zebu) e os países africanos vêm ganhando cada vez mais espaço. Nesses países, o foco é na genética leiteira, que representa atualmente cerca de 40% do total de material genético exportado pelo Brasil. O Paquistão e países da África como Senegal e Nigéria estão até importando gado vivo do Brasil por avião para melhorar a genética do rebanho de pequenos produtores que focam na renda diária do leite, mas, obviamente, a importação de sêmen é mais barata e de melhor logística. Segundo a Alta Genetics, das 24 milhões de doses de sêmen comercializadas pelas centrais brasileiras no ano passado no mercado interno e externo, 970 mil doses foram exportadas graças ao reconhecimento da genética brasileira e a abertura de novos mercados.
A exportação de 40 mil doses de sêmen de gir para Mumbai, na costa oeste da Índia, no ano passado, foi a maior do país e teve que ser aprovada por um comitê do governo indiano que cuida do desenvolvimento leiteiro. A negociação começou em 2020, as doses foram produzidas em 2023 e o primeiro lote foi embarcado em janeiro do ano passado. As doses vieram de quatro touros renomados de quatro fazendas. A unidade da Alta no Brasil, que tem o segundo maior faturamento da multinacional atuante em 90 países, fez ainda mais três exportações menores de sêmen, com 4 a 5 mil doses, para pequenos produtores indianos e está negociando para exportar também embriões. Os indianos são mais exigentes que outros mercados, mas estão muito interessados em melhorar a produção do seu rebanho leiteiro com a genética brasileira. O índex da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) aponta que o Brasil produziu no ano passado 20.539.086 doses de sêmen, um aumento de 6% em relação a 2023.
Desse total, 833.276 doses foram exportadas para 31 países, uma queda de 5% em relação às 873.674 do ano anterior. As importações de sêmen ainda superam com folga as exportações, com 5.741.702 doses no ano passado, um aumento de 14%. No total, foram comercializadas 26.280.788 doses, um crescimento de 7,4% nesse mercado. O mercado de sêmen caminha muito próximo da demanda do preço da arroba. O ciclo pecuário está agora retomando seu movimento de alta e, no segundo semestre, quando começa a estação de monta, geralmente já ocorre um aumento. Neste ano, as exportações devem crescer bem porque o Brasil deve ser declarado livre de aftosa sem vacinação. Nesse contexto, o Japão, que acaba de receber a visita do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e a Coréia do Sul se destacam como mercados promissores a serem abertos para o material genético bovino do País. A tecnologia no setor tem avançado bastante no Brasil nos últimos anos, o que atrai a atenção de outros países com clima tropical que ainda compram material genético de países de clima temperado.
Um indicador do avanço da tecnologia é que no ano passado foram produzidas 1,1 milhão de doses sexadas no País, um recorde. Os criadores estão cada vez mais entendendo que precisam investir no melhoramento genético para elevar sua renda e as centrais estão elevando a produção de sêmen para atender a demanda. Há 20 anos, eram 5% de fêmeas inseminadas no Brasil e hoje o percentual já chega a 23% graças à pressão do mercado por um bovino mais produtivo. O Brazilian Cattle trabalha atualmente na abertura de 24 novos destinos para material genético e 21 para animais vivos. México e África do Sul são grandes desafios, além da Austrália, mas as negociações podem ser aceleradas se Brasil for mesmo reconhecido internacionalmente como território livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). A votação está prevista para ocorrer em maio em Paris. O Brasil já tem um protocolo sanitário muito eficiente e rigoroso, mas na hora de exportar tem que atender requisitos diferentes de cada país para um mesmo produto.
Protocolos sanitários são afetados pela legislação adotada pelo país importador e interesses comerciais defendidos por eles. Isso influencia o ritmo e celeridade das negociações. Para fechar sua primeira compra de mil embriões bovinos brasileiros, os indianos visitaram várias propriedades no País e escolheram a genética da Fazenda Floresta, em Lins (SP), que trabalha com melhoramento de gado leiteiro desde 2007. É a única fazenda do País que tem três laboratórios dentro de seus 192 hectares: de análises clínicas veterinárias, de produção em vitro e de genômica. Além de receber os indianos, foi até o país asiático mostrar com vídeos e palestras como é feito o melhoramento do gir na fazenda, que também produz 20 mil litros de leite por dia para a Nestlé com suas vacas no sistema compost barn. Os bovinos da fazenda são 100% produzidos em laboratório.
Ali são feitos todos os exames e, na pesquisa genômica, identifica-se os defeitos genéticos e a ancestralidade dos animais para provar que não houve mistura com outras raças zebuínas. A Índia é o único país para o qual a fazenda exporta que exigiu esses dados para fechar o embarque dos embriões. Um lote de 200 embriões deve seguir para o berço do zebu em maio e mais 800 serão enviados em 2026. Não basta vender. É preciso ensinar manejo, dar dicas de nutrição etc. Por isso, os compradores vão enviar seus técnicos para estágio na fazenda. A Fazenda Floresta exporta embriões congelados de gir e de girolando para países da América Central e África, além de vender o material genético e bovinos no mercado interno. No ano passado, a vaca Britânia FIV do Basa, criada na fazenda, foi a campeã nacional do ranking de gir. Ela foi vendida em seguida para um condomínio de produtores pelo recorde de R$ 1,05 milhão. Neste ano, as exportações da fazenda devem representar 50% graças ao embarque de bovinos vivos para a Nigéria.
Foram enviados 90 bovinos em voo fretado para um criador que estava tão interessado em melhorar seu rebanho leiteiro que trabalhou junto ao seu governo para abrir o mercado nigeriano para o Brasil. A produção dos embriões que serão exportados para a Índia acontece no laboratório da Geneal, em Uberaba (MG), que tem a licença junto ao Mapa para o quarentenário das doadoras e uma parceria de longos anos com a Fazenda Floresta. Antes e depois da quarentena, os bovinos selecionados seguindo protocolos indianos de sanidade, pureza e produtividade passam por rigorosos exames. A Geneal produziu 5.000 embriões para exportação em 2024, um aumento de 15%, e deve dobrar o número neste ano. No mercado interno, a empresa também faz clonagem de bovinos comercializa mais de 30 mil embriões por ano. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.