24/Mar/2025
Um sistema de baixo custo e baseado em impressão 3D permite detectar a presença de formol no leite e em cosméticos. A inovação é resultado de uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara (SP). A detecção do formaldeído, mais conhecido como formol, já é feita por outras técnicas, mas são muito mais caras. Essa é a primeira vez que a análise é realizada utilizando um sistema impresso em 3D. Os pesquisadores pretendem patentear o sistema, mas em um modelo Creative Commons (CC), permitindo que a tecnologia fique acessível à sociedade e possa ser aprimorada por outros pesquisadores. O formol é prejudicial à saúde se ingerido, inalado ou em contato com a pele. Ele é um produto considerado cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (Iarc). A substância é adicionada para prolongar a validade ou mascarar a deterioração do produto. O novo dispositivo de análise permite detectar sua presença em pequenas amostras de leite e cosméticos.
O processo é diferente dos métodos tradicionais utilizados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que exigem grandes volumes de material, é complexa, demanda várias etapas e é custosa. A estrutura impressa em 3D possibilita o preparo da amostra em quantidades reduzidas, tornando o processo mais eficiente e prático. O projeto também com foco na detecção de formol em amostras de cosméticos. Muitos cosméticos são à base de água, o que favorece a proliferação de fungos e bactérias. Nestes casos, substâncias liberadoras de formol são adicionadas e atuam como conservantes para evitar a contaminação. Em muitos casos, contudo, a presença de formol em cosméticos não é resultado de uma adição intencional. Ocorre que alguns conservantes, ao se degradarem, liberam formaldeído como subproduto, um fenômeno bastante comum.
Segundo os pesquisadores, embora seja proibido no leite, a presença do formol é permitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em cosméticos, porém em quantidades restritas: até 0,1% em produtos de higiene oral; 0,2% em produtos de higiene não oral; e até 5% em esmaltes com endurecedor de unhas. O funcionamento do sistema ocorre da seguinte forma: o formaldeído evapora e atravessa uma membrana de PTFE (politetrafluoretileno), material conhecido como teflon. Em seguida, um reagente é adicionado, provocando uma reação química que gera uma coloração amarela, cuja intensidade está diretamente relacionada à concentração da substância na amostra. Na etapa final, a amostra é transferida para uma cubeta de quartzo e analisada por um fotômetro, equipamento que quantifica o formaldeído com base na intensidade da cor gerada. A ideia é que no futuro esse tipo de análise possa ser feito de forma descentralizada, talvez até por consumidores comuns.
Assim como hoje existem testes para medir o nível de cloro em piscinas, esse sistema poderia, no futuro, permitir que os próprios usuários detectem substâncias como o formaldeído em cosméticos e outros produtos. Para garantir a confiabilidade dos testes, os pesquisadores analisaram diferentes amostras de leite e cosméticos. O leite foi comprado diretamente no supermercado, com a escolha de uma única marca que oferecesse variações do produto, como integral, desnatado e semidesnatado. Para os cosméticos, a equipe seguiu um procedimento semelhante, adquirindo cremes, esmaltes e outros produtos em uma loja especializada. No caso dos cremes capilares, foram analisadas várias amostras, mas a maioria não apresentou formaldeído. Apenas um dos produtos testados teve resultado positivo, e foi nele que a investigação foi concentrada. Nos testes com leite, nenhuma amostra apresentou traços de formaldeído. Para validar o método, os pesquisadores adulteraram propositalmente algumas amostras, simulando contaminações para testar a eficiência do sistema.
Nos cosméticos, a presença de formol foi detectável, mas dentro dos limites estabelecidos pela legislação. Um dos desafios enfrentados no desenvolvimento da pesquisa foi evitar a contaminação das amostras, já que o formaldeído é encontrado em diversos materiais do dia a dia, como móveis planejados, cuja resina contém a substância. Quanto mais intensa a coloração, maior a concentração da substância. Isso acontece porque o formaldeído reage com certas substâncias químicas, formando um composto colorido que absorve parte da luz emitida por um LED. Além de tornar o processo mais acessível, a pesquisa teve um foco na sustentabilidade. A proposta foi reduzir o consumo de reagentes agressivos ao meio ambiente e minimizar custos de fabricação. O objetivo foi desenvolver um método de baixo custo e impacto ambiental reduzido. Foi feita uma avaliação da sustentabilidade desse sistema, buscando alternativas mais seguras e acessíveis. Fonte: G1. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.