ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

24/Mar/2025

Leite: forte alta nos preços ao produtor na Argentina

Existe alguma atividade que tenha aumentado seus ganhos em 40% em dólares? Foi exatamente o que aconteceu com o setor leiteiro argentino. No início do ano passado, o preço pago aos produtores estava dentro da média histórica de US$ 0,30 por litro. Naquele momento, segundo uma comparação do Observatório da Cadeia Láctea (OCLA), depois da grande desvalorização cambial promovida pelo governo Milei no início de sua gestão, a Argentina produzia o leite mais barato do mundo. No Uruguai, o preço era US$ 0,36 por litro, no Chile US$ 0,45 por litro, no Brasil US$ 0,43 por litro, na União Europeia US$ 0,50 por litro, nos Estados Unidos US$ 0,49 por litro, na China US$ 0,51 por litro, e na Nova Zelândia, considerada referência na pecuária leiteira, o valor também era de US$ 0,36 por litro. Um ano depois, o cenário mudou drasticamente. O valor do leite em dólares na Argentina aumentou 40%, chegando a quase US$ 0,43 por litro em janeiro de 2025.

Assim, os produtores argentinos passaram a receber mais em dólares do que seus colegas no Uruguai, Brasil, Nova Zelândia e China. Hoje, os produtores de leite argentinos recebem um dos preços mais altos do mercado global. Os dados de fevereiro/2025 mostram uma situação ainda mais favorável ao produtor argentino: com base nos preços médios pagos aos produtores registrados no SIGLEA, o valor do leite em dólares subiu para US$ 0,429 por litro. Esse número resulta da conversão do preço médio em pesos (447,42 pesos por litro em fevereiro) pelo câmbio oficial do Banco Nación. Em moeda local, a alta anual do leite supera 80%. Muitos produtores estão comemorando: raramente na Argentina o preço do leite pago ao produtor ultrapassou US$ 0,40 por litro, e agora eles acreditam que este patamar será difícil de reverter. Fatores estruturais explicam essa alta e os riscos para o futuro. Algumas condições estruturais ajudaram a provocar esse cenário e indicam que ele pode não durar muito.

Um fator determinante foi a escassez de leite ao longo de 2024, resultado da seca de dois anos atrás, que deixou muitos produtores em dificuldades. A baixa oferta elevou os preços tanto em pesos quanto em dólares. Ao longo de quase todo o ano passado, a produção de leite caiu, contribuindo para a alta dos preços. Somente nos últimos três meses do ano passado, a partir de novembro de 2024, a produção começou a mostrar sinais de recuperação, superando os volumes do mesmo período do ano anterior. Em janeiro de 2025, por exemplo, a oferta de leite dos produtores argentinos foi de 880 milhões de litros, um crescimento de 5,6% em relação a janeiro de 2024. Ainda assim, ao somar os últimos 12 meses, a produção total de leite no país caiu 5%. Outro fator essencial que explica por que os produtores argentinos estão entre os que mais recebem pelo leite no mundo é o atraso cambial. Se o preço do leite em pesos cresceu 82% entre janeiro de 2024 e janeiro de 2025, mas em dólares subiu apenas 40%, fica evidente que a paridade cambial não evoluiu no mesmo ritmo. Essa discrepância distorce todo o cenário.

O atraso cambial (ou seja, a valorização do peso em relação ao dólar) cria a ilusão de que o leite está caro em dólares. Esse fenômeno ocorre em diversos setores da economia. Por enquanto, os produtores estão aproveitando o momento, pois um maior rendimento em dólares aumentou significativamente o poder de compra em relação aos principais insumos, como grãos e pastagens para alimentar o gado leiteiro. Além disso, com a valorização do leite, a participação do produtor no preço final dos laticínios aumentou consideravelmente. Segundo o OCLA, a participação do produtor no total do sistema foi de 34,6% em janeiro de 2025. No mesmo período de 2024, esse percentual era 32,4%, o que representa uma melhoria de 2,2%. A grande questão agora é se esse cenário será sustentável a longo prazo ou se a valorização da moeda argentina e o aumento da produção trarão novos desafios ao setor leiteiro nos próximos meses. Fonte: Bichos de Campo. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.