12/Mar/2025
Segundo Ivan Wedekin, professor da FIA e ex-Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, a agricultura e o agronegócio são altamente impactados pelas variáveis macroeconômicas. Por exemplo, a taxa de juros, que é um dos elementos fundamentais pois define o curso do capital o curso do financiamento, da produção e da comercialização. No cenário atual da economia mundial, há uma perspectiva de taxa de juros ainda mais elevada ao longo deste ano. Outra variável é a taxa de câmbio. No Brasil, ela é definida pelas forças de oferta e demanda das moedas no plano mundial. Nem o Banco Central, que tem reservas acima de R$ 300 bilhões, tem o poder sobre a taxa de câmbio real x dólar no Brasil. O valor da moeda brasileira é fixado no mercado internacional, o que gera uma natural dependência da política monetária, principalmente dos Estados Unidos.
Com isso, chega-se ao terceiro ponto de risco que é a política econômica a ser adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Há um ‘efeito Trump’ que gera mais instabilidade e, portanto, volatilidade sobre os mercados, isso porque hora ele estabelece tarifas, depois há uma negociação, reduz as tarifas, então tem um risco de mercado. Dentro deste cenário macroeconômico há uma outra variável que é o efeito do clima sobre a produção. A maioria das altas ou baixas de preços das commodities agrícolas é muito definida pela variação da oferta, que é determinada muitas vezes pelo clima e não necessariamente pela demanda que se move muito mais lentamente. Não há nenhuma possibilidade de estabilidade na relação que envolve o mercado externo e o consumo interno de proteína.
Muitas vezes as lideranças respondem, até mesmo o Presidente da República, que pressiona por conta dos valores dos alimentos, da carne, ovos e assim por diante, mas essa paridade entre consumo interno e exportação é determinada pelas forças de mercado. Os exportadores são empresas privadas com centenas de clientes ao redor do mundo. O Brasil é o maior exportador de carne bovina no mundo, o maior exportador de carne de frango do mundo e o segundo maior de carne suína. Os preços são determinados pela movimentação externa e pelo consumo interno. O consumo interno tem sido mais forte neste último ano pelo menos por conta da menor taxa de desemprego, do aumento do salário médio, e do volume que o governo tem colocado na sua política de proteção social, como é o caso do Bolsa Família, que eleva a demanda e é um elemento de alta, de uma pressão altista no mercado, que só vai se resolver com o aumento da oferta.
Além das variáveis macro (taxa de juros, câmbio, demanda externa), que dependem do crescimento da economia mundial, há os riscos que envolvem as variáveis internas dentro dos mercados específicos de cada segmento de proteína animal. Há variáveis internas do mercado, na pecuária de corte, por exemplo, o País está em ciclo de alta dos preços de todas as categorias de bovinos. É certo que o preço médio da arroba do boi gordo neste ano de 2025 será maior do que a média anual de 2024. Isso configura uma natureza do ciclo da pecuária que quando aumenta o preço das categorias mais jovens, a retenção de vacas e novilhas para produzir mais bezerros, tudo isso exerce uma pressão de alta que reflete em outras proteínas. Então, neste primeiro semestre é época de safra de bovinos, e irá depender da oferta no segundo semestre, do clima e do aumento dos bovinos confinados em 2025. A volatilidade continuar. A distribuição mercado interno e externo seguirá o interesse dos investidores em comprar do Brasil e dependerá, principalmente da política econômica do governo norte-americano. Fonte: AviSite. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.