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20/Jan/2025

Suíno: setor brasileiro atrasado em bem-estar animal

A 3ª edição do relatório anual “Porcos em Foco: Monitor da Indústria Suína Brasileira”, divulgado pela ONG Sinergia Animal, aponta que as políticas de bem-estar animal da indústria brasileira de carne suína avançam lentamente. A publicação analisou os compromissos assumidos publicamente pelas 16 maiores agroindústrias, frigoríficos e processadoras do setor nacional em relação às práticas como o uso de gaiolas de gestação, procedimentos dolorosos, e utilização indevida de antimicrobianos, que causam sofrimento e riscos aos suínos. Juntas, as empresas respondem por cerca de 70% da produção Entre os principais avanços, o relatório destaca a Frimesa como a que apresentou mais políticas de bem-estar animal neste ano, subindo da categoria F para C no ranking após se comprometer a banir procedimentos dolorosos em leitões (corte e desbaste de dentes, corte de orelhas e castração cirúrgica).

BRF, Pamplona e JBS seguem liderando o ranking com 15 pontos cada, mantendo-se na categoria B. A Aurora retrocedeu dois pontos e caiu da categoria D para a E. Na contramão de seus concorrentes, a empresa ainda não sinalizou a intenção de banir corte de orelhas (mossagem) e nem de adotar o sistema "cobre e solta" para novas unidades, ambas práticas já adotadas pela BRF e JBS.  A Cooperativa Central Aurora Alimentos informa que tem trabalhado na melhoria do atual processo de identificação animal, com o compromisso de finalizar a transição da prática da mossagem até 2028, período necessário para implementação gradual do novo método e adequação de todos os cooperados, dois anos antes do prazo estabelecido pela Instrução Normativa 113/2020, que estabelece prazos para a adequação das práticas de manejo na suinocultura nacional, que é 2030. Com isso, os suínos passarão a ser identificados por meio de brincos.

A empresa informa ainda que, dentro do seu programa de bem-estar animal, implantando há mais de uma década, um dos principais compromissos assumidos foi o sistema de gestação coletiva para matrizes suínas, ainda no ano de 2016 e de forma voluntária, no qual a cooperativa já atingiu 85% das propriedades com alojamento de matrizes suínas em baias coletivas. A finalização desse processo ocorrerá em 2026, antecipando em quase duas décadas o prazo legal da Normativa, que é em 2045. Esse é um tema prioritário e uma melhoria essencial para o conforto e o bem-estar dos plantéis de fêmeas, em fase de gestação e de parto. Na avaliação da Sinergia Animal Brasil, o relatório demonstra que a suinocultura brasileira ainda está atrasada em relação a padrões internacionais. Países como Reino Unido e Noruega, por exemplo, já proibiram completamente o uso de gaiolas de gestação.

A expectativa é de que os resultados desta edição inspirem o Brasil a implementar mudanças estruturais que alinhem o setor aos padrões internacionais de bem-estar animal e à demanda crescente por responsabilidade ética e sustentabilidade. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) argumenta que a suinocultura do Brasil segue rigidamente a legislação brasileira e os preceitos de bem-estar animal e ambiência estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). As empresas do setor vão além da própria legislação e investem em estratégias produtivas em prol do bem-estar animal, buscando manter os custos de produção em patamares que não onerem significativamente os custos do produto final, o que tornaria esta proteína mais cara e menos acessível às classes menos favorecidas. Quanto ao uso de gaiolas de gestação, nenhuma empresa se comprometeu a banir totalmente o uso de gaiolas de gestação e a adotar o “cobre e solta” em sua cadeia produtiva. Essa é considerada uma das piores práticas da produção industrial de animais.

Em substituição, especialistas recomendam a adoção do sistema “cobre e solta”, em que a fêmea é mantida em gaiolas por no máximo sete dias para a inseminação e transferida para o alojamento coletivo após a confirmação da prenhez. Apenas quatro empresas se comprometeram a banir o uso contínuo das gaiolas em suas unidades e a adotar o sistema “cobre e solta” somente nas novas unidades. Foram elas a Pamplona, BRF e JBS e Alibem. Quanto aos procedimentos dolorosos, nove empresas se comprometeram a banir a castração cirúrgica. Foram elas Pamplona, BRF, JBS, Alibem, Frimesa, Pif Paf, Master, Marfrig e Aurora. A opção para este procedimento, comumente realizado sem anestesia, é a imunocastração por meio de uma vacina injetável. Destas, oito assumiram o compromisso de banir o corte de dentes: Pamplona, BRF, JBS, Alibem, Frimesa, Pif Paf, Master, Marfrig. Essa prática é proibida no Brasil, podendo ser realizada em caráter de exceção, em caso de lesão de lesão grave nas mamas das fêmeas durante a amamentação.

Também oito empresas pretendem banir o corte de orelha (mossagem): Pamplona, BRF, JBS, Frimesa, Pif Paf, Master, Marfrig e Aurora. O corte de orelha é remoção de parte da orelha para a identificação dos animais e pode ser substituído pelo uso de brincos. O relatório mostra ainda que nenhuma empresa se comprometeu a banir o corte de cauda e o uso indevido de antibióticos. Embora os avanços sejam lentos, desde o início do monitoramento do “Porcos em Foco”, em 2022, a Sinergia nota gradual evolução nos compromissos apresentados. No Brasil, a Instrução Normativa nº 113, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que estabeleceu padrões para procedimentos, instalações e manejos, visando o conforto dos suínos e a qualidade da produção determina que as granjas terão até banir os procedimentos dolorosos em 2030 e as gaiolas de gestação em 2045. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.