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06/Jan/2025

Boi: mudança de ciclo da pecuária a partir de 2025

Para a pecuária nacional, 2024 fica marcado como um ano de acontecimentos fortes e, também, de variações acentuadas dos preços. É um ano de recordes de abate, de produção, de disponibilidade interna, de exportação, de queimadas e, também, de preços ora muito baixos, ora muito altos. É um ano que deixa sinais de mudança de ciclo. Para pecuaristas, o mercado ao longo de 2024 oscilou do “inferno ao céu” e, nesta virada de ano, busca o equilíbrio entre os fundamentos do mercado e o mais recente solavanco de preços sem causas muito claras. Todo o primeiro semestre foi marcado pela tendência de baixa. No começo de junho, os preços registraram a mínima do ano – no dia 6 daquele mês, o Indicador CEPEA/B3 (São Paulo) fechou a R$ 215,30. O desânimo entre os pecuaristas era forte. As pastagens já estavam ruins, não havia sinais de melhora dos preços e ainda estava longe o período das chuvas. De fato, no começo do segundo semestre, o clima piorou bastante. Não chovia e o calor veio forte em agosto e setembro, estopim para inúmeras queimadas. Em alguns casos, até o rebanho foi consumido pelo fogo. Os confinadores também sentiram o recuo dos preços. Num comparativo entre o número de animais confinados em cada mês de 2024 e de 2023, nota-se que o volume foi reduzindo fortemente de janeiro até maio. No começo do ano, segundo dados da DSM Firmenich, o rebanho em confinamento (15 estados) era 80% maior que no começo de 2023.

Já em maio, estava 13,5% menor e se manteve abaixo do nível de 2023 até agosto. Deste mês em diante, respondendo à recuperação dos preços, o volume cresceu fortemente até outubro. Na situação difícil daquele período, muitos pecuaristas aumentaram suas vendas, inclusive de fêmeas, para diminuir custos e limitar a perda de peso. O IBGE mostra que o número de animais abatidos no primeiro semestre aumentou 21,2% sobre igual período de 2023. Em julho, a situação difícil para os pecuaristas persistiu, e este mês teve o maior abate do ano (considerando-se dados até setembro). Foram 3,592 milhões de cabeças, 22,6% a mais que em julho de 2023. Em meados do ano (junho), a diferença entre 15 quilos de carne (carcaça casada) no atacado da Grande São Paulo – parâmetro de receita dos frigoríficos com a venda no mercado doméstico – e a arroba do boi chegou a 15,10 Reais. Naquele mês, o boi teve média de R$ 220,70 no estado de São Paulo e a carne, de R$ 15,72/kg, ou R$ 235,80/arroba. As exportações também iam bem, em torno de 250 mil toneladas por mês. Era um momento muito bom para os frigoríficos e muito difícil para os pecuaristas. Em agosto, a situação dos produtores começa a mudar. Inicia-se um capítulo de forte alta do boi que segue até o final de novembro. Reposição e carne seguiram na esteira do boi e seguem firmes até agora. Esse período foi marcado por demanda intensa dos frigoríficos, que abriam preços maiores dia a dia.

Em todas as regiões. Havia disputa pelos lotes ofertados, alguns até abaixo do potencial dos animais. Foi uma euforia para quem tinha animais para vender. Quem tinha contrato a preço fixo lamentava muito. Frigoríficos demandavam tanto que se rendiam aos valores pedidos. A disparada da arroba puxou também os preços da reposição. Bezerro e boi magro se valorizaram rapidamente. A demanda se aqueceu – ainda mais. O consumo doméstico refletia a melhora sinalizada em indicadores macroeconômicos como taxa de desemprego e rendimento do trabalhador. A exportação avançava para volumes recordes, ao mesmo tempo em que o câmbio também estimulava essas vendas. Era uma conjunção de grande oferta e demanda maior ainda, conforme os números têm confirmado. Do total de abates em 2024, fêmeas (vacas adultas e novilhas) representaram 43,9% do total, também um recorde para essa categoria. Com a estiagem severa, não foi possível bater recorde também de produtividade. O peso médio dos animais em 2024 foi de 260,7 Kg, cerca de 5 Kg abaixo da máxima de 266 Kg/animal no mesmo período de 2021 e de 2022. A exportação de carne bovina cresceu 29% em 2024. Além de a China manter firmes suas compras – aquiriu 45,7% de todo volume exportado, 12% a mais que em 2023 –, as dificuldades de produção nos Estados Unidos propiciaram o aumento expressivo das vendas para esse país, além de terem aberto oportunidade em outros que deixaram de ser atendidos pelos norte-americanos.

A disponibilidade interna de carne também foi recorde em 2024. A carcaça casada no atacado de São Paulo teve média de R$ 23,64/kg à vista em dezembro, a maior média real (mesmo se considerando o efeito da inflação) da série iniciada em 2001. O boi gordo rompeu todas as marcas nominais (não deflacionadas) do passado e atingiu a casa de R$ 360 por arroba no final de novembro – naquele mês, o Indicador CEPEA/B3 teve média de R$ 338,76. Vale registrar que o Indicador CEPEA/B3 atingiu sua máxima nominal, de R$ 352,65 em 27 de novembro, mesmo dia em que o dólar também chegou ao seu recorde nominal, de R$ 5,91. Desde então, o dólar registrou novas máximas, ao passo que o boi perdeu força. As fortes altas do mercado físico vinham se refletindo no segmento financeiro. Em busca de proteção, a liquidez aumentou consideravelmente. Em alguns dias, mais de 10 mil contratos chegavam a ser negociados, considerando-se futuros e opções. Na última semana de novembro, no entanto, uma reviravolta no mercado futuro derrubou abruptamente as cotações. A carne no atacado, no entanto, seguiu firme e abriu espaço para os frigoríficos obterem margem histórica. A diferença entre as arrobas de carne e de boi atingiu impressionantes R$ 42 no dia 16 de dezembro, por exemplo. No balanço do ano, em termos reais, o boi teve preços comparáveis aos de 2019, abaixo do período de 2020 a 2022 – impactos da pandemia. A média de novembro é uma das maiores da série histórica deflacionada.

Já a menor média do ano, de R$ 231,26 (valor deflacionado IGP-DI), em junho, remete ao período de agosto/setembro de 2023, na casa de R$ 228. Quanto à reposição, a maior média de 2024 foi registrada em dezembro. O bezerro nelore, de 8 a 12 meses, foi comercializado em Mato Grosso do Sul em torno de R$ 2.700/cabeça. A menor média, por sua vez, foi de R$ 2.099,89, em julho, dados reais deflacionados pelo IGP-DI. O ano de 2024 fica marcado também pela conclusão do Acordo entre Mercosul e União Europeia – precedida por um mal-estar causado pela declaração pejorativa à carne brasileira por parte do principal executivo do Carrefour. Para a pecuária brasileira, o Acordo não motiva grande aumento no volume a ser exportado, mas contribui com a mensagem emitida pelos europeus, validando a qualidade dos produtos sul-americanos. É, enfim, ano em que os produtores entregaram muito resultado, fruto dos investimentos que têm feito, e os frigoríficos, bem capacitados para atender à demanda internacional, tiveram desempenhos excelentes – em termos médios. Em boa parte do ano, pagaram pelo boi valores que lhes rendiam boa margem com a venda da carne no mercado interno e, na exportação, contaram com demanda excepcionalmente aquecida e dólar supervalorizado. A pecuária brasileira termina 2024 fortalecida para seguir batendo recordes. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.