12/Dec/2024
O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) deflagrou, nesta quarta-feira (11/12), a Operação Leite Compen$ado 13, quase 12 anos depois da primeira fase e pouco mais de sete anos após a 12ª etapa. Foi identificada a produção de derivados lácteos (leite UHT, composto, leite em pó, soro, entre outros) em uma indústria no município de Taquara, no Vale do Paranhana, com adição soda cáustica e outros produtos nocivos à saúde, como água oxigenada. Além disso, foram detectados “pelos indefinidos” e pontos de sujeira dentro de embalagens. A Justiça ainda não autorizou a divulgação das marcas. Os produtos da indústria de Taquara são distribuídos não só para todo Rio Grande do Sul, mas para todo o Brasil e para a Venezuela. Além disso, a fábrica já venceu e participa de várias licitações em muitas partes do País para fornecimento de laticínios. Recentemente, a empresa foi vencedora de um certame para distribuir produtos derivados do leite para escolas de uma cidade paulista. Em relação às marcas, a Justiça não autorizou, por enquanto, a divulgação.
Sobre os lotes, o MP-RS informou que, apesar de análises iniciais terem detectado substâncias nocivas à saúde humana e demais sujeiras ou pelos indefinidos, com o aprimoramento da fórmula, são aguardados exames mais detalhados para determinar exatamente os que estão contaminados. A soda cáustica é usada para ajustar o PH do leite e diminuir a sua acidez e volatiza ou desaparece rapidamente, não sendo detectada nas análises. Além de aprimorarem as fórmulas para adulteração, também aprimoraram as práticas criminosas. Eles utilizam alguns códigos (‘vitamina’ e ‘receita’) para tentar despistar qualquer tentativa de investigação. Vale lembrar que as irregularidades não foram detectadas apenas no leite UHT, mas no leite em pó, em compostos lácteos para fazer bebidas derivadas do produto e no soro de leite. Por exemplo, sobre o composto lácteo, eles chegam a reprocessar o produto vencido para reutilizá-lo novamente. Já a água oxigenada ou peróxido de hidrogênio, serve para matar micro-organismos e recuperar produto em deterioração.
Isso, sem falar da soda cáustica, que pode conter metais pesados, alguns, inclusive, cancerígenos. Na operação, foi preso novamente o químico industrial conhecido entre os fraudadores como o “alquimista” ou o “mago do leite”. O “alquimista” já havia sido alvo da quinta fase da operação, em 2014, quando foi descoberta a sua participação na adição de soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada nos produtos de uma indústria em Imigrante, no Vale do Taquari. Agora, depois de ser absolvido de uma condenação de 2005 por fato semelhante e ter sido imposta medida cautelar contra ele pela Justiça em Teutônia, além de estar aguardando há dois anos para colocar tornozeleira eletrônica e ainda há mais tempo pelo desfecho do processo judicial da Leite Compen$ado 5, o “mago do leite” é mais uma vez alvo do MP-RS. O MP-RS comprovou a participação do “alquimista”, que está impedido pela Justiça de trabalhar em laticínios, em um fábrica na cidade de Taquara. Com isso, 110 agentes cumpriram quatro mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão em empresas e residências de Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e em São Paulo (SP).
O laticínio contratou o "alquimista" para assessorar na produção. Foram presos o químico, o sócio proprietário da indústria, em São Paulo, e dois gerentes. A ofensiva teve a parceria do Ministério da Agricultura e Pecuária, Receita Estadual, Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e Delegacia do Consumidor da Polícia Civil (Decon), além do poio da Brigada Militar. Quatro pessoas foram presas em cumprimento de mandado de prisão preventiva, sendo que o diretor administrativo da empresa também foi flagrado com uma arma de fogo, com numeração raspada. Uma funcionária também foi presa, na fábrica, em flagrante, por embaraço de investigação de organizações criminosas por estar avisando outros colegas por mensagem para esconderem celulares. Entidades ligadas à produção de leite e laticínios no Rio Grande do Sul se manifestaram sobre a operação do Ministério Público contra fraudes na produção leiteira.
O Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS) repudia com veemência qualquer tipo de adição indevida ao leite, procedimento que vai na contramão de um trabalho meticuloso e diário adotado por produtores, transportadores e indústrias nos últimos anos para elevar os padrões de qualidade no Rio Grande do Sul. O leite gaúcho hoje é o mais fiscalizado do Brasil, com procedimentos regrados por legislações federal e estadual em diferentes instâncias e órgãos de controle, a exemplo do Ministério da Agricultura, Anvisa, Secretaria da Agricultura, entre outros. Todas as cargas que chegam às empresas passam por testes físico-químicos em diferentes etapas do processo produtivo e os resultados estão constantemente à disposição das autoridades. Qualquer ação adotada no intuito de burlar o sistema posto é rechaçada em coro por todos os agentes do setor produtivo e deve ser punida. Também a Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando) e a Federação Brasileira das Associações dos Criadores de Animais de Raça (Febrac) divulgaram nota conjunta sobre a operação, manifestando "profundo pesar" diante das denúncias de adulteração do leite em Taquara.
Lamentam que ainda existam criminosos que comprometem a integridade de um produto tão essencial, fruto do árduo trabalho dos produtores, disseram as entidades. "Reafirmamos que o leite gaúcho mantém elevados padrões de qualidade, sustentados pela dedicação e compromisso dos produtores com os consumidores." A Gadolando e a Febrac disseram ainda ser "crucial" destacar que as adulterações não têm origem nas propriedades rurais ou nos produtores, que cuidam com zelo de suas vacas e de todo o processo produtivo. "Trata-se de ações isoladas e criminosas, que fogem completamente à regra. O leite produzido no Rio Grande do Sul é, por padrão, um alimento seguro, confiável e de altíssima qualidade. Ambas as entidades pedem também que a sociedade continue confiando no leite do Estado e em seus produtores, bem como nas marcas que priorizam a qualidade e a transparência, e destacam que esses casos de adulteração são pontuais e, felizmente, foram prontamente identificados pelas autoridades, resultando na prisão dos envolvidos. Segundo o jornal Zero Hora, trata-se da empresa Dielat Laticínios. Fontes: Broadcast Agro e Zero Hora. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.