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12/Dec/2024

Leite: importante ter uma visão detalhada de custos

A palavra "lucro" está sempre na boca dos produtores, frequentemente servindo como o principal ponto de discussão sobre eficiência e viabilidade nas atividades leiteiras. Embora o lucro tenha sua importância, é crucial entender que ele é apenas uma parte visível de um conjunto de fatores essenciais que precisam ser considerados. O conceito de ótimo econômico sugere que uma atividade pode alcançar um equilíbrio entre custos e benefícios, maximizando o retorno com os recursos disponíveis. Independentemente do capital ou do nível tecnológico, o produtor pode buscar uma rentabilidade sustentável ao alinhar os custos e a operação com sua capacidade. Assim, seja em uma pequena ou grande propriedade, ter uma visão detalhada dos custos permite que o produtor identifique oportunidades e desenvolva um sistema mais viável dentro de sua realidade.

Para entender se a atividade está realmente sendo viável, é fundamental examinar todos os custos que envolvem a produção de um litro de leite. Isso inclui não apenas os custos variáveis, como alimentação e cuidados com o rebanho, mas também os custos fixos, que podem abranger depreciações e a mão de obra, seja, familiar ou contratada. Além disso, é essencial considerar o custo de oportunidade, que reflete o que o produtor poderia ganhar se alocasse seus recursos de maneira diferente. Diferente de outros sistemas de produção, muitos produtores de leite enfrentam desafios em manter um controle detalhado sobre os custos da atividade. O retorno financeiro na produção leiteira tende a ser pequeno, e o preço pago pelo leite muitas vezes não é suficiente para cobrir todos os custos e o retorno do capital investido. Quem nunca ouviu: “Se eu fizer as contas, desisto da atividade”, o que muitas vezes parece uma brincadeira, mas reflete uma realidade.

Para muitos, a produção de leite vai além do lucro e se torna uma questão de identidade, tradição e orgulho familiar. Assim, muitos acabam tirando recursos de outras atividades para mantê-la, mesmo sabendo que a rentabilidade é limitada. No entanto, para as novas gerações, que observam a exaustão e a falta de retorno atrativo, essa realidade acaba afastando o interesse, fazendo com que a atividade muitas vezes não seja passada para os filhos. Assim, ao olhar além dos cálculos tradicionais de margem bruta ou líquida, que costumam ser vistos como indicadores de sucesso, é possível trazer à luz a realidade da atividade e seu rumo. Essa visão permite que a tomada de decisões em direção ao "ótimo econômico" se torne mais assertiva, prevenindo a chegada a um ponto crítico, em que a falta de consciência sobre a situação pode comprometer a continuidade da produção.

- Composição dos custos de um sistema de produção

A importância dos indicadores econômicos para avaliar a atividade agropecuária é fundamental, pois eles permitem um entendimento claro do desempenho a curto, médio e longo prazo. Com base nesses indicadores, os produtores podem identificar tendências, problemas e oportunidades, facilitando a tomada de decisões para a melhoria contínua. Os Custos Operacionais Efetivos (COE), ou Custos Variáveis, são as despesas mais visíveis e geralmente levadas em consideração pelos produtores, uma vez que estão diretamente ligados à atividade. Com duração igual ou inferior a um ciclo produtivo, esses custos são controlados pelo produtor e aumentam com a produção, mas podem ser evitados caso não haja produção. Eles incluem gastos com ração, impostos, combustível, serviços, sementes e produtos químicos, abrangendo todos os desembolsos financeiros necessários para iniciar, conduzir e concluir o ciclo produtivo.

Entretanto, é comum que os produtores levem em consideração apenas esses custos, utilizando-os para calcular a margem bruta (MB = Renda bruta - COE). Contudo, esse indicador apenas reflete a situação da atividade a curto prazo, pois cobre apenas os custos variáveis. Outro ponto a ser observado é a mistura de gastos pessoais ou de outras atividades da propriedade com os custos da atividade leiteira, o que pode distorcer a avaliação financeira. Por exemplo: é comum que produtores incluam despesas com farmácia, ração para cães ou ração de frangos e peixes como parte dos custos da atividade, resultando em uma visão distorcida da real situação financeira. A prática de rateio de custos, que envolve a distribuição de despesas comuns entre diferentes atividades, também pode ser aplicada de forma inadequada.

Custos de atividades não diretamente ligadas à produção de leite, como a energia elétrica utilizada na residência ou em outras atividades, a distribuição da água, e a gasolina do veículo, que pode ser usada tanto para fins pessoais quanto para a atividade leiteira, frequentemente não são considerados corretamente ou são superestimados. Por isso, é importante ter um controle claro das despesas e entender como cada gasto deve ser classificado. Os custos fixos incluem despesas que permanecem constantes, mesmo que o bem não esteja em uso, e não se alteram no curto prazo, independentemente do nível de produção. Exemplos comuns são as depreciações e a mão de obra familiar, também conhecida como pró-labore do administrador. Esses custos, juntamente com os Custos Operacionais Efetivos (COE), formam o Custo Operacional Total (COT). Frequentemente, os custos fixos são negligenciados ou mal distribuídos.

Além disso, eles não estão sob o controle direto do produtor, tornando a sua correta alocação ainda mais crucial para a avaliação financeira da propriedade. A depreciação é uma reserva contábil destinada a gerar os fundos necessários para a substituição de bens de produção de longa duração. Realizar um inventário correto é fundamental, pois, por meio dele, serão determinados os valores de depreciação de equipamentos, estruturas, instalações, implementos, maquinários e materiais. O rateio adequado dos itens é crucial para garantir uma distribuição precisa. É importante também considerar que certos animais, como os de serviço (cavalos) e reprodutores, são passíveis de depreciação e devem ser levados em conta nesse contexto. A mão de obra familiar deve ser considerada como um custo, pois o produtor precisa avaliar quanto receberia se terceirizasse as mesmas atividades que realiza para si. Essa reflexão é importante para que o produtor decida se é mais vantajoso permanecer como empresário ou se seria mais benéfico vender sua capacidade de trabalho e se tornar empregado.

O Custo de Oportunidade, embora não esteja incluído no Custo Operacional Total (COT), faz parte dos custos fixos. Refere-se a qualquer possibilidade de rentabilização de capital ou força de trabalho em outras atividades, em comparação à atividade em análise. Ao considerar a taxa de 6% como referência da poupança, é essencial incluir todos os bens do inventário, o que ajuda a ter uma visão mais clara da eficiência na utilização dos recursos na propriedade. Como discutido, diversos custos estão envolvidos na atividade leiteira, e a falta de uma visão completa sobre cada um deles pode comprometer a sustentabilidade do negócio. Sem essa compreensão integral, a avaliação real da atividade se torna prejudicada, levando muitos a operar no vermelho sem conseguir identificar as causas. Ao longo do tempo, esse desconhecimento pode resultar em um caminho financeiramente insustentável, dificultando a recuperação da viabilidade e a resiliência econômica do empreendimento.

- Indicadores econômicos na avaliação da atividade leiteira

Lidar com dados econômicos pode ser desafiador, e muitos produtores sobretudo os pequenos produtores, acabam se restringindo ao básico. No entanto, um caminho para ajudar a compreender melhor o que ocorre dentro do negócio é trabalhar com base em indicadores, sejam eles produtivos, reprodutivos ou econômicos. Esses indicadores proporcionam uma visão precisa sobre a rentabilidade e a sustentabilidade da atividade, destacando pontos críticos e oportunidades que orientam a tomada de decisões estratégicas. Para compreender como os custos influenciam os indicadores econômicos, é fundamental visualizar cada tipo de custo e seu papel na avaliação financeira. A margem bruta é frequentemente utilizada e é calculada como Margem Bruta (MB) = Renda Bruta (RB).

Custos Operacionais Efetivos (COE): é importante que a margem bruta não seja menor que zero, pois isso indicaria que os custos COE não estão sendo cobertos. Uma margem bruta igual a zero significa que apenas os COE estão sendo pagos, refletindo uma análise de curto prazo. Por outro lado, a margem líquida, que considera uma avaliação a médio prazo, é calculada como Margem Líquida (ML) = Renda Bruta (RB) - Custo Operacional Total (COT). Quando a ML é maior que zero, indica que o produtor pode se manter na atividade mesmo diante de problemas inesperados com equipamentos, por exemplo. E, por fim, o indicador de lucro, frequentemente discutido no contexto das atividades, representa a situação ideal, onde todos os custos estão cobertos e é garantida a atratividade mínima determinada pelo custo de oportunidade do capital.

Considerada uma medida a longo prazo, é calculada como Lucro (L) = Renda Bruta (RB) - Custo Total (CT). Um lucro igual ou superior a zero indica que todos os custos estão sendo atendidos e que a atividade consegue remunerar o capital investido. Além dos indicadores discutidos, a Taxa de Retorno do Capital Sem Terra (TRCST) e a Taxa de Retorno do Capital Com Terra (TRCCT) são fundamentais para avaliar a viabilidade da atividade. A TRCST considera apenas o capital investido, excluindo o valor da terra, e é útil para operações em terras arrendadas. Já a TRCCT incorpora o valor da terra no cálculo, proporcionando uma visão mais abrangente do retorno sobre o investimento. Considerando que o mínimo de 6% é o rendimento esperado de uma aplicação na poupança, se a atividade não alcançar essa taxa de retorno, ela pode ser considerada inviável.

Com base no discutido, são inúmeros os processos necessários para avaliar se a atividade é realmente viável. Será que todos os produtores, especialmente os pequenos, trabalham com pelo menos três desses indicadores econômicos? Será que todos conhecem os custos de sua atividade? Quantos, sem perceber, podem estar operando no vermelho há tanto tempo? A compreensão detalhada dos custos revela que a busca pelo ótimo econômico é, de fato, um desafio. A brincadeira de “se eu fizer as contas, eu saio da atividade” pode se tornar um ponto crítico para o abandono nas próximas gerações. Esse é apenas um dos fatores que contribuem para uma situação insustentável, onde a continuidade da atividade pode se tornar inviável, levando a um ciclo de exclusão que pode não ter volta. Fonte: MilkPoint.