06/Dec/2024
Após um período de dois anos de espera, a produção artesanal do queijo mineiro se tornou Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco. O queijo Minas, que já possui o selo brasileiro de patrimônio cultural, conquistou na quarta-feira (04/12) o reconhecimento internacional. Durante a 19ª Sessão do Comitê Intergovernamental da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, realizada em Assunção, capital do Paraguai, o tradicional 'jeitinho mineiro' de fazer queijo foi oficialmente reconhecido. Atualmente, Minas Gerais detém cerca de 62% dos bens culturais do País. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) destaca a importância da agricultura familiar e das comunidades rurais para o Brasil. O queijo não tem valor sem a parte humana, por isso, não é simplesmente o queijo minas que deve se tornar patrimônio, mas sim os modos de fazê-lo. O reconhecimento de patrimônio da humanidade abrirá portas para o aumento das discussões sobre diferentes formas de produção em um cenário marcado por mudanças climáticas.
Por trás da história do queijo minas, tem a história do Brasil e da agricultura familiar. Transformar esse produto em patrimônio aumenta a responsabilidade com a sua produção e com todos aqueles envolvidos neste processo. Para Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG), o reconhecimento mundial trará uma oportunidade de fortalecimento econômico e social para os produtores e suas comunidades. O queijo minas simboliza os modos de vida, o trabalho, o saber tradicional transmitido por gerações e a relação íntima dos mineiros com seu território. Ele reflete a história das comunidades nas montanhas e práticas sustentáveis de produção. A busca pelo reconhecimento foi iniciada pela Secult-MG e pelo Iphan, em parceria com associações de produtores e outras entidades. Na apresentação da candidatura, o Iphan defendeu que a produção de Queijo Minas Artesanal é uma tradição com mais de 300 anos, que utiliza técnicas ancestrais transmitidas há gerações e que preserva a memória e o modo de vida das comunidades.
Está associada também à valorização da agricultura familiar, inclusão social, harmonia com a natureza e cuidados com o bem-estar dos animais. A origem do Queijo Minas Artesanal está relacionada à descoberta do ouro na então Capitania das Minas Gerais, que viria a se tornar província em 1822, ano da Proclamação da Independência, e Estado em 1899, ano da Proclamação da República. O queijo artesanal é feito com leite cru, em pequenas propriedades rurais e com produção de leite própria. Maquinários industriais não são utilizados e a maturação deve ser feita naturalmente. É comum que os modos de produção do laticínio sejam transmitidos entre gerações. Elementos como o solo, o clima e a alimentação das vacas influenciam diretamente no sabor e na textura. O Estado tem cerca de 9 mil produtores do queijo minas artesanal que geram aproximadamente 50 mil empregos diretos e indiretos. A produção anual do queijo atinge cerca de 40 mil toneladas, com uma renda que ultrapassa R$ 2 bilhões por ano.
O Estado tem dez regiões produtoras de queijo minas artesanal reconhecidas: Araxá, Campo das Vertentes, Cerrado, Serra da Canastra, Serra do Salitre, Serro, Triângulo Mineiro, Serra do Ibitipoca, Diamantina e Entre Serras da Piedade e do Caraça. O reconhecimento deverá trazer dignidade ao produtor. Além do modo de fazer, é destaque a necessidade do cuidado com os animais, com as questões ambientais da fazenda e com a capacitação de colaboradores. A transformação do queijo em patrimônio representará também a valorização da cadeia produtiva e trará esperança de padronização e organização dos processos para o produto crescer ainda mais. Para o Sistema Faemg Senar, o reconhecimento da Unesco ressalta um produto que é a cara de Minas Gerais e tem valor histórico para a população. Para os produtores rurais é um ganho espetacular porque chancela o valor do produto atualmente. Resgata o valor de um produto que vem de gerações passadas e se mantém vivo. E eterniza a tradição de produzir o Queijo Minas Artesanal.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, celebrou a conquista: "Esse é um produto nosso, que representa nossa mineiridade e é muito importante, também, pois vai aumentar o turismo em Minas, contribuir para a renda de milhares de produtores familiares. A partir de agora, nós temos aqui em nosso estado um dos pouquíssimos alimentos do mundo declarados como patrimônio cultural e imaterial da humanidade, e o primeiro a ser declarado no Brasil", destacou. É a primeira vez que um modo de produção tradicional do Brasil passa a ter esse reconhecimento internacional. Os patrimônios da Unesco são divididos entre materiais (compostos por bens tangíveis) e imateriais, que estão ligados a tradições e costumes de determinada região. Segundo o Iphan, no Brasil, seis expressões culturais já são reconhecidas como patrimônio cultural imaterial pela Unesco: o samba de roda no recôncavo baiano; a arte kusiwa, o frevo, o círio de nossa senhora de Nazaré; a roda de capoeira e o complexo cultural do bumba meu boi. Fontes: Folha de São Paulo, Globo Rural e Agência Minas. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.