05/Dec/2024
A pecuária brasileira teve uma virada de mês cheia de acontecimentos. Enquanto a poeira levantada pelo episódio Carrefour começava a baixar, as notícias macroeconômicas levavam o dólar para seu recorde nominal e os fundamentos do mercado pecuário também fizeram com que o preço médio do boi gordo em São Paulo atingisse sua máxima nominal de R$ 352,65 por arroba na quarta-feira (27/11). Mas, no mercado futuro do boi (B3), outras forças levaram a uma forte e repentina queda. Na sexta-feira (29/11), os contratos com vencimento entre dezembro/2024 e outubro/2025 valiam cerca de 10% a menos que os ajustes da segunda-feira (25/11), coincidentemente, a maioria dos contratos abertos recuou linearmente, exatos 9,53% do começo para o final da semana.
No mercado físico, não se viu mudança de fundamento compatível com a guinada abrupta do futuro, mas as fortes quedas daquele segmento acabaram tendo o efeito de “estopim” para frigoríficos interromperem a escalada de preços que vinha sendo obtida por pecuaristas. Assustados com os valores menores no mercado futuro, os pecuaristas que estavam aguardando para vender acabaram colocando os lotes no spot, gerando alguma concentração da oferta e facilitando o alongamento das escalas nos preços mais baixos. Vale notar que as cotações da carne com osso no atacado de São Paulo, importante referência para a venda dos frigoríficos, seguem ilesas aos solavancos do boi gordo, mantendo-se firmes. A carcaça casada de boi passou da média de R$ 23,92 por Kg no dia 26 de novembro para R$ 24,06 por Kg agora.
Atacadistas relatam que, apesar de os preços estarem em patamar elevado, a demanda de varejistas que se preparam para atender ao consumo mais aquecido de dezembro tem dado vazão à quantidade ofertada pelos frigoríficos. No front externo, os dados de exportação mais recentes mostram que, nas quatro semanas de novembro, o volume embarcado esteve entre os maiores da série da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), e os preços, em dólar, se mantiveram firmes, num dos patamares mais altos. Para ajudar ainda mais o desempenho do segmento exportador, o dólar alcançou pela primeira vez o patamar (nominal) de R$ 6,00.
Corroborando a firmeza da demanda externa, os indicadores internacionais de preços da carne bovina elaborados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), após leve queda de agosto para setembro, voltaram a subir em outubro (dados mais recentes). O do FMI, que reflete o preço das importações feitas pelos Estados Unidos da Austrália e Nova Zelândia, estava em patamar 20% superior ao de outubro do ano passado; o da FAO, formado pelos valores de exportação dos Estados Unidos, da Austrália e da Brasil, havia subido 8%; o câmbio, 11%. As altas do boi gordo que se sucediam desde o começo do semestre vinham sendo alimentadas justamente pela forte demanda de frigoríficos interessados em abastecer o atacado/varejo nacional e pelo ritmo intenso de exportação.
A oferta de bovinos se mostrava continuamente baixa diante de tamanho apetite dos compradores. Nestes primeiros dias de dezembro, após a reviravolta do mercado futuro, mesmo sem mudanças no atacado da carne bovina, os frigoríficos estão pressionando e as cotações do boi gordo no mercado físico registram recuo. No entanto, sem ver mudança dos fundamentos, muitos pecuaristas estão afastados das negociações e ainda aguardam uma melhor definição. Na avaliação de muitos, a oferta atual de bovinos, seja de pasto ou de confinamento, não é muito diferente da que havia há uma semana. Mas, a postura dos compradores mudou bastante.
Ao invés de procurarem os vendedores, agora, é comum afirmarem que estão com escalas bem preenchidas, demonstram pouco interesse de compra e ofertam preços significativamente menores dia após dia. Alguns têm comunicado férias coletivas na segunda quinzena. O momento é claramente de ‘queda de braço’ entre pecuaristas e frigoríficos. Em São Paulo, os negócios efetivos estão principalmente entre R$ 330,00 e R$ 340,00 por arroba. O preço médio do boi gordo em São Paulo é de R$ 336,40 por arroba, queda de 4,4% nos últimos sete dias. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.