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28/Nov/2024

Carnes: questão do Carrefour terá desdobramentos

A crise vivida pelo Carrefour com a interrupção de fornecimento de carnes pelos frigoríficos brasileiros ainda deve ter desdobramentos para além do que se viu estancado com a carta de desculpas do CEO global da rede, Alexandre Bompard. A relação de longo prazo com fornecedores e com o público brasileiro deve ser, na visão de especialistas, uma prioridade da companhia no sentido de recuperar vínculos. Além disso, a crise ajudou a aquecer temas de relações internacionais no Congresso e no governo brasileiro. A história teve sua parte aguda resolvida na terça-feira (26/11), quando as entregas voltaram a ser feitas. As interrupções começaram na quinta-feira (21/11), quando a companhia também informou em fato relevante que constatou desabastecimento de alguns cortes de carnes nas lojas da bandeira Atacadão em algumas regiões. A empresa afirmou, no entanto, que até aquele momento, não havia impacto relevante nas operações de venda de mercadorias, dado o nível de estoque dos produtos.

Na visão de analistas de mercado, o impacto nas receitas da empresa, de fato, tende a não ser relevantes, pois a interrupção durou pouco tempo. Para a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), o impacto sobre o público consumidor das lojas é difícil de medir. Já que, ainda que se registre queda nas vendas, seria um desafio decifrar o motivo das oscilações. Já com fornecedores, passado o momento mais crítico, no qual a companhia fez um esforço mais direcionado de diálogo, os efeitos podem ser menores. As relações comerciais costumam ser menos institucionais e mais pessoais. Dizem respeito às pessoas que fazem esse trabalho no varejo e na indústria. No entanto, para a Caliber, é preciso lembrar que a crise afetou várias camadas de relações, passando pela relação diplomática da França e do Brasil, pela cadeia de fornecedores, a percepção dos clientes e dos próprios funcionários da rede no País.

Demonstrar vínculos com o país no qual atuam é algo importante para empresas de fora. É algo importante para a reputação. A crise foi desnecessária e parece ter partido de uma declaração que não levou em conta o contexto necessário. O pedido de desculpas e a resolução, que teve de envolver a embaixada francesa no Brasil junto ao governo brasileiro, foram feitos dentro do tempo necessário em um caso de tamanha complexidade, mas devem funcionar como um "band-aid", que não cura a ferida. A empresa vai precisar usar de toda a sua habilidade para reforçar laços com a sociedade brasileira e o caráter de longo prazo na relação com fornecedores. Bem como reafirmar a seus colabores seu compromisso com o Brasil. Na Câmara dos Deputados, o assunto serviu como gatilho para que o presidente Arthur Lira (PP-AL) colocasse na pauta do plenário na terça-feira um requerimento de urgência para o projeto de "reciprocidade ambiental".

O texto proíbe o Brasil de "participar, patrocinar, aceitar, propor, ser signatário, anuir, assinar, normatizar ou de qualquer forma vincular-se a compromissos, tratados, acordos, termos, memorandos, protocolos, contratos ou instrumentos internacionais nos âmbitos bilateral, regional ou multilateral que possam representar restrições às exportações brasileiras e ao livre comércio, quando os outros países ou blocos de países signatários não adotarem em seu marco legal e regulatório instrumentos equivalentes. O tema veio à tona na Câmara em meio a tratativas tidas como decisivas para o acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia (UE). E o Senado também aumentou a ofensiva contra a empresa e à França. Nesta quarta-feira (27/11), a Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal aprovou um requerimento da senadora Tereza Cristina (PP-MS) para convidar o embaixador da França em Brasília, Emmanuel Lenain, e o presidente do Carrefour Brasil, Stéphane Maquaire, para prestar explicações sobre o episódio.

A senadora criticou o pedido de retratação pública do CEO do Carrefour da França, chamando a resposta de pífia, protocolar e que não responde aos danos causados aos produtos brasileiros no exterior. Entidades do agronegócio também classificaram a retratação de Bompard de fraca. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que representa os produtores rurais, anunciou que vai entrar com ações contra o Carrefour e empresas francesas na União Europeia. A entidade estuda uma ação jurídica a ser liderada em Bruxelas para buscar o esclarecimento do caso. A CNA alega que as empresas francesas procuram mostrar uma imagem de que a carne exportada à Europa não atende aos padrões europeus. Por outro lado, entidades ligadas à indústria das carnes consideram o caso superado. As ações do Carrefour fecharam em alta de 3,28% no pregão de terça-feira (27/11), mas chegaram a alcançar uma valorização de 6,41%, após a retratação de Bompard. Mesmo em meio à crise, os papéis registraram alta de 1,05% na segunda-feira (25/11) e acumulam ganhos de 3,61% nesta semana, tentando recuperar as perdas acumuladas no ano, que já superam 44%. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.