25/Nov/2024
Entidades do agronegócio e da indústria assinaram nota conjunta em resposta às declarações do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, que disse que a rede não compraria mais carnes do Mercosul para abastecer suas lojas na França. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a Sociedade Rural Brasileira (SRB) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) repudiaram as declarações, reafirmando o compromisso das empresas de alimentos e dos produtores rurais com a produção sustentável e com a segurança alimentar. A seguir a íntegra da nota de repúdio do agronegócio do Brasil para o Grupo Carrefour:
“Em resposta às alegações do CEO Global da rede de supermercados Carrefour, Alexandre Bompard, as entidades abaixo assinadas manifestam o repúdio aos ataques proferidos contra a produção agropecuária no Mercosul. A produção de proteína do bloco econômico sul-americano chega a todos os países do mundo, incluindo os mercados mais exigentes, entre eles as maiores economias mundiais, como Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, China e Japão. Periodicamente as empresas são auditadas e certificadas por centenas de missões sanitárias internacionais e também por clientes que confirmam a segurança de alimentos do que vai para cada destino. Entre as certificações obtidas por empresas do Mercosul destacam-se as do BRC (British Retail Consortium), principal referência global em qualidade quando o assunto é produção de proteína. O bloco é líder mundial em exportação de carne de frango e bovina e está entre os principais na suína. Foram necessárias décadas para que o Mercosul por inteiro avançasse em sua reputação internacional como produtor de carnes. Com responsabilidade, o setor na região foi o principal fornecedor para todos os mercados durante a maior crise global de saúde pública neste século, a pandemia do coronavírus em 2020 e 2021. Tudo isso demonstra a excelência da produção na região, num comprometimento que as entidades e associações que representam os 29 milhões de trabalhadores no agronegócio no Brasil reforçam dia a dia com a segurança alimentar e a qualidade do que chega aos consumidores em todo o mundo. Portanto, se o CEO Global do Grupo Carrefour, Alexandre Bompard, entende que o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês, que não é diferente do espanhol, belga, árabe, turco, italiano, as entidades abaixo assinadas consideram que, se não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país. Reafirmamos o compromisso do setor com a produção responsável, sustentável e com a segurança alimentar. Brasília, 21 de novembro de 2024.”
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, endossou o posicionamento de entidades do setor produtivo e da indústria brasileira de carnes de sugerir o não fornecimento de carnes ao Carrefour também no Brasil, após a suspensão da compra de proteínas do Mercosul pelas unidades francesas do grupo. Surpreende a presidência no Brasil dizer que vai continuar comprando porque sabe que tem boa procedência. Quem não quer comprar é a matriz na França. Ora, se não serve ao francês, não vai servir aos brasileiros. Então, que não se forneça carne nem para o mercado desta marca no Brasil, afirmou Fávaro. O ministro afirmou que não se trata de um boicote ao grupo, mas que o Brasil tem de ter soberania. É um absurdo a empresa dizer que quem não quer comprar é a matriz e que, no Brasil, a carne dos produtores brasileiros serve para o Carrefour, criticou Fávaro.
O ministro afirmou apoiar a posição da indústria brasileira de não fornecer também à marca no Brasil. Uma atitude que mostra a soberania e o respeito à legislação brasileira, acrescentou Fávaro. O ministro disse, ainda, que custa acreditar que está ocorrendo uma ação orquestrada por parte das empresas francesas, mas que também não acredita em coincidências, citando um caso semelhante envolvendo o fornecimento de soja à francesa Danone no fim de outubro. O Brasil não se nega a discutir sustentabilidade em nenhum lugar do mundo. O País tem compromisso com meio ambiente, rastreabilidade, e com todos os princípios ESG e não aceitará esse ataque à soberania. Por fim, o ministro disse crer que as empresas francesas "vão repensar o que estão falando da produção brasileira".
A Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat) criticou o que considera uma prática desleal de países europeus, em especial da França, ao impor barreiras para produtos brasileiros. A entidade manifestou apoio ao Projeto de Lei 2088/2023, do senador Zequinha Marinho (Podemos-PA), que exige padrões ambientais compatíveis aos do Brasil para importações. A manifestação se dá após o Carrefour França decidir deixar de comprar carne dos países do Mercosul. Para a entidade, a Lei Antidesmatamento da União Europeia é uma tentativa de reduzir a capacidade produtiva do País por meio de exigências que ultrapassam o rigor do Código Florestal brasileiro.
A Acrimat também apontou o que considera hipocrisia nas ações de empresas francesas como Danone e Carrefour, que adotam medidas diferentes em suas matrizes e filiais no Brasil. Além do apoio ao PL 2088/2023, a Acrimat sugeriu a possibilidade de suspender o fornecimento de animais para frigoríficos que exportam para empresas consideradas desleais. A associação também incentivou os brasileiros a reavaliarem o consumo de produtos franceses, incluindo alimentos, automóveis e aeronaves. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) se posicionou contra a decisão do Carrefour na Franca, de interromper a compra de carnes de países do Mercosul e classificou a medida como "injustificada" e um "desserviço aos produtores do bloco". A entidade manifestou sua indignação e preocupação com os efeitos que a decisão pode acarretar para a relação comercial dos países envolvidos.
A CNI também defende a qualidade dos produtores do bloco e reforça a posição de liderança mundial na exportação de carne de frango e bovina que eles ocupam. São inquestionáveis, portanto, a qualidade e o nível de excelência dos produtos produzidos pelo bloco, e injustificável a argumentação de que não respeitam critérios e normas do mercado francês. A decisão, caso mantida, poderá estimular o crescimento de ações protecionistas nas relações bilaterais. A CNI espera que a direção do Carrefour reavalie a decisão. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.