ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

25/Nov/2024

Reações contra decisão do Carrefour sobre carnes

Lideranças do agronegócio estão indignadas com a decisão do Carrefour de boicotar a carne do Mercosul. Parlamentares do setor já começaram a planejar uma retaliação. O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), diretor de Política Agrícola e ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), vocaliza essa insatisfação. Ele vai apresentar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um requerimento para instalar uma comissão externa da Casa com o objetivo de "colocar o dedo na ferida" da empresa. Na justificativa para criar a comissão, Moreira diz que é preciso avaliar a conduta e as denúncias contra o Carrefour no Brasil. O deputado afirma que há antecedentes "graves" da rede de supermercados francesa no País ligados a violações raciais, ambientais e trabalhistas. "É uma atitude absolutamente irresponsável, falaciosa e discriminatória, em uma clara afronta protecionista ao setor agropecuário brasileiro", disparou Moreira, ao comentar fala do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, sobre a decisão do Carrefour de deixar de vender carnes dos países que fazem parte do Mercosul.

Segundo o deputado, as declarações do empresário são lamentáveis e ferem os princípios do diálogo e da cooperação internacional. Alceu Moreira argumenta que o Brasil tem uma das legislações mais rigorosas do mundo no que diz respeito ao controle ambiental e ao desenvolvimento sustentável. Esses padrões certificam a qualidade dos produtos. Além disso, causa estranheza a despreocupação do Sr. Bompard com as operações da empresa no Brasil, já que 80% do abastecimento interno é realizado por fornecedores brasileiros. A reação do parlamentar ocorre após Bompard ter divulgado, no dia 20 de novembro, comunicado nas suas redes sociais no qual afirma que a varejista se comprometeu a não vender carnes do Mercosul, independentemente dos preços e quantidades de carne que esses países possam oferecer. A carta assinada por Bompard foi endereçada ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA) e, segundo ele, a decisão foi tomada após ouvir o "desânimo e a raiva" dos agricultores franceses, que protestam contra a proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul.

Em nota divulgada no dia 21 de novembro, o Carrefour afirmou que o veto à venda de carnes do Mercosul só vale para supermercados da rede na França. Em nenhum momento ela se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise, afirma a empresa. O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil -MT), defendeu um boicote ao Carrefour e ao Atacadão, após a rede francesa suspender a compra de carne do Mercosul pelas unidades francesas. Mendes classificou a medida como um artifício protecionista para os produtores franceses. O governador defendeu o princípio da reciprocidade na relação com o grupo francês. Mendes criticou, ainda, a postura da França, chamando de "discurso ambientalista hipócrita", pois quer usar o meio ambiente para criar barreiras contra o agronegócio do Brasil e de outros países da América do Sul. Mato Grosso é o maior produtor mundial de carne bovina, preservando mais de 60% do seu território.

A senadora e ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina (PP-MS), quer explicações do embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, sobre os boicotes de gigantes companhias francesas ao agronegócio brasileiro. Tereza Cristina afirmou que vai chamar Lenain para audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado, da qual ela é titular. Ela quer que o embaixador explique a objeção da França ao acordo entre Mercosul e União Europeia e a ameaça de boicote à carne do Brasil e do Mercosul pelo Carrefour francês. Segundo a senadora, não há qualquer razão real, a não ser o protecionismo francês a seus produtos, que recebem altos subsídios, para essas medidas injustas, que merecem mais do que indignação, merecem resposta recíproca. Tereza Cristina, que é coordenadora política da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Senado, prevê também acelerar o projeto de lei da reciprocidade ambiental, do qual é relatora. O projeto se opõe à lei anti desmatamento da União Europeia.

A lei é mais rigorosa que o Código Florestal Brasileiro, já que não distingue desmatamento legal e ilegal, enquanto a normativa nacional permite determinados níveis de desmatamento conforme o bioma. Segundo a senadora, a União Europeia ignora que os produtores rurais seguem o exigente Código Florestal brasileiro e cumprem o desmatamento ilegal zero. O País já produz de forma altamente sustentável, com altíssimo padrão sanitário, que é fiscalizado pelos importadores, e, no caso de boa parte dos frigoríficos exportadores, com rastreabilidade dos produtos. O projeto é uma das prioridades da bancada do agro para esse último trimestre. O projeto exige os mesmos critérios de redução de emissão de carbono exigidos do Brasil para exportação para importação de produtos. O foco é a União Europeia. O tema será alvo de uma segunda audiência pública na primeira semana de dezembro.

Para a senadora, parece que os europeus são incapazes de competir e optaram por levantar barreiras comerciais inexistentes na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as exportações brasileiras. Então, o Brasil poderá aplicar a cláusula espelho para as exportações da União Europeia aqui, embarques sobretudo vindos da indústria europeia. A ex-ministra repudia os questionamentos do bloco sobre o controle sanitário do Brasil, além das reiteradas divergências quanto à lei antidesmatamento, que deve entrar em vigor em 30 de dezembro de 2025. A nova lei ambiental europeia preocupa o setor produtivo brasileiro, que teme interrupções no fluxo comercial. Em 2023, o Brasil exportou US$ 21,6 bilhões em produtos agropecuários para a União Europeia, sendo US$ 15 bilhões em produtos das sete cadeias afetadas pela nova legislação (soja, bovina, cacau, café, madeira, palma e borracha). Para entidades do agronegócio brasileiro, a lei é arbitrária e transgride a soberania nacional. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.