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22/Nov/2024

Carrefour França não venderá carnes do Mercosul

O CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, divulgou um comunicado nas suas redes sociais, na quarta-feira (20/11), no qual afirma que a varejista se compromete a não vender carnes do Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, independentemente dos “preços e quantidades de carne” que esses países possam oferecer. Assinada por Bompard, a carta é endereçada a Arnaud Rousseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA). O CEO afirmou que a decisão foi tomada após ouvir o “desânimo e a raiva” dos agricultores franceses, que protestam contra a proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Os atos, organizados pela FNSEA e pelos Jovens Agricultores (JA), começaram no dia 18 de novembro, com bloqueios de rodovias e fogo em objetos. Os grupos pedem que o presidente francês, Emmanuel Macron, anuncie que vai utilizar o veto da França se o projeto for aprovado. Na última semana, o primeiro-ministro francês, Michel Barnier, disse que o país não deve aceitar o acordo se o texto se mantiver como atualmente proposto.

No comunicado divulgado nas redes sociais, Bompard afirmou que o acordo traria o risco de a produção de carne que não cumpre com seus requisitos e padrões se espalhar pelo mercado francês. Ele também destacou que espera que a decisão do Carrefour influencie outras empresas do setor agroalimentar, especialmente do mercado de catering (no qual uma organização prepara os alimentos em um espaço seguro e depois leva para o local onde será servido) que, de acordo com Bompard, é responsável por mais de 30% do consumo de carne na França. Procurado, o Grupo Carrefour Brasil afirmou que nada muda nas operações no País. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) rechaçou, em nota, as declarações do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, quanto às carnes produzidas pelos países do Mercosul. "O Mapa lamenta tal postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações". A reação do governo brasileiro ocorre após Bompard ter divulgado comunicado nas suas redes sociais, no qual afirma que a varejista se compromete a não vender carnes do Mercosul.

O Ministério da Agricultura disse que seu posicionamento é de não acreditar em movimento orquestrado por parte de empresas francesas para dificultar a formalização do acordo entre Mercosul e União Europeia. "O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros. Mais uma vez, o Mapa reitera o compromisso da agropecuária brasileira com a qualidade, sanidade e sustentabilidade dos alimentos produzidos no Brasil para contribuir com a segurança alimentar e nutricional de todo o mundo", defendeu o ministério. A Pasta citou, ainda, o rigor do sistema de defesa agropecuária nacional e o Código Florestal Brasileiro. O que garante ao País o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo, mantendo relações comerciais com aproximadamente 160 países, atendendo aos padrões mais rigorosos, inclusive para a União Europeia que compra e atesta, por meio de suas autoridades sanitárias, a qualidade e sanidade das carnes produzidas no Brasil há mais de 40 anos.

Foi mencionado também os modelos de rastreabilidade do setor privado adotados para o mercado europeu. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou ter ficado "indignado" com o posicionamento dos franceses. O ministro citou a declaração dada pelo diretor financeiro da Danone, Jurgen Esser, veiculada pela agência de notícias Reuters, que a empresa parou de comprar soja do Brasil e agora adquire o produto de países da Ásia como antecipação à lei antidesmatamento da União Europeia. Diante desse episódio recente, o ministro afirmou que "não faz sentido achar que é coincidência". Na avaliação de Fávaro, a declaração do CEO do Carrefour aponta "de forma inverídica" as condições de produção brasileira. De forma a ferir a soberania brasileira, desrespeitando a produção do País, que é sustentável. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) classifica como “infeliz” e “infundada” o comunicado publicado do CEO do Carrefour que se utiliza de argumentos equivocados ao dizer que as carnes produzidas pelos países-membros do Mercosul não respeitam os critérios e normas do mercado francês.

A argumentação é claramente utilizada para fins protecionistas, ressonando uma visão errônea de produtores locais contra o necessário equilíbrio de oferta de produtos de seu próprio mercado, o que se faz por meio da complementaridade, com produtos de alta qualidade e que atendam a todos os critérios determinados pelas autoridades sanitárias dos países importadores, como é o caso da proteína brasileira. A ABPA afirmou ainda que o posicionamento do CEO do Carrefour foge à lógica de uma organização global e que o protecionismo é uma atitude de desrespeito aos princípios de sustentabilidade. Ao impulsionar o bloqueio injustificado à produtos provenientes de regiões com melhor capacidade de produção com respeito às questões ambientais, o Carrefour coloca os consumidores de suas lojas em uma lógica de consumo com mais emissões e sob maior pressão inflacionária e menor acesso às classes menos favorecidas. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) disse não ver motivos razoáveis para a decisão de não comprar carnes produzidas no Mercosul.

A entidade pede sejam rechaçadas as suspeitas infundadas sobre a carne brasileira e dos demais países do bloco. A Apex ressaltou estranheza com tal movimento por parte da gigante do varejo francês, em meio a pressões protecionistas em seu país, no momento em que Mercosul e União Europeia estão próximos de fechar o ambicionado acordo que formará o maior mercado do planeta, beneficiando enormemente as populações dos países signatários. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) lamentou a declaração do CEO do Carrefour. Tal posicionamento vai contra os princípios do livre mercado e é contraditório, vindo de uma empresa que opera cerca de 1.200 lojas no Brasil, abastecidas majoritariamente com carnes brasileiras, reconhecidas mundialmente por qualidade e segurança. Ao adotar um discurso protecionista em defesa dos produtores franceses, o Carrefour fragiliza seu próprio negócio e expõe o mercado europeu a riscos de abastecimento, já que a produção local não supre a demanda interna.

O Brasil é líder global em exportação de carne bovina, com o maior rebanho comercial do mundo, produção sustentável e rigorosos controles sanitários que garantem qualidade para mais de 160 países. Nos últimos 30 anos, a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172%, reduzindo a área de pastagem em 16%, demonstrando compromisso com eficiência e sustentabilidade. A Abiec destacou que a visão protecionista do CEO do Carrefour coloca em risco a estabilidade de um mercado global interdependente. Em 2023, o Brasil respondeu por 27% das importações de carne bovina da União Europeia fora do bloco, enquanto o Mercosul, somado, alcançou mais de 55%. Essa parceria, que há décadas atende aos padrões europeus, reafirma o potencial de cooperação entre as nações. Decisões como essa não prejudicam apenas o Brasil, mas também a França, que depende de diversas commodities brasileiras. Em um mundo de desafios crescentes para a segurança alimentar global, o diálogo e a cooperação são mais urgentes do que nunca, conclui a Abiec.

A Federação das Associações Rurais do Mercosul (Farm) repudiou, em nota divulgada nesta quinta-feira (21/11), a decisão anunciada pelo CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, de suspender a compra de carnes do Mercosul. Essa atitude arbitrária, protecionista e equivocada, prejudica o bloco e ignora os padrões de sustentabilidade, qualidade e conformidade que caracterizam a produção agropecuária nos seus países membros. A federação é composta por entidades que representam produtores rurais da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai. A entidade avalia que a posição do CEO do Carrefour ultrapassou os "limites aceitáveis". Embora decisões comerciais sejam de competência interna das empresas, a postura pública do CEO do Carrefour, ao transformar uma política de compras em palco para questionamentos infundados, ultrapassa os limites aceitáveis. Não se trata de uma decisão isolada, mas de um ataque direto à credibilidade e à contribuição do setor agropecuário do Mercosul para a segurança alimentar mundial.

Os países do Mercosul produziram 38 milhões de toneladas de carnes em 2023, exportando 11 milhões de toneladas. A região é a principal fornecedora de proteína animal do mundo para mais de 160 países. Os produtores rurais da Farm não aceitarão ataques injustificados e se reservam o direito de reagir de maneira firme, seja por vias econômicas ou institucionais, para proteger a imagem e os interesses do setor agropecuário de seus países. A Farm destacou ainda que a carne proveniente do bloco é produzida sob rigorosos padrões socioambientais e sanitários, conforme as exigências das normas internacionais. A decisão do Carrefour ataca injustamente a reputação de milhares de produtores rurais comprometidos com a segurança alimentar e a preservação ambiental. A Farm reafirmou o compromisso com a sustentabilidade e a produção responsável, pilares do agronegócio da região e espera que o Carrefour reveja sua posição e adote uma postura condizente com os princípios de diálogo e respeito que deveriam nortear as relações comerciais globais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.