19/Nov/2024
O mercado pecuário está realmente aquecido. Os preços de todas as categorias (boi, fêmeas e reposição) não param de subir há cerca de três meses. A exportação bateu recorde em setembro, que foi superado em outubro, e o preço da carne em novembro já está acima dos meses anteriores, o que estimula a continuidade de exportações volumosas. No mercado interno, indicadores macroeconômicos mostram que o consumo dos brasileiros também se mantém firme, mesmo com os preços em patamar elevado. Em São Paulo, no atacado, o preço da carne com osso é o maior em 3,5 anos. Só na parcial deste mês, dados mostram que a carcaça casada de boi se valoriza quase 7%, negociada à média de R$ 23,43 por Kg à vista. A carne de vaca/novilha tem alta ainda maior, passando dos 8% na parcial de novembro, a R$ 22,29 por Kg à vista. Confirmando a dinâmica acelerada do setor, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados no dia 13 de novembro, revelam que o abate de bovinos tem crescido.
Em julho, agosto e setembro, a produção de carne bovina aumentou 6,3% sobre o trimestre anterior e 14,3% no comparativo com o mesmo período do ano passado. Em relação ao número de bovinos abatidos, o aumento no terceiro trimestre foi de 3,7% em relação a abril, maio e junho. Considerando-se abatedouros com inspeção municipal, estadual e federal, foram abatidas 10,33 milhões de cabeças em julho, agosto e setembro, contra 9,96 milhões no segundo trimestre de 2024. Essa forte dinâmica da pecuária nacional reflete o momento do ciclo de produção mundial e as circunstâncias de demanda mundo afora. Os aumentos de preços da carne bovina são globais, e os produtores brasileiros estão respondendo adequadamente, com incrementos de produção, investindo em produtividade e preparando-se para uma possível reversão de ciclo num horizonte não muito distante. A demanda aquecida por carne tanto para o mercado interno (varejistas começam a formar estoques para atender ao consumo em dezembro) quanto para exportação, motiva frigoríficos a seguirem firme na compra de bovinos para abate.
Tradicionalmente, essas empresas fazem contratos com confinadores para atender suas escalas de abate neste período do ano, de entressafra, mas o volume contratado tem se mostrado pequeno diante da demanda. Desde agosto, os frigoríficos têm entrado firme nas compras de balcão (spot) para complementar os lotes que já tinham contratado. Atualmente, o preço médio do boi gordo no estado de São Paulo, é de R$ 339,60 por arroba, alta de 6,6% no mês e de expressivos 46% desde o começo de agosto, o equivalente a quase R$ 107,00 a mais por arroba. Parte dos negócios, no entanto, já sai acima desta média, e novos aumentos são registrados diariamente em praticamente todas as regiões do Brasil. Mesmo com pastagens debilitadas pela seca intensa deste ano, os pecuaristas agilizaram suas produções, em sistemas de confinamento intensivo e semi-intensivo, e conseguiram ofertar em julho, agosto e setembro 370 mil animais a mais que no trimestre anterior e com peso médio também maior, típico de confinamentos.
A evidência do ritmo forte do setor vem dos números mais recentes da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Em outubro, frigoríficos conseguiram exportar 42% a mais que no mesmo mês do ano passado e 5% a mais que em setembro (carne in natura e processada). Foi o maior volume mensal já registrado, acima dos recordes registrados neste ano. No comparativo anual, o volume nos 10 primeiros meses de 2024 é 29% maior, totalizando 2,397 milhões de toneladas. Com a venda de todo esse volume (in natura e processada), na parcial do ano, exportadores receberam mais de US$ 10,5 bilhões, aumento de 22,6% sobre o do mesmo período de 2023. Ao se colocar o efeito do câmbio na conta, afinal, exportadores brasileiros recebem em Real, aí o crescimento da receita (em Reais) chega a 29%, exatamente o mesmo crescimento obtido em volume e, portanto, estabilidade dos preços médios em moeda nacional. Em outubro, a receita total, em dólar, superou em quase 45% a de um ano atrás e em 8,5% a de setembro.
Em Real, os aumentos chegam às marcas de 47% e de 20% respectivamente. No agregado dos 10 primeiros meses, a carne in natura representou 91% da receita, o equivalente a US$ 9,5 bilhões, alta de 24% frente ao mesmo período do ano anterior. Só de setembro para outubro, o crescimento foi de 11%; e, frente a outubro do ano passado, de expressivos 47%. Com o efeito do câmbio, os aumentos sobem para 12% e 63%, nesta ordem. Em valores absolutos, em outubro, exportadores receberam US$ 1,26 bilhão pela carne in natura; em moeda nacional, o valor supera os R$ 7 bilhões. O preço de exportação em Reais no último mês foi 12,4% maior que o de outubro/2023 e 4,7% superior ao de setembro/2024. O principal destino da carne bovina in natura é a China. Metade de toda a exportação brasileira de carne bovina vai para este cliente, que responde também por metade da receita obtida pelos exportadores brasileiros.
Na parcial do ano (janeiro a outubro), os chineses pagaram US$ 4,8 bilhões pela aquisição de 1,086 milhão de toneladas da carne brasileira, volume 12% acima do demandado no mesmo período de 2023. A média do período em dólar pago pelos chineses caiu 9%, mas o preço de outubro/2024, comparado ao de setembro/2024, aponta alta de 4%, mostrando a valorização recente da carne brasileira. O setor também pôde contar com o crescimento dos envios para os Estados Unidos, que compraram mais que o dobro do ano passado. Com isso, o país elevou sua participação no valor das exportações de carne in natura de 4% em 2023 (janeiro-outubro) para 7,2% em 2024. Chama a atenção, ainda, o forte crescimento dos embarques para os países árabes, em especial Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Turquia e Filipinas também têm comprado bem mais. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.