14/Nov/2024
No Brasil, a taxa de câmbio tem operado em patamares elevados. Considerando os dados parciais de novembro, o mês apresenta a maior média mensal de toda a série. A depreciação do Real frente ao dólar traz diversos reflexos para a economia brasileira, afetando tanto de forma positiva (para alguns) quanto negativa (para a maioria). Refletindo sobre os reflexos na cadeia láctea, é possível observar alguns agentes do mercado “comemorando” essa alta do dólar, sob a hipótese de que a piora na taxa de câmbio pode frear as importações de lácteos e beneficiar o setor. Mas, será que isso é realmente verdade? De fato, o câmbio elevado pode impactar o setor lácteo.
É inegável que o aumento do câmbio tende a desestimular importações, afinal, o preço base é em dólar, e a taxa de câmbio funciona como um fator multiplicador dessa relação. No entanto, o câmbio por si só não é o único determinante nas importações. É essencial considerar também o valor do próprio produto em dólar e, principalmente, a relação de preço entre o produto importado e o nacional. Não há uma correlação clara entre taxa de câmbio média mensal em relação ao volume de importações de lácteos em litros de equivalente-leite. De janeiro/2015 a outubro/2024, percebe uma correlação de 20% (muito pequena e positiva). Ou seja, não há uma correlação direta entre os indicadores. Outra hipótese positiva da alta do câmbio é o estímulo às exportações.
Em teoria, um câmbio elevado torna o produto brasileiro mais barato e, portanto, mais atraente para compradores internacionais. No entanto, assim como nas importações, o câmbio por si só não garante competitividade. Considerando o preço do leite em pó integral praticado no Mercosul, cerca de US$ 4.100,00 por tonelada, o valor máximo que poderia ser pago pelo litro de leite cru no Brasil para viabilizar exportações seria aproximadamente R$ 2,47 por litro, valor bem abaixo do preço atual de mercado. Isso indica que, mesmo com o câmbio elevado, a competitividade brasileira para exportação ainda é limitada. Olhando os efeitos negativos, o aumento do câmbio traz uma série de desafios importantes para o setor lácteo:
- Custos de Produção: a alta do dólar afeta diretamente os custos de produção, uma vez que muitos insumos e recursos são cotados em dólar, além de diversos outros impactos indiretos. Esse cenário pode gerar dificuldades para produtores e indústrias, elevando os custos ao longo de toda a cadeia.
- Inflação e piora do poder de compra: se o custo de produção aumenta, essa alta também chega ao consumidor final. Mas, mesmo em um cenário hipotético (e bastante otimista), se o preço dos lácteos se mantiverem estáveis mesmo assim a piora do câmbio prejudicaria o consumo da categoria. A desvalorização do real frente ao dólar contribui para a inflação, elevando os preços de produtos e serviços em geral. Como resultado, o poder de compra das famílias diminui, o que pode levar à redução do consumo de lácteos. Essa situação impacta diretamente a cadeia produtiva, forçando tanto a indústria quanto os produtores a ajustarem preços e margens para tentar manter o volume de vendas.
- Desafios generalizados para economia: além dos impactos diretos sobre o setor lácteo, a alta do dólar afeta a economia brasileira como um todo. A depreciação do Real pode aumentar o custo da dívida pública, reduzir investimentos externos e agravar o cenário de incerteza econômica. Com menos estabilidade, tanto o ambiente de negócios quanto o acesso a financiamentos e crédito ficam prejudicados, afetando o planejamento e o crescimento de empresas de todos os portes, incluindo fazendas e indústrias do setor lácteo.
Embora alguns possam enxergar pontos pontuais positivos da alta do dólar para o setor lácteo, como a redução nas importações e uma maior possibilidade de competitividade para exportações, é preciso avaliar o cenário de forma ampla. Os aumentos nos custos de produção, a inflação e as dificuldades econômicas são somente alguns dos fatores que prejudicam a cadeia láctea como um todo, desde o produtor até a indústria e o varejo. O ideal é que o leite brasileiro seja competitivo e que conquiste espaço no mercado internacional via exportações. No entanto, esse objetivo deve ser alcançado por meio de melhorias na eficiência e produtividade, e não devido à depreciação do Real. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.