13/Nov/2024
Para o setor lácteo, 2024 foi um ano atípico. Diante de adversidades climáticas que foram desde enchentes até secas severas, e os comportamentos de mercado que tentaram fugir de qualquer previsão, o ano de 2024 está sendo cheio de surpresas. E apesar de restarem apenas 50 dias para o ano acabar: as surpresas podem ainda não ter acabado. Para fazer uma breve retrospectiva e entender quais os principais fatores que afetaram o mercado lácteo e devem continuar afetando no restante de 2024, serão analisados dois principais aspectos: a produção de leite e sua sazonalidade, e os preços ao consumidor final. O primeiro aspecto que precisa ser esclarecido é a sazonalidade brasileira, que possui comportamentos diferentes nas diferentes regiões do Brasil.
Quando se analisa a sazonalidade da Região Sul do País, o período de safra do leite, ou seja, aquele de maior produção, geralmente ocorre entre os meses de agosto e setembro, com a safra de leite das Regiões Sudeste e Centro-Oeste ocorrendo depois, geralmente entre os meses de novembro e janeiro. Dessa forma, ao analisar a produção de leite neste ano, observa-se que, principalmente em decorrência de adversidades climáticas (nesse caso, as enchentes que atingiram a Região Sul do País em maio deste ano), a safra da Região Sul provavelmente apresentou picos menores de produção, sendo possível analisar através do crescimento sutil na captação formal de leite do 2º trimestre deste ano, de apenas 0,8%, crescimento que, ao desconsiderar o Rio Grande do Sul da base de dados, seria de 2,2%, deixando claro, portanto, o impacto dos acontecimentos do Sul na produção de leite nacional.
No entanto, quando se fala de adversidades climáticas, é preciso pontuar que também houve um certo comprometimento na produção de leite nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste devido à falta de chuvas de forma anormal, com seca prolongada e diversos episódios de queimadas, causando um “atraso” no início da recuperação da produção de leite nessas regiões. Nesse cenário, percebe-se uma certa expectativa de alguns agentes do setor para um aumento mais forte da produção de leite nessas regiões a partir do início tardio das chuvas, o que geraria um crescimento expressivo na produção de leite nos meses subsequentes ao início das chuvas. Analisado as expectativas para produção em Estados da Região Centro-Norte, como Minas Gerais, Goiás e São Paulo, o cenário realmente é mais positivo para uma aceleração da produção nesta reta final do ano.
Por outro lado, é importante ponderar que a produção na Região Sul (que atualmente é a maior região produtora do País) já inicia o seu processo de diminuição sazonal neste período, limitando crescimentos mais expressivos da oferta de leite no total do Brasil nesses meses restantes de 2024. Mas, se a oferta não está em um crescimento acentuado, por que os preços apresentam tendência de queda? A resposta para este questionamento está principalmente influenciada pelo lado da demanda. Os comportamentos dos preços no setor lácteo também estão ocorrendo de forma atípica neste ano. Quando se analisa os preços ao consumidor final, pode-se observar o período do ano em que geralmente esses preços já estão recuando, mas em 2024 eles ainda apresentam crescimento.
No entanto, no mês de outubro, os consumidores demonstraram que os preços dos lácteos no varejo atingiram níveis próximos ao seu limite dentro do poder de compra dos brasileiros, gerando uma diminuição na demanda e um menor ritmo de vendas dos derivados, aumentando assim os estoques das indústrias e diminuindo aquela procura aquecida pelo leite cru. Em resumo, os últimos meses de 2024 devem ser marcados por um crescimento da oferta de leite no mercado, puxados pela recuperação da produção de leite nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste. Porém, com a diminuição da produção na Região Sul tendendo a limitar essas altas, fazendo com que o crescimento no período possa ser menor do que o esperado. Além disso, os consumidores devem seguir buscando por preços mais baixos nos supermercados após as altas recentes, fazendo com que a pressão dos compradores por correções de preços continue ocorrendo. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.