08/Nov/2024
Importadores chineses de carne bovina dão os primeiros passos na direção de adotar protocolos socioambientais na aquisição da proteína animal. Para tanto, convidaram o Imaflora, organização não governamental (ONG) que atua em questões ligadas ao meio ambiente, a populações tradicionais, indígenas e agricultores familiares, a apresentar o protocolo "Boi na Linha" durante a 15ª China International Meat Conference, que começou nesta quinta-feira (07/11) em Xangai. O evento, a principal feira de importadores do gigante asiático, será realizado em parceria com a BellaTerra, consultoria sediada na China com foco em soluções para a cadeia de suprimentos global. O Imaflora apresentará o protocolo nesta sexta-feira (08/11), durante o workshop "Beef on Track in China". O interesse dos importadores chineses de carnes foi despertado ainda no meio do ano, durante a participação do Imaflora na Sial China, feira de alimentos realizada em maio também em Xangai.
No Brasil, o Boi na Linha, adotado por vários frigoríficos na Amazônia, garante que o bovino não provém de fazendas com pendências socioambientais, como desmatamento ilegal, trabalho análogo à escravidão, ou criado ilegalmente em terras indígenas. Para os chineses é relevante o fato de o Boi na Linha ser um protocolo vinculado a um ator público no Brasil, o Ministério Público Federal (MPF), e aceito pela indústria exportadora de carnes do País, por meio da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Outro fator é que já é um protocolo amplamente utilizado no Brasil, com a adesão de 115 dos 230 frigoríficos que operam na Amazônia. Ou seja, não é apenas 'uma ideia' que está sendo apresentado aos chineses; é um sistema que já funciona e isso conta muito para eles. Para os chineses, há dois fatores "de peso": o endosso de autoridade pública brasileira e a ampla adoção do protocolo.
Atualmente, o protocolo de exportação de proteína animal firmado entre Brasil e China aborda somente o aspecto sanitário. Ainda não há referência ou exigências socioambientais. Por isso, esse interesse dos empresários chineses é "um primeiro passo" para que ambos os governos comecem a considerar o respeito a requisitos socioambientais no comércio de carnes, especialmente a bovina, que é alvo constante de ataques relativos a infrações socioambientais no Brasil. A China não tem como política interferir na soberania dos seus parceiros comerciais. "Então, é improvável que a China, diplomaticamente, passe a exigir algo que vá além da lei brasileira. Mas, ela pode incentivar a adoção de critérios socioambientais na produção de proteína animal que adquire do Brasil, por meio de incentivos ou bonificações.
Sob este aspecto, o Imaflora cita a importante transformação na pecuária brasileira provocada pela China, que passou a comprar apenas carne bovina proveniente de animais jovens, de no máximo 36 meses de idade, ou "4 dentes". Tal exigência do principal parceiro comercial brasileiro fez com que o setor pecuário se mobilizasse, com sucesso, para aumentar a produtividade do rebanho. Pecuaristas que conseguem produzir bovinos com este padrão ganham, inclusive, uma "bonificação" sobre a arroba do boi comum, a chamada arroba do "boi China". Assim, o Imaflora acredita que essa movimentação da cadeia produtiva no Brasil possa ocorrer também caso a China passe a exigir o cumprimento de protocolos socioambientais para a carne que importa. Inicialmente, o que o Imaflora defende é que os importadores chineses considerem, na sua relação comercial com o Brasil, que os seus fornecedores de carne bovina adotem o protocolo Boi na Linha.
Durante o workshop em Xangai, para reforçar aos chineses a participação do Poder Público brasileiro no Boi na Linha, estará presente o procurador do Ministério Público Federal do Amazonas, Rafael Rocha, que preside a Câmara de Sustentabilidade do Estado. A expectativa é de que, durante a apresentação, estejam como ouvintes tanto importadores chineses de carne bovina brasileira quanto representantes do governo da China. Esta mesma apresentação já havia ocorrido na China este ano, tanto na Sial em Xangai quanto na 7ª Sessão Plenária da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), realizada em junho em Pequim, e que contou com a presença do vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin. Na Cosban, nós, o Imaflora propôs a apresentação. A intenção é despertar o interesse chinês para questões socioambientais da produção brasileira.
Tem ocorrido várias visitas de chineses ao Brasil. São missões sem tanta visibilidade, mas bastante recorrentes, pelo menos trimestrais, e o tema socioambiental sempre está em pauta. Outro tema recorrente nessas visitas é a rastreabilidade individual de bovinos. Inclusive, há demanda da China por rastreabilidade individual, o que está previsto no protocolo sanitário Brasil-China. É um ponto que tem sido pouco abordado. Foi sugerido, agora em Xangai, que se aborde melhor isso também. Finalmente, no ano que vem, a ideia do Imaflora é dar um passo adiante num possível protocolo socioambiental, convidando empresários importadores chineses e um frigorífico exportador brasileiro a fazerem um "exercício", de realizar uma transação comercial envolvendo carne bovina produzida sob protocolos adotados no Boi na Linha. Seria mais uma iniciativa que pode estimular a adoção desse protocolo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.