08/Nov/2024
A Minerva Foods registrou lucro líquido de R$ 94,1 milhões no terceiro trimestre de 2024, queda de 33,3% em relação aos R$ 141 milhões contabilizados em igual período de 2023. Também houve queda de 1,4% ante o lucro de R$ 95,4 milhões do segundo trimestre. A redução no lucro em relação ao terceiro trimestre do ano passado é atribuída ao aumento da dívida bruta, que ocorreu para financiar a aquisição das plantas da Marfrig. Especificamente, houve um impacto financeiro em duas frentes: o pagamento de R$ 1,5 bilhão e a captação de R$ 6 bilhões por meio de um bond, que começou a acumular juros. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) atingiu R$ 813 milhões no trimestre encerrado em setembro, 13,9% acima dos R$ 713,7 milhões apurados no terceiro trimestre do ano passado e 9,2% mais do que no trimestre anterior. A margem Ebitda ficou em 9,6%, ante 10,1% no terceiro trimestre de 2023 e 9,7% no segundo trimestre deste ano.
A receita líquida no período de julho a setembro somou R$ 8,501 bilhões, alta de 20,3% em comparação ao período correspondente de 2023 (R$ 7,068 bilhões) e 10,9% maior do que no segundo trimestre. A empresa bateu recorde de receita líquida em um único trimestre. Também alcançou um recorde de Ebitda em um único trimestre. A receita bruta da companhia somou R$ 9,043 bilhões no terceiro trimestre, alta de 19,6% na comparação anual e de 10,8% ante o segundo trimestre de 2024. A receita bruta com o mercado externo atingiu R$ 5,453 bilhões, alta de 12% ante igual intervalo de 2023. No mercado interno, atingiu R$ 3,590 bilhões, avanço anual de 33,4%. A Minerva contabilizou 384,4 mil toneladas de carne vendidas no terceiro trimestre, 15,2% acima do igual período do ano passado e 6% mais do que no segundo trimestre. O abate total, de 1,096 milhão de animais, cresceu 16,9% na comparação anual e recuou 0,3% ante o segundo trimestre.
O índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) ficou em 2,6 vezes, inferior a um ano antes, quando era de 2,8 vezes. É importante lembrar que, no resultado financeiro, a empresa está carregando toda a despesa referente à dívida que tomou para pagar a Marfrig, sem ainda usufruir de nenhum benefício operacional, seja em fluxo de caixa ou Ebitda. A Minerva adquiriu treze plantas produtivas e 1 centro de distribuição da Marfrig. A empresa iniciou no quarto trimestre de 2024 uma nova fase, marcada pela aquisição de ativos da Marfrig e por um cenário de oferta restrita de carne bovina nos principais mercados globais. Com essa expansão, a Minerva passa a operar 43 plantas e a exportar de 30% a 33% da carne bovina da América do Sul para mais de 100 mercados. Em 28 de outubro, a Minerva concluiu o processo de aquisição de estabelecimentos industriais e comerciais da Marfrig localizados no Brasil, Argentina e Chile. A empresa espera um período de aprendizado nos primeiros dois trimestres e plena extração de sinergias após três trimestres.
Este foi o último trimestre da antiga Minerva, e, a partir do quarto trimestre, será iniciada uma nova fase com os ativos da Marfrig, em um cenário global promissor. O contexto global é marcado por uma redução significativa de rebanho nos Estados Unidos, e um declínio similar na produção europeia, especialmente em França, Alemanha, Irlanda e Espanha. Além da oportunidade representada pela oferta reduzida, o aumento da demanda de mercados emergentes como Oriente Médio e norte da África reforça a posição competitiva da companhia. Hoje, a carne bovina é uma commodity verdadeiramente global, e uma empresa com o alcance da Minerva, exportando para mais de 100 países, ganha vantagem comparativa e competitiva. Com o novo portfólio, a Minerva passou a deter 46 unidades industriais, sendo 3 plantas de processamento de proteína, 38 plantas de abate e desossa de bovinos e 5 unidades industriais com foco em ovinos.
No Brasil, totaliza 21 unidades com capacidade diária de abate de 22.536 cabeças, no Paraguai são 5 unidades com capacidade diária de 8.025 cabeças, na Argentina são 6 unidades com 5.978 cabeças por dia de capacidade, no Uruguai são 4 unidades com capacidade diária de 3.700 cabeças, na Colômbia são 2 unidades com 1.550 cabeças/dia. Para a operação de ovinos, detém na Austrália 4 plantas com capacidade de 19.216 cabeças por dia e no Chile 1 unidade com capacidade de 6.500 cabeças por dia. A Minerva não trabalha com a perspectiva de que eventuais políticas protecionistas adotadas por Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, afetem o setor de carne bovina. A oferta restrita de bovinos no país, com alta dos preços da proteína, afasta essa possibilidade. A situação dos preços elevados da carne nos Estados Unidos deve se manter até que o ciclo de produção vire novamente, o que é esperado apenas para 2028, reforçando a perspectiva de que os Estados Unidos continuarão demandando importações de carne bovina no médio prazo.
A presença da Minerva em diferentes países da América do Sul também reduziria os riscos de a companhia ser afetada por fatores ideológicos que influenciem as relações comerciais dos Estados Unidos. A diversificação da companhia permite operar com segurança nesse contexto. A Minerva tem forte presença na Argentina, com 6 unidades no país. As tensões entre Estados Unidos e China podem beneficiar fornecedores neutros da América Latina. O protecionismo norte-americano deve incidir mais sobre setores como automóveis e eletrônicos, particularmente os de origem chinesa, do que sobre a carne bovina. Se os Estados Unidos aplicarem retaliações nesses setores, isso poderia abrir oportunidades em mercados em que os norte-americanos enfrentariam restrições, o que indiretamente beneficiaria a competitividade da carne brasileira em outros destinos. A companhia vê um cenário positivo para o aumento dos embarques e da receita obtida com a exportação de carne bovina para a China.
Nesta semana, houve aumento no valor pago por cortes da proteína bovina. Produtos mais líquidos saíram de US$ 4.500,00 por tonelada para US$ 5.400,00 por tonelada. Isso pode indicar uma possível tendência. O contexto de produção interna de carne na China, onde houve um abate muito grande no ano passado, especialmente de fêmeas, pressionando o mercado. A redução no descarte de fêmeas sinaliza uma diminuição no abate interno e uma possível substituição, também em função da perda de rentabilidade do produtor chinês. A expectativa é de uma substituição da produção interna, independente do crescimento do consumo, que continua avançando com a mudança de hábitos. E isso vai ser substituído pela exportação. Há oportunidades para embarques da China vindos de plantas do Brasil, Colômbia, Argentina e Uruguai. Sem dúvida há uma substituição ocorrendo. A Minerva projeta um cenário promissor para a sua atuação na Argentina, impulsionado por avanços nas políticas de rastreabilidade e formalização no setor pecuário.
A Argentina adotou uma agenda positiva que vem fortalecendo sua posição geopolítica e clareando as regras para os produtores locais. Destaque para a redução da chamada "brecha cambiária" (a diferença entre a taxa de câmbio oficial e a paralela), que agora se encontra em torno de 15%, proporcionando maior estabilidade ao mercado. O cenário está mais claro em termos de regras. Novas medidas, impulsionadas pelo governo argentino em parceria com o Banco Mundial, buscam rastrear desde o nascimento dos bovinos, garantindo maior acesso aos mercados e permitindo um monitoramento direto e indireto dos processos de produção. Além disso, foi implementado a uso da nota fiscal eletrônica. Essas iniciativas representam um passo decisivo para a Argentina e tornam o país um mercado promissor para os próximos anos. A Minerva projeta um prazo de até cinco trimestres para que os novos ativos adquiridos da Marfrig alcancem os padrões operacionais da empresa. As unidades, que estão sob gestão da Minerva há menos de duas semanas, ainda passam por ajustes para se adequarem aos seus parâmetros.
É necessário um "tempo natural" para o processo de integração, pois o modelo de gestão da Minerva é um pouco diferente do encontrado nessas novas unidades. Os gerentes de unidade geralmente têm uma participação maior nas decisões, com menos hierarquia. Além das adaptações internas, a empresa trabalha para alinhar as novas fábricas com seus padrões. Os padrões de manutenção estão abaixo dos que normalmente a Minerva adota, o que é natural por causa da transição demorada. A expectativa é que, ao longo dos próximos quatro a cinco trimestres, as unidades estejam totalmente integradas aos parâmetros operacionais da Minerva. A empresa também se concentra em transferir as licenças de exportação dos novos ativos, uma etapa que deve ser concluída até o fim deste ano. Cada país possui suas particularidades. Então, há uma complexidade desse processo em diferentes mercados internacionais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.