07/Oct/2024
O setor produtivo de couro brasileiro considera que a provável prorrogação da entrada em vigor da lei antidesmatamento da União Europeia será determinante para que a cadeia possa se adequar aos novos critérios exigidos pelos europeus, que compram anualmente um quarto de tudo que os curtumes nacionais exportam. Em 2023, os negócios com os europeus alcançaram US$ 280 milhões, com o embarque de 107 mil toneladas de couros. A União Europeia é o segundo maior cliente do portfólio, atrás apenas da China, o que reforça a dependência e a dificuldade de redirecionar exportações caso haja barreiras nesse comércio. Segundo o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), o prazo será importante para o País avançar com os programas de rastreabilidade individual da cadeia bovina e bubalina desde o nascimento, uma das exigências feitas pela EUDR.
Hoje, os exportadores brasileiros precisam apresentar informações da movimentação do gado nos últimos 90 dias, regra atendida pelos curtumes, além de outras certificações socioambientais. Mas há um alerta: a Europa será exigente no cumprimento das regras e é preciso estar preparado. Será necessária a atuação conjunta com pecuaristas, frigoríficos e governo para implementar a rastreabilidade individual de forma gradual até a entrada em vigor da lei europeia, possivelmente no fim de 2025. Mas, há desafios como a capacitação, a disponibilidade de tecnologia e o custeio dessa medida. O desafio é a rastreabilidade. O setor não se furta a esse dever, mas a solução foge à mão da indústria. Se a pecuária não colocar brincos nos bovinos, não haverá matéria-prima nos curtumes para vender à Europa. O setor é um apêndice da pecuária, representando apenas 1% do valor do boi. O CICB participa de fóruns de discussão e diz que o tema evoluiu nos últimos anos, em busca de um consenso setorial.
Um plano nacional deverá ser lançado em breve pela Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do Ministério da Agricultura, com foco na sanidade animal. Em outubro, o governo deverá realizar testes na Plataforma AgroBrasil+Sustentável, em desenvolvimento pela Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo (SDI) da Pasta em conjunto com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). O objetivo da plataforma é integrar bancos de dados e oferecer um mecanismo público de checagem de conformidade de alguns produtos. Atualmente, empresas privadas cobram cerca de R$ 30 por peça de couro para fazer essa verificação, o que inviabiliza essas operações. Uma das perguntas sem respostas sobre o processo de rastreabilidade individual é quem vai bancar a instalação de brincos ou chips de monitoramento no rebanho de mais de 230 milhões de cabeças de gado. Para ter rastreabilidade individual desde o nascimento, é preciso investimentos.
Nas informações adicionais prestadas pela Comissão Europeia no dia 2 de outubro, não há menção a financiamento ou custeio de medidas para suprir as exigências da EUDR. O setor já pediu apoio para custear, mas não há linha com condições favoráveis para implementar a medida. Projetos-piloto de curtumes brasileiros para monitorar a origem do couro têm demonstrado que a medida vai gerar custos. As empresas não conseguem agregar valor ao produto final, é apenas custo. No entanto, há otimismo com a evolução dos projetos e das políticas nacionais durante o prazo dado pela União Europeia e na implementação, ao menos parcial, da rastreabilidade da cadeia bovina até a entrada em vigor das regras. A rastreabilidade é um tema irreversível e outros mercados vão implementar medidas semelhantes em um futuro próximo. O Brasil precisa ter as melhores ferramentas e gestão. O consumidor quer ter informação da origem do produto. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.