02/Oct/2024
Os consumidores estão cada vez mais preocupados com as condições de vida dos animais utilizados na produção de alimentos e interessados no que o rótulo tem a dizer sobre o produto. Mas, quais alegações de rótulo e características do produto impulsionam a compra de laticínios? As alegações de sustentabilidade ou bem-estar animal realmente importam para os compradores ao escolher qual lácteo comprar? E quanto a fatores como preço, frescor do produto, sabor? Um estudo recente realizado em cinco países europeus com mais de 3.000 pessoas, revelou que, para os consumidores, frescor, sabor e bem-estar animal são os principais fatores que influenciam a compra de lácteos. Atributos relacionados à sustentabilidade, produção orgânica, pegada de carbono, quilômetros percorridos e embalagem sustentável ficaram em segundo plano para os compradores.
Os entrevistados também foram questionados se os rótulos de sustentabilidade eram úteis ao navegar pelas declarações dos rótulos e se soluções de rotulagem, como códigos QR, eram uma maneira eficaz de acessar informações adicionais. Embora a sustentabilidade seja um tema importante, a falta de clareza e a proliferação de rótulos ecológicos com diferentes informações podem estar confundindo os consumidores. Isso torna difícil para eles fazerem escolhas assertivas. O mesmo ocorre com o bem-estar animal, a variedade de informações como sistema de produção, criação em pasto, produção local, tem criado confusões. Os 18 atributos, em ordem de importância, para compras de lácteos foram classificados da seguinte forma:
- Frescor
- Qualidade e sabor
- Bem-estar animal
- Alimentação saudável
- Nutrição
- Criado ao ar livre/caipira
- Preço
- Produzido localmente
- Feira comercial
- Em processamento
- Alimentado a pasto
- Embalagem sustentável
- Milhas alimentares
- Ofertas especiais
- Pegada de carbono
- Conveniência de uso
- Familiaridade ou marca
- Orgânico
Analisando os resultados, os pesquisadores notaram que "orgânico" ficou em último lugar no ranking. Embora isso sugira que é a característica menos importante de acordo com os consumidores em geral, "orgânico" teve uma pontuação mediana relativamente alta, o que significa que os compradores ainda o viam como um atributo importante. Uma possível razão, para esse ranking, é que a produção orgânica está associada a uma série de atributos diferentes do produto, como ‘ecologicamente correto’, saudável, caro ou favorável aos produtores, concluíram os autores, acrescentando que os consumidores podem estar usando rótulos para tomada de decisão automática, sem realmente entendê-los. Em 2022, a Comissão Europeia descobriu que havia 232 rótulos ecológicos ativos na União Europeia, dos quais quase metade continham alegações fracas ou não verificadas.
Os consumidores enfrentam a dificuldade de tomar muitas decisões todos os dias. Quando vão a uma loja, eles têm que tomar várias decisões de compra em um curto espaço de tempo. É por isso que eles confiam na heurística (a forma automática de tomar decisões) para tomar decisões rápidas sem ter que pensar em todas as informações disponíveis e levar muito tempo. Para os rótulos, isso significa que eles têm que ser fáceis de entender para os consumidores. Pode ser por isso que os compradores do estudo indicaram que a presença de links ou códigos QR na embalagem eram de menor interesse para eles quando se tratava de comunicar informações sobre o produto, embora essas soluções ainda fossem consideradas importantes no geral.
Os riscos são altos também porque os consumidores parecem dar maior importância ao bem-estar animal, principalmente quando comparado aos atributos relacionados à sustentabilidade ambiental. Quanto aos traços de sustentabilidade, os consumidores classificaram "produzido localmente" como o atributo de produto mais importante, atrás de embalagem sustentável e pegada de carbono. Isso pode ser explicado com a tendência dos consumidores de associar produtos alimentícios locais a serem mais sustentáveis. Mas, há outros fatores em jogo que influenciam as decisões de compra além de atitudes positivas em relação a produtos ecológicos, incluindo políticas e preços. Os rótulos são suficientes para impulsionar mudanças no comportamento do consumidor?
Nos Estados Unidos, uma pesquisa de mercado conjunta realizada pela NielsenIQ e McKinsey analisou cinco anos de dados de gastos do consumidor norte-americano para rastrear a taxa de crescimento de vendas de produtos com alegações ambientais na embalagem. A pesquisa descobriu que os consumidores estavam mudando seus gastos para produtos com alegações sustentáveis em dois terços das categorias de alimentos, incluindo queijo e iogurte. Há fortes evidências de que os sentimentos expressos pelos consumidores sobre alegações de produtos relacionados a ESG se traduzem, em média, em comportamento de gastos real, mas as empresas devem adotar uma abordagem holística em termos ambientais e de preços para maximizar o crescimento.
Vincular atributos de sustentabilidade a outras alegações do rótulo, por exemplo, criação ao ar livre e bem-estar aprimorado, pode encorajar ainda mais os consumidores a comprar aquele produto específico. E há fatores mais tangíveis, como preços, que podem influenciar diretamente as compras de laticínios sustentáveis. Os rótulos são importantes, pois podem fornecer informações aos consumidores que são importantes para que eles tomem sua decisão de compra (por exemplo, bem-estar animal). No entanto, há uma enorme heterogeneidade nos rótulos disponíveis atualmente, o que torna difícil para os consumidores manterem uma visão geral sobre o que cada um dos rótulos significa.
No Brasil, o projeto de lei 784/24 regulamenta a rotulagem dos produtos de origem animal produzidos e comercializados no país, visando garantir transparência ao consumidor sobre o processo de criação. Segundo o texto do projeto, que ainda será debatido na Câmara do Deputados, os rótulos deverão identificar as condições de bem-estar dos animais, respeitando o direito da população de conhecer as etapas de produção das mercadorias consumidas. As empresas deverão informar se adotam práticas de transparência na cadeia de fornecedores, como a inspeção não anunciada feita por profissionais externos ou organizações de proteção dos direitos dos animais. Além disso, as empresas deverão relatar se, ainda que de forma temporária, no processo de produção são praticados:
- Confinamento extremo de animais, sejam amarrados, em gaiolas ou jaulas;
- Descarte de animais recém-nascidos considerados sem valor econômico;
- Alteração severa da quantidade de alimento, como jejum ou ingestão forçada;
- Abate ou as mutilações (na cauda, nos testículos, no bico ou nos chifres, entre outras) sem controle da dor;
- Transporte de longa duração, em geral superior a 12 horas de viagem.
O projeto tramita em caráter conclusivo e ainda será analisado pelas comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; de Defesa do Consumidor; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.