24/Sep/2024
A avicultura do Rio Grande do Sul busca se recuperar dos impactos das enchentes de abril e maio e do caso de doença Newcastle em uma granja comercial em julho, mas a retomada encontra obstáculos adicionais. Além da queda na produção e exportação, o segmento lida com o aumento dos custos e enfrenta dificuldades no acesso a recursos. O caso isolado de Newcastle, registrado em uma granja em Anta Gorda, resultou em uma série de embargos temporários à exportação de carne de frango, com diferentes graus de restrição. O Ministério da Agricultura e Pecuária declarou o fim do foco da doença em 25 de julho, oito dias após a confirmação do caso, mas o País ainda aguarda o reconhecimento do seu encerramento pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Além disso, os efeitos sobre a avicultura do Estado se prolongam.
Os embarques de carne de frango do Rio Grande do Sul para o exterior recuaram 42,54% em volume em agosto, na comparação com igual mês de 2023, passando de 73,143 milhões de toneladas para 37,849 milhões de toneladas. Hoje, há um único embargo vigente para frango de todo o território nacional, para Argentina, mas o Rio Grande do Sul também não pode exportar carne de aves e derivados para China, África do Sul, Arábia Saudita, Bolívia, Chile, Malásia, México, Peru e União Econômica Euroasiática. Segundo a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), é preciso voltar à normalidade. O setor está fazendo tudo o que pode, redirecionando os produtos para outros mercados e ajustando a produção para evitar maiores problemas. Esse cenário complicado veio logo após as enchentes, que causaram prejuízo estimado em R$ 247,216 milhões à avicultura do Estado, segundo a Organização Avícola do Rio Grande do Sul.
Mais de 3,6 milhões de aves foram perdidas, incluindo aves de corte, poedeiras, avós, matrizes e pintos, além da destruição de 1,599 milhão de ovos férteis. A produção também sofreu impacto significativo. No segundo trimestre de 2024, período em que a atividade avícola foi fortemente afetada pelas enchentes, o número de abates de frango no Rio Grande do Sul caiu 12,31% em relação ao igual período de 2023, de 201,549 milhões de cabeças para 176,737 milhões. Ainda assim, o Estado foi responsável por 11% dos abates no Brasil entre abril e junho, conforme dados do IBGE. As instalações avícolas também foram severamente danificadas, com 20 aviários parcialmente destruídos, fábricas de rações inundadas e indústrias de processamento de alimentos enfrentando prejuízos em maquinários e equipamentos. Quatro frigoríficos paralisaram suas atividades devido a danos em motores, redes elétricas, tubulações e geradores.
Além disso, houve inadimplência de clientes diretamente afetados pelas enchentes, perda de veículos, caminhões, estoques de embalagens e rações, e impacto negativo nos índices zootécnicos, como o aumento da conversão alimentar e da mortalidade de frangos de corte. A Asgav destacou que nem todas as indústrias que tiveram suas estruturas afetadas pelas chuvas conseguiram acessar recursos para reparar os danos. Isso afeta toda a cadeia, pois o produtor que trabalha em sistema integrado ou cooperativa precisa do apoio da indústria para poder produzir. O setor pede que desburocratizem algumas situações, pois as indústrias alegam que não estão conseguindo aprovar cadastros para acessar os recursos ou garantias. Somado a esses desafios, o custo de produção aumentou por quatro meses consecutivos, segundo a Embrapa Suínos e Aves, interrompendo a tendência de queda que havia começado em junho de 2023.
O valor subiu de R$ 4,40 por Kg do frango de corte em abril para R$ 4,72 por Kg em agosto, um aumento de 7,27% no período. A maioria dos produtores no Estado é integrada às cooperativas, mas, mesmo com os incentivos que algumas oferecem, ainda é difícil para os produtores arcarem com os custos e financiamentos, afirmou a Associação de Avicultores de Frango de Corte e Postura Riograndense (Asacop-RS). Segundo a Asacop-RS, alguns avicultores estão deixando a atividade. Muitos estão vendendo seus aviários, especialmente aqueles com instalações mais antigas, que demandariam grandes investimentos para modernização. Ao mesmo tempo, investidores estão entrando no setor e comprando esses aviários. Os pequenos estão saindo, e os maiores, com mais capital, entrando. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.