10/Sep/2024
Fundada há oito anos para desenvolver alimentos industrializados à base de plantas, utilizando compostos criados por uma plataforma de inteligência artificial, a foodtech chilena NotCo está passando por uma transformação em seu modelo de negócios. Reconhecida como a startup mais inovadora da América Latina pela revista americana Fast Company em 2021, a empresa agora oferece sua tecnologia para grandes companhias globais de alimentos, como a norte-americana Mars, a mexicana Bimbo (que recentemente anunciou a aquisição da brasileira Wickbold) e a italiana Ferrero, o que pode representar a criação de versões mais saudáveis de seus produtos tradicionais. Esse movimento ocorreu após a NotCo formar, dois anos atrás, uma joint venture com a Kraft Heinz com o mesmo foco.
A parceria resultou em produtos como o NotPhiladelphia, uma versão vegetal do tradicional creme de queijo Philadelphia. Batizada de The Kraft Heinz Not Company, a empresa serviu como uma validação da ideia de que grandes fabricantes de alimentos podem aproveitar a tecnologia desenvolvida pela NotCo. A Kraft Heinz levava, geralmente, três anos para desenvolver um novo produto. E agora, em um ano e meio, foi possível criar oito novos produtos. A diferença para os novos projetos é que, desta vez, não envolvem a criação de uma joint venture para atuar em conjunto com a NotCo. A startup simplesmente vai vender o direito de uso de sua plataforma, batizada de Giuseppe, no modelo de software como serviço. É um modelo de negócios que tem apresentado mais lucratividade do que a criação e lançamento dos próprios produtos.
A empresa começou há um ano e meio esse projeto de se transformar numa empresa de tecnologia. Foi criada uma divisão para atuar com software como um serviço. No início, houve receio sobre se a empresa estaria realmente pronta para atuar como uma empresa totalmente voltada à tecnologia. Desde a sua criação, a NotCo utiliza inteligência artificial para criar produtos com base vegetal para substituir carnes, maionese e leite. O trabalho é feito a partir da combinação de mais de 2 mil ingredientes cadastrados na plataforma Giuseppe para atingir gosto e textura similares aos de produtos de origem animal. As fórmulas são combinadas até atingirem um resultado satisfatório, sendo, então, submetidas a testes com o público antes de se tornarem produtos finais, como o NotMayo, NotMilk, NotCreme de Leite e o mais recente NotShakeProtein.
No Brasil, a NotCo já firmou parcerias para comercializar seus produtos em redes de varejo, como o Pão de Açúcar. Em cinco anos, metade das receitas da NotCo deve vir da nova divisão. A preparação para o novo projeto começou há um ano e meio. No mesmo momento em que estabelecia a parceria com a Kraft Heinz, a startup levantou US$ 70 milhões (cerca de R$ 367 milhões, no câmbio da época) para acelerar o desenvolvimento de sua unidade de atuação com empresas. A rodada foi liderada pela Princeville Capital, e contou com a participação de nomes como os do fundador da Amazon, Jeff Bezos, por meio da Bezos Expeditions; do CEO do Mercado Livre, Marcos Galperin; e dos fundos Tiger Global, L Catterton, Kaszek Ventures, Future Positive e The Craftory.
Em 2021, a NotCo já havia se tornado um “unicórnio”, nome dado a empresas com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão e atraído outros investidores conhecidos, como os fundadores do Twitter, Jack Dorsey, e do Airbnb, Joe Gebbia, além dos esportistas Roger Federer e Lewis Hamilton. Atualmente, está avaliada em US$ 1,5 bilhão (R$ 8,3 bilhões). No mundo, a foodtech NotCo já conta com cerca de 400 funcionários, dos quais 150 atuam em áreas ligadas diretamente ao desenvolvimento de produtos ou tecnologia. O Brasil, um dos principais mercados da companhia, ganhou uma nova liderança recentemente. Com experiência em empresas como KotaKi, Mondelez e Philip Morris, André Weinmann assumiu neste ano a presidência da NotCo no Brasil.
A missão do executivo é ampliar a presença dos produtos tanto em mercados de grande porte quanto regionais. Com a criação mais recente da empresa, uma mistura proteica sem ingredientes de origem animal chamada NotShake, a companhia também coloca na mira as lojas especializadas em produtos naturais em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e na Região Sul do País. Esse é um produto de extrema importância, pois atende a uma necessidade crescente do consumidor. O mercado de proteínas faz parte do cotidiano, seja para quem pratica esportes ou para quem trabalha o dia todo e busca uma bebida proteica. Esse segmento cresce a um ritmo de dois dígitos ao ano. O NotMilk High Protein levou 10 meses para ser desenvolvido, enquanto o NotShake foi criado em apenas 4 meses.
A IA (inteligência artificial) ajuda a melhorar versões anteriores dos produtos e no desenvolvimento de sabores que uma empresa tradicional teria dificuldade de explorar, como tâmara com morango. Atualmente, o produto é o único nas gôndolas de supermercados que tem 4,5 vezes mais proteínas do que carboidratos na sua composição. Em 250 ml, são 16g de proteína para 3,5 g de carboidrato. Nenhum consegue ter a entrega equilibrada com baixa caloria e alta proteína, porque são produtos de origem animal. São feitas combinações de moléculas, enquanto as empresas tradicionais fazem combinações de ingredientes. Um dos novos objetivos da empresa é não só simular produtos de base animal, como também aumentar os benefícios mais nutritivos e sensoriais das alternativas de origem vegetal. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.