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05/Sep/2024

Boi: cotações ainda não agradam os pecuaristas

Os preços do boi gordo têm se recuperado, mas as queixas de pecuaristas persistem. De fato, a análise da série de preços do Cepea de longo prazo deflacionada mostra que a média de agosto ainda foi uma das menores desde 2008. A oferta de bovinos para abate ao longo do primeiro semestre pressionou significativamente as cotações, requerendo altas também robustas para que os valores voltem a patamar que fique aproximadamente na média entre as mínimas e máximas (mensais) atingidas nos últimos anos. Num recorte de 10 anos (a partir de janeiro/2015), o preço médio do boi gordo em São Paulo deflacionado (médias mensais) foi de R$ 278,31 por arroba. Um comparativo com preços internacionais mostra que, no Brasil, o comportamento de desvalorização do boi gordo no primeiro semestre foi oposto às altas vistas no conjunto de países englobados nos índices de carne bovina do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

De janeiro a julho, o índice de preço da carne bovina do FMI (convertido em Reais), sensível às importações feitas pelos Estados Unidos da Austrália e Nova Zelândia, avançou 39,9%; o da FAO, 23,5%. A carne brasileira exportada teve ganho de 9,7%, mas o preço médio do boi gordo em São Paulo caiu 7,8%. Esse comportamento recente do boi gordo no Brasil antagônico aos dois índices internacionais destoa do alinhamento que predomina na maior parte do tempo. No período de 2018 a 2024, a correlação estatística entre os preços boi gordo no Brasil (Indicador Cepea/B3) e os da carne bovina do FMI foi de 0,90; entre o Indicador e os preços da FAO, de 0,92. Desde julho, o mercado nacional do boi gordo apresenta tendência de alta, e alguns negócios, nesta semana, já estão se firmando na marca de R$ 250,00 por arroba no estado de São Paulo. Em Mato Grosso do Sul, esse valor já havia sido atingido no final de agosto.

O preço médio do boi gordo em São Paulo é de R$ 241,80 por arroba à vista. Ao longo de agosto, o ganho foi de 3,1%. No mercado futuro (B3), as expectativas que haviam sido bastante afetadas pelas quedas do primeiro semestre também têm se elevado. Os ajustes para os contratos Outubro/2024, Novembro/2024 e Dezembro/2024 estão em quase R$ 10,00 por arroba (aproximadamente 4%) acima dos fechamentos do dia 3 de julho. O clima está bastante seco e as ofertas de bovinos criados a pasto Brasil afora são cada vez mais escassas. As escalas devem ser supridas predominantemente pelos confinamentos. E é importante observar que esse segmento, gerido com alto profissionalismo, também respondeu às quedas acentuadas de preços no começo do ano. Entre abril e meados de julho, o volume de bovinos postos em confinamentos foi menor que em igual período do ano passado, segundo dados DMS.

Com a mudança de tendência dos preços e o planejamento de oferta para outubro, aumentou o número de bovinos que deu entrada em confinamentos na primeira quinzena de julho. O mesmo se viu na segunda quinzena de agosto, mas o volume deste último mês ainda foi 4% menor que o total de agosto de 2023. Em linhas gerais, esses dados sinalizam que o número de bois prontos para abate nos próximos meses poderá ser menor que no ano passado. Mas, a produção efetiva de carne bovina depende também da produtividade, e os preços dos grãos, especialmente do farelo de soja, podem favorecer a elevação da média dos confinamentos neste ano. Do lado da demanda, indicadores macroeconômicos indicam que o consumo do brasileiro pode se manter firme. Em julho, a taxa de desemprego medida pelo IBGE com base na PNAD mostrou o menor nível da série histórica para julho. A massa de rendimento real habitual também avançou, ficando levemente abaixo do nível mais elevado na série histórica que havia sido registrado no trimestre móvel anterior, até junho/2024.

Na via das exportações, as perspectivas também são favoráveis, tanto pelos preços muito competitivos da carne brasileira quanto pelo impacto da produção deficitária dos Estados Unidos desde o ano passado. Há de se ponderar, no entanto, que os preços em dólar pagos pela China, parceiro prioritário, têm caído. A média paga pela China, no acumulado de janeiro a julho, caiu 12% frente à do mesmo período de 2023. Considerando-se as exportações para todos os destinos, em julho, o valor médio em dólar foi apenas 3% menor, mais que compensado pelo câmbio. Em Reais, a média geral subiu 10%. No mercado doméstico, a carne com osso voltou ao patamar de R$ 17,00 por Kg, que não era registrado desde meados de janeiro. Nos últimos sete dias, a valorização da carcaça casada é de 4,1%, a R$ 17,12 por Kg. Enfim, a dinâmica de oferta e demanda, exercida num ambiente de acelerada evolução da estrutura do setor e com variáveis nem sempre previsíveis, segue dando as cartas. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.