ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

27/Aug/2024

Leite: casos de gripe aviária na produção leiteira

A preocupação mundial com a Influenza Aviária é oriunda das características do vírus, sua resistência em condições ambientais desfavoráveis, alta capacidade de mutação, migração entre espécies animais, potencial em infectar e adoecer o homem (zoonose), com perdas econômicas incalculáveis com base na sequência de surtos, a partir do seu primeiro registro no norte da Itália em 1978, sendo descrita como uma doença infecciosa das aves, sendo chamada de “praga aviária”. A primeira pandemia do H1N1 em humanos ocorreu em 1918, sendo responsável por 20 a 40 milhões de mortes. Apesar do uso público generalizado do termo “pandemia” poucas pessoas conhecem seu verdadeiro significado: doença (ou agente infeccioso) com distribuição mundial, ou seja, disseminada em diversos países e continentes. Novas pandemias pelo vírus da Influenza Aviária vêm sendo registradas na história: H2N2 (1957-1958) e H3N2 (1968), H1N1 (2009).

A combinação H5N1 apareceu pela primeira vez na China (1990), com registros de alta mortalidade em aves selvagens e casos esporádicos em humanos, ou seja, H5N1 é uma zoonose, com transmissão entre espécies domésticas e o homem. A partir daí, o vírus foi disseminado para a Ásia, Europa, África e Américas, pelo trânsito de aves migratórias. O H5N1 afeta diferentes espécies aviárias e já foi detectado em patos, gansos, gaivotas, galinhas, pelicanos, cisnes, abutres, águias, corujas e corvos, avançando para os mamíferos: texugos, ursos, gatos, linces, lontras, guaxinins, golfinhos e botos, furões, martas, raposas, leopardos e suínos. Registros de surtos em focas e leões-marinhos na Escócia, Peru, Brasil, Uruguai e Argentina (2023). Surtos em gatos domésticos na Polônia e Coreia do Sul. O vírus da Influenza Aviária é tão resistente às condições ambientais inóspitas que alcançou à Antártica, provocando mortes em aves e mamíferos selvagens.

Em 25 de março de 2024, autoridades dos Estados Unidos anunciaram que o vírus H5N1 (de alta patogenicidade em aves) havia sido detectado pela primeira vez em gado leiteiro. Acredita-se que as aves migratórias são as fontes do vírus da Influenza Aviária. Em 1º de abril de 2024 foi reportado o primeiro caso de transmissão de H5N1 das vacas ao homem. Atualmente, existem quatro casos confirmados de H5N1 em seres humanos posterior ao contato com vacas infectadas nos Estados Unidos, segundo Centro de Prevenção de Doenças (CDC). Em 1955, foi determinado que a gripe aviária era causada pelo vírus da Influenza tipo A, pertencente à familília Orthomyxovirus. O genoma do vírus da influenza tipo A é envolvido por uma membrana (envelope), capaz de gerar proteínas estruturais e de superfície, como a hemaglutinina (H) e neuraminidase (N).

Os tipos diferentes de H e N são oriundos de erros ou mutações no processo de replicação genômica da Influenza. Hoje, são conhecidos 18 tipos diferentes de H e 11 tipos diferentes de N, sendo as suas combinações determinantes para a nomenclatura do vírus. O H5N1 é uma combinação do H tipo 5 e N tipo 1. O vírus da Influenza Aviária do tipo A pode ser também classificado em duas categorias: Influenza Aviária de Baixa Patogenicidade e Influenza Aviária de Alta Patogenicidade. O H5N1 possui alta patogenicidade, causa doença grave e letal nas aves, não necessariamente em humanos e bovinos. Nas aves, a transmissão ocorre pelo contato direto, oral-fecal ou aerógena. Existem especulações de que a transmissão ocorra de vaca-vaca, principalmente pela ordenha, já que a secreção mamária da vaca infectada possui alta carga viral.

Estudos têm demonstrado que a transmissão aerógena é menos importante em comparação com o leite. Observa-se liberação do vírus, mesmo em vacas infectadas que não manifestam sintomas clínicos (subclínicos). A transmissão entre fazendas ocorre por meio de aves migratórias, movimentação de animais entre as fazendas, além da possível transmissão pelo trânsito de pessoas e equipamentos contaminados. Ressaltando-se a importância de um dos elos fortes entre as medidas de biosseguridade, que é o trânsito de animais, pessoas, equipamentos e alimentos externos. Em geral, sugere-se reduzir a movimentação de animais, principalmente porque a doença pode ser subclínica, inespecífica ou branda. A transmissão da vaca para gatos já foi confirmada. E existem indícios da transmissão retrógrada das vacas para aves comerciais, devido à similaridade entre as sequencias genômicas dos vírus isolados entre as espécies.

A transmissão do H5N1 das vacas para os humanos já foi confirmada em algumas instâncias, sendo manifestada por inflamação nos olhos (conjuntivite). A transmissão do H5N1 entre pessoas ainda não foi documentada. As autoridades de saúde dos Estados Unidos tranquilizam com a informação de que não há indícios da infecção em humanos pela ingestão do leite pasteurizado. Alertam para que não seja ingerido leite cru. Atualmente, o CDC considera o H5N1 de baixo risco para a saúde pública, porém as pessoas com maior exposição aos animais infectados, como os colaboradores das fazendas possuem maior risco de infecção, o que ressalta a importância das medidas de biosseguridade e uso dos equipamentos de proteção individual (EPI): luvas e máscaras. Nos bovinos, os sintomas não são específicos da infecção pelo H5N1, o que pode confundir com outras doenças.

As vacas apresentam diminuição da frequência de ruminação, diminuição da produção de leite, alteração nas características macroscópicas do leite e o número de vacas afetadas não é usual. O médico veterinário do rebanho deve ser acionado na suspeita da doença para coleta de amostras e diagnóstico laboratorial. Recomenda-se a coleta de amostras de leite não pasteurizado, suabes do trato respiratório superior e tecidos. O impacto do H5N1 na cadeia produtiva do leite depende do número de vacas acometidas e pela redução na produção de leite pelas vacas infectadas. As autoridades norte-americanas reportaram que não houve falta ou aumento no preço do leite no mercado, além da autossuficiência da produção norte-americana para suprir a demanda territorial. É preciso acalmar a população na afirmativa que o leite pasteurizado não é uma fonte de infecção do H5N1 aos seres humanos. Para proteger o rebanho, a implementação das práticas de biosseguridade é crítica no controle da disseminação do H5N1. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.