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22/Jul/2024

Leite: concentração do rebanho em grandes fazendas

Tanto os Estados Unidos quanto o Brasil vivenciam transformações significativas no setor leiteiro, marcadas por um aumento na produção e concentração da atividade em médio e grandes produtores. Compreender as tendências em cada país nos ajuda a entender para onde caminha o futuro do setor lácteo global. O Censo Agrícola do Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) revelou dados relevantes sobre a produção de leite nos Estados Unidos, evidenciando duas tendências principais: aumento na produção e concentração em grandes operações. A produção de leite nos Estados Unidos cresceu 11,8 bilhões de litros entre 2013 e 2023, com um número relativamente estável de vacas. Esse crescimento não foi uniforme em todo o país, 16 dos 24 principais estados produtores registraram aumento em sua produção, enquanto 8 estados, incluindo Califórnia, Flórida e Illinois, apresentaram queda. Texas, Wisconsin e Idaho lideraram o crescimento.

Segundo o Rabobank, por uma ampla margem, o maior crescimento ocorreu no Texas, produzindo mais 3,3 bilhões de litros de leite de 195.000 vacas a mais do que há 10 anos. O tamanho das fazendas também sofreu uma mudança notável. As operações com menos de 500 vacas representam 80% das fazendas leiteiras do país. No entanto, a maioria das vacas está em fazendas com 1.000 vacas ou mais. A tendência futura do leite nos Estados Unidos é a concentração do rebanho em grandes fazendas. No futuro, é provável que mais vacas se mudem para fazendas maiores, que são capazes de produzir leite a um custo menor em comparação com operações menores. O crescimento no número de fazendas maiores persistirá, mas as fazendas menores continuarão existindo em números consideráveis, especialmente aquelas que praticam a agricultura diversificada e aquelas que mantiveram baixos níveis de endividamento.

Para entender as transformações na base produtiva brasileira, em 2023 a MilkPoint Ventures realizou uma pesquisa inédita, que amostrou quase 1/3 do leite inspecionado no Brasil (32,3% do leite formal), a partir de 41 laticínios, sendo 17 cooperativas e 24 não cooperativas. Em conjunto, as empresas amostradas processam 21,1 milhões de litros/dia a partir de 48.432 produtores, com média de 437 litros/dia. Em 2013, a média havia sido de 246 litros/dia, evidenciando um expressivo crescimento de 77% no período. Analisando as 17 empresas que participaram dos levantamentos de 2013 e 2023, os números são também significativos para explicar as mudanças. Estas empresas aumentaram a captação em 36% com uma queda de 19% no número de fornecedores. Segundo o relatório “Quem produz o leite brasileiro”, os 4,8% de produtores, cuja produção é superior a 2.000 litros/dia, produzem hoje quase a metade do leite (46,3%). Já os produtores abaixo de 200 litros perfazem 60,7% do total de produtores, mas respondem por apenas 11,3% do leite.

O Brasil, assim como os Estados Unidos, passa por uma transformação considerável na produção de leite. Ambas as produções seguem em trajetória de crescimento, impulsionada pela eficiência. A concentração em grandes fazendas é uma tendência marcante, enquanto a viabilidade de pequenos produtores depende da busca por diferenciação, agregação de valor e adoção de novas tecnologias. Políticas públicas setoriais devem envolver enfoques distintos dependendo do público-alvo: para produtores de menor porte, acesso a crédito, assistência técnica qualificada e acesso ao mercado (incluindo oportunidades para a diferenciação do produto), visando oferecer possibilidades de inserção nessa nova realidade. Para grandes explorações, são necessários incentivos para a instalação de novos projetos, bem como mostrar que a produção em escala com eficiência pode ser um bom negócio. Para ambos os públicos, a criação de ferramentas que permitam maior previsibilidade de receitas e despesas é oportuna, melhorando o ambiente de negócios no setor.

Para embasar decisões e melhorar as estratégias no setor, ter uma atualização constante destes números é essencial. O projeto "Quem produz o leite brasileiro" busca retratar a realidade do leite brasileiro em dados e, assim, contribuir para uma melhor imagem do setor, frente não apenas ao consumidor, que também será beneficiado por um produto de maior qualidade na mesa, mas também para que o setor público e privado tenham melhor conhecimento da realidade da produção e possam criar políticas para incentivar o crescimento e desenvolvimento dos produtores, proporcionando a sustentabilidade econômica da atividade. Laticínios, que captam o leite diariamente desses produtores, precisam garantir a qualidade dos seus produtos e embasar seu planejamento com dados atualizados. Da mesma forma, empresas de insumos terão condições para um melhor direcionamento de seus produtos e serviços. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.