02/Jul/2024
A antiquíssima ‘banha de porco’, ingrediente que já foi elementar na culinária brasileira, está de cara nova. Uma empresa brasileira está cultivando gordura suína em laboratório sem precisar de abate. A startup de biotecnologia Cellva está prestes a concluir uma rodada de investimentos, fechou seu primeiro contrato comercial e almeja mudar a imagem da gordura, o “patinho feio” dos macronutrientes. Quando se fala de consumo de carboidratos, açúcares, vitaminas e proteínas, a gordura sempre fica escanteada, é vista como inimiga. Mas, a gordura por si só é uma fonte de ácidos graxos essenciais como ômega 9, ômega 3.
Criada há apenas dois anos, a startup desenvolveu um método para multiplicar em apenas 21 dias células de gordura retiradas do suíno vivo. Tudo acontece em equipamentos chamados biorreatores. A produção da Cellva hoje é pequena, de apenas 15 quilos por mês, mas a ambição é grande: até 2030, a startup espera que a comercialização de seus produtos salte para 100 mil toneladas. Em tese, toda essa produção pode se originar de um único suíno. A Cellva testa a utilização da gordura em bolos, brownies e salsichas e pretende atender à demanda pelo ingrediente vinda da indústria alimentícia. Muitas vezes, há falta de gordura no mercado. Há muitos suínos, mas com alto índice de proteína, e um índice menor de gordura.
O desafio começa na comunicação, ou seja, explicar a tecnologia e os benefícios por trás da produção, e continua pelo aspecto financeiro, para dar escala à tecnologia. Com um laboratório em Porto Alegre (RS), a Cellva tem se sustentado até aqui com recursos próprios (cerca de R$ 1 milhão) que saíram do bolso dos fundadores. Para expandir o negócio, desde o começo do ano a Cellva foi procurar investidores no mercado de venture capital. A startup está prestes a fechar uma rodada semente de R$ 9 milhões, que deve se encerrar em agosto. Até agora, já foram captados R$ 6,5 milhões. O investidor-âncora é o fundo Seed4Science, ligado à gestora Fundepar, braço da Fundação de Apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Outros aportes vêm da EA Angels, rede de investidores-anjo do Rio Grande do Sul, e de investidores internacionais, como a ONG ProVeg International e as gestoras Rumbo Ventures, da Espanha, e AIR Capital, da Argentina. A startup já está apta a vender microcarreadores e microesferas, sistemas de encapsulamento de alimentos que podem conservar a presença de ingredientes durante o processo de fabricação. Para comercializar a gordura e os ácidos graxos, a Cellva aguarda a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O modelo de fabricação adotado pela Cellva é similar ao de carne cultivada em laboratório.
A produção começa a partir da extração de um pedaço do suíno do tamanho de um grão de arroz. Essas células são congeladas em um biobanco, e, a partir daí, todo o processo se desenvolve sem a necessidade de voltar ao suíno. A Cellva descobriu que a gordura não seria seu único produto e principal negócio. Outros produtos do processo produtivo, como os ácidos graxos, microcarreadores e microesferas, também têm potencial de comercialização. Os microcarreadores, por exemplo, são muito valorizados na indústria farmacêutica e de biotecnologia. A startup identificou um potencial inexplorado na gordura. A Cellva busca expandir seu mercado e oferecer novas soluções tecnológicas para a indústria alimentícia e além. Fonte: Agrimídia. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.