28/Jun/2024
A conquista da Viatina-19, a vaca nelore brasileira que entrou para o Guiness Book, o livro dos recordes, como a fêmea bovina mais valiosa do mundo após ser vendida por quase US$ 4 milhões (R$ 21 milhões), atraiu a atenção internacional para a pecuária brasileira. Embora casos como o dela ainda sejam exceções, pecuaristas e empresas do setor investem cada vez mais em tecnologia genética para produzir animais com alta capacidade de ganho de peso, indo para o abate em tempo cada vez menor. A nelore campeã pesa mais de 1 tonelada e é fruto de grandes investimentos em seleção, não apenas para ganhar características marcantes, como a rápida aquisição de massa corporal, alta fertilidade e precocidade, mas também para transmitir essas características para os seus bezerros. Óvulos e sêmen de bovinos como ela são disputados a preço de ouro nos leilões da raça, que têm um calendário concorrido pelo País.
A melhora da genética bovina no Brasil, que detém o maior rebanho do mundo, com 234 milhões de cabeça, e lidera as exportações mundiais de carne, é vista como o trampolim que pode levar a pecuária brasileira a um novo patamar, produzindo carne de qualidade sem desmatar biomas como a Amazônia e cortando fortemente a emissão de gases de efeito estufa. Mas, até que ponto um bovino tecnicamente melhorado se adapta às condições da pecuária brasileira, de bois criados no campo, muitas vezes em pastos degradados? Para a Embrapa Gado de Corte, o melhoramento genético dos rebanhos é um dos pilares da evolução da pecuária brasileira, mas deve seguir junto com nutrição, saúde, manejo e gestão, e as biotécnicas reprodutivas como a inseminação artificial em tempo fixo, conhecida pela sigla IATF.
Isso tem permitido que a genética de bovinos como a Viatina possa estar ao alcance de todos os produtores, inclusive os médios e pequenos. Com a grande disponibilidade de reprodutores e matrizes de elite, a IATF permitiu a ‘democratização’ da genética no Brasil. A lógica do melhoramento genético segue uma hierarquia, como numa pirâmide. No topo estão os rebanhos de elite, normalmente com o que há de mais avançado em material genético e processos de melhoramento. Em seguida, está um extrato do rebanho que serve de multiplicador desta elite, produzindo, em escala maior, reprodutores e matrizes que serão disponibilizados, de forma mais acessível, à base da pirâmide, onde está o rebanho comercial que produz bovinos para abate e produção de carne. No Brasil, quase 80% das vacas ainda são cobertas por monta natural (sem interferência do homem), mas a inseminação artificial e fertilização in vitro cresceram de forma significativa nos últimos anos.
Segundo a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), dos 5.570 municípios brasileiros, 4.549 já realizam a técnica em bovinos. Em 2023, o País obteve 24,7 milhões de doses de sêmen, dos quais 6,3 milhões foram importados. O Brasil é o país que mais faz fertilizações in vitro no mundo e este ano abriu 15 novos mercados para a exportação de sêmen e embriões bovinos, incluindo cinco países integrantes da União Econômica Eurasiática (UEE) - Rússia, Belarus, Armênia, Cazaquistão e Quirguistão. É um mercado que se expande, à medida em que a carne brasileira cresce no gosto de consumidores internacionais. Produtora de genética bovina, a Seleon Biotecnologia, sediada em Itatinga (SP), planeja investir R$ 50 milhões em cinco anos para ampliar a capacidade de seus laboratórios. Touros das principais centrais de vendas de sêmen do País estão em coleta ou avaliação em suas instalações.
O setor está sendo impulsionado pela crescente adoção de biotecnologias reprodutivas, como a IATF, que já representa 20% do rebanho de fêmeas em idade reprodutiva. Atualmente, a empresa exporta sêmen para mais de 30 países. Para o Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária da USP, a inseminação artificial é um caminho sem volta. Mais de 90% das inseminações de matrizes bovinas no Brasil são associadas à IATF. Isso fez o País passar de um percentual de 5% para 20% de matrizes inseminadas, o que ainda é pouco, mas é quatro vezes mais do que inseminávamos há 20 anos. Como o gado nelore, mais adaptado às condições dos pastos brasileiros, também se adaptou aos protocolos de alimentação no cocho, os confinamentos com bovinos da raça e de origem europeia se expandem pelo País.
A MGF Agropecuária, grupo formado por seis confinamentos espalhados pelos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo, deve fechar o ano com 211 mil cabeças tratadas a cocho. Desde a fundação, há 16 anos, já são 2,5 milhões de animais confinados. Manter saudável um rebanho tão grande concentrado em pouco espaço requer tecnologia: a pesagem é feita com câmera 3D, identificação eletrônica dos animais em nuvem e pesquisa sobre eficiência alimentar com uso de cochos eletrônicos ligados à rede de computadores. A MGF testa uma pesquisa com a exposição dos animais a luz ultravioleta durante parte da noite para avaliar o impacto do consumo e ganho de peso, como é feito na avicultura. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.