03/Jun/2024
O grande volume de chuvas no estado do Rio Grande do Sul trouxe inúmeros impactos. Alguns deles, até então são imensuráveis. Até o momento, são 471 municípios atingidos, com aproximadamente 2.345.400 pessoas afetadas. As chuvas também provocaram danos e alterações no tráfego nas rodovias estaduais. Atualmente, são 60 trechos com bloqueios totais e parciais em 36 rodovias, entre estradas, pontes e balsas. Além do impacto direto na vida das pessoas e dos prejuízos econômicos, as enchentes no Estado criaram condições propícias para a disseminação de doenças transmitidas pela água contaminada, entre as quais se destaca a leptospirose. A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater-RS) divulgou nota alertando para o elevado risco de zoonoses, em especial a leptospirose nas áreas rurais, uma vez que animais silvestres, domésticos e de produção que estiveram em áreas úmidas ou alagadas podem ter contraído a doença.
A doença pode ser transmitida entre animais e humanos, trazendo sérios prejuízos para a pecuária leiteira. No setor agropecuário, a soma de prejuízos se aproxima de R$ 3 bilhões para áreas totalmente inundadas, de acordo com um cálculo preliminar feito pela Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) a partir de um mapeamento com 550 produtores de porte médio. Os produtores de diversas regiões do Estado relatam perdas de R$ 10.000 a R$ 100.000 para pequenas propriedades e de R$ 100.000 a R$ 5 milhões para médias propriedades. Muitos produtores necessitam de crédito para retomada das atividades no campo. Na pecuária leiteira, a reconstrução do setor após as enchentes que atingiram o Estado passa pela necessidade de medidas governamentais que ajudem o produtor a se reerguer e permanecer na atividade. De acordo com a Gadolando, os produtores de leite precisam de forma emergencial de recursos a juros muito baixos e com prazos estendidos.
É importante que se entenda que não basta dar comida hoje e amanhã aos animais, existe uma longa jornada pela frente para este setor que já vinha sofrendo. As doações em algum momento vão acabar e a produção própria de silagens e outros alimentos levará tempo. Dessa forma, serão necessários recursos para comprar o alimento que terá que vir de outros Estados, o que encarecerá ainda mais devido ao frete. Destaque também para o custo elevado para a reconstrução das instalações destruídas pelas águas nas propriedades leiteiras. Na parte dos equipamentos em geral, desde a ordenhadeira, tanques, bombas, trator, geradores e muitos outros utensílios fundamentais, alguns poderão ser consertados, mas outros terão que ser comprados. A Gadolando também lembra da necessidade de ressemear os pastos. A maioria dos produtores já havia gasto altos valores com a semeadura das pastagens de inverno. Tudo foi lavado. As sementes de azevém, aveia, etc, estão em um preço de difícil acesso para os produtores de leite.
Para o setor leiteiro, o Movimento IntegrAção Leite RS, que busca apoio aos pecuaristas do Rio Grande do Sul que tiveram perdas com as enxurradas que assolaram o Estado, irá realizar um leilão realizado no dia 5 de junho para angariar fundos aos criadores de gado leiteiro prejudicados. A ação nasceu com um objetivo de ajudar os pequenos produtores a se reerguerem. Além do leilão, profissionais renomados da pecuária leiteira se uniram para realizar um evento online no dia 8 de junho, a fim de arrecadar fundos que serão inteiramente destinados aos pequenos produtores de leite do Rio Grande do Sul. A ação também busca doações de sementes, forragens, pré-secados, ração, que também serão repassadas ao afetados por enxurradas. Para o setor agropecuário, os solos das lavouras e áreas de pastagens também necessitarão de uma intensa recuperação após as enchentes. Esse é um problema mais complexo, visto que o manejo do solo é um trabalho de anos, com investimentos em fertilidade, melhoria dos parâmetros microbiológicos e em sistemas de plantio direto.
Em áreas mais declivosas, a perda dos horizontes superficiais do solo é ainda mais preocupante, pois é na superfície que há o acúmulo de matéria orgânica e maior concentração de nutrientes, algo que foi construído durante muitos anos pelos produtores por meio de manejos e práticas para melhoria da qualidade do solo. Apesar de ser complexo, há grande necessidade de realizar esse trabalho, caso contrário, existe um grande risco de diminuir a produtividade das lavouras para grãos e para as áreas destinadas a pastagens. A Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) propõe um novo olhar para a agricultura e a pecuária, com a implementação de manejos que são capazes de regenerar a fertilidade do solo em um menor espaço de tempo, como é o caso dos sistemas integrados de produção e dos sistemas agroflorestais, sempre baseados em práticas conservacionistas de manejo do solo. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) deve anunciar em breve, um plano emergencial para recuperação do setor agropecuário do Estado.
A Embrapa fez o monitoramento por dados de satélite para observar a dimensão da devastação. Por enquanto, a estimativa é de que há pelo menos 340 mil fazendas que foram afetadas de alguma forma pelas chuvas. O plano emergencial será lançado em junho, juntamente com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) do Rio Grande do Sul. Para a retomada e recuperação das atividades no setor agropecuário, o Governo Federal publicou em edição extra do Diário Oficial da União, as Portarias MF n° 835 e nº 844 que regulamentam a Medida Provisória nº 1.216 com as condições de concessão de subvenção econômica sob a forma de desconto nos financiamentos de crédito rural a serem contratados e de ressarcimento dos custos, no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), para produtores rurais que tiveram perdas materiais decorrentes dos eventos climáticos extremos.
O crédito de investimento deve ser utilizado preferencialmente para aquisição de animais, reposição de rebanhos ou criações, recuperação de solos e pastagens, reforma e/ou aquisição de máquinas, equipamentos, construções e reforma de instalações rurais danificadas ou destruídas. O Objetivo da subvenção econômica é reduzir os custos dos financiamentos e possibilitar que os produtores gaúchos afetados pelas chuvas possam reorganizar suas atividades produtivas. Diante da situação difícil que vários produtores de leite estão enfrentando com a perda de estoques de alimentos para o rebanho, o MilkPoint está apoiando a iniciativa de Caciano Mafioletti, Técnico da Cooperideal, que visa ajudar os produtores de leite da região para fornecerem alimentos para seus rebanhos. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.