07/May/2024
A menor oferta de bois para abate nos Estados Unidos influenciou os resultados financeiros dos principais frigoríficos brasileiros de carne bovina no quarto trimestre de 2023 e pode ainda se refletir no desempenho deles no primeiro trimestre de 2024, que começa a ser conhecido nesta semana. JBS e Marfrig, com operações nos Estados Unidos, tendem a seguir enfrentando pressão em suas margens, enquanto a Minerva Foods pode se beneficiar da situação, pelo potencial de incremento da exportação. Primeira empresa das três a apresentar seu balanço, nesta quarta-feira (08/05), a Minerva pode capitalizar a escassez de carne bovina no mercado norte-americano tanto para incrementar seus embarques como os preços, argumenta o Itaú BBA. A Minerva pode se beneficiar diretamente do aumento do preço da carne dos Estados Unidos e da importação. Pode surgir uma oportunidade para exportadores com habilitação (para vender ao exterior), mas também precisamos entender como os Estados Unidos vão lidar com esse cenário: se vão flexibilizar cotas ou vão defender a indústria local.
Em 2023, como destacou no seu resultado financeiro do quarto trimestre, a Minerva teve 10% das exportações (excetuando os embarques feitos a partir da operação da Austrália) destinadas à região do Nafta, aumento em relação aos 6% de 2022, com os Estados Unidos sendo o vetor de demanda na região. Além disso, em novembro, obteve nova habilitação para exportar ao país norte-americano por meio da sua operação no Paraguai. A Minerva também está mais exposta ao ciclo bovino brasileiro, hoje com elevada oferta de bovinos, para ampliar as suas margens. Com uma operação praticamente toda concentrada na América do Sul, o frigorífico vivencia um momento oposto aos de seus dois concorrentes na compra do boi gordo. Ao contrário dos Estados Unidos, o ciclo bovino na América do Sul, em especial no Brasil, atravessa um momento favorável com preços do boi gordo em baixa. A JBS, que divulga seu balanço em 14 de maio, terá de se fiar à plataforma diversificada para minimizar os efeitos dos resultados da sua operação de carne bovina nos Estados Unidos.
No quarto trimestre de 2023, a JBS North America teve margem Ebitda negativa de 1,6%. A JBS tem outras operações de proteína dentro dos Estados Unidos, de suíno e frango. Se o preço da proteína bovina está subindo, isso pode abrir espaço para outras proteínas se beneficiarem. Isso compensará, ainda que parcialmente, as dificuldades enfrentadas. Não vai resolver todos os problemas por todo o peso da operação de bovinos, mas poderia ser pior. O cenário encarado pela JBS em 2024 demonstra o acerto da decisão da companhia em apostar em ter uma plataforma mais diversificada, com presença em vários países e uma produção que não se resume à carne bovina. Enquanto o ciclo bovino estiver ruim nos Estados Unidos, as margens passarão por um momento de compressão, pois há limites na compensação por parte das demais proteínas. Mas, a JBS é uma empresa sólida, com geração de caixa.
Além disso, a depreciação recente do real também ajuda a empresa. A diversificação das operações da Marfrig, que divulgará seu balanço no dia 15 de maio, também é vista como um diferencial, especialmente pelos recentes bons resultados da BRF, que poderão minimizar os desafios encarados nos Estados Unidos. A boa notícia para a Marfrig é a BRF, o seu oásis, com boa rentabilidade e margens saudáveis. Isso mitiga os riscos advindos da compressão de margem nos Estados Unidos. Ainda assim, será insuficiente para compensar as margens pressionadas da National Beef, segundo a EQI Ressearch. A Marfrig é a maior prejudicada neste momento. Hoje, mesmo com a consolidação da BRF em seus resultados, mais de 40% do seu faturamento vem das operações de bovinos nos Estados Unidos. No primeiro trimestre de 2024, a exportação de carne bovina pelo Brasil cresceu 35%, para 672.330 toneladas, segundo dados compilados pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) junto à Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Mas, o preço médio caiu 5,68%, para US$ 4.033,00 por tonelada.
Os embarques para os Estados Unidos aumentaram 93,5%, mas há dúvidas se esse nível se manterá no restante do ano. Não há muita esperança de que o Brasil vá exportar muito mais para os Estados Unidos, porque existe uma cota e os produtores norte-americanos são muito fortes no lobby, então os números tendem a se equilibrar, comentou o Itaú BBA. Além disso, não se espera grande variação no preço pago pela carne bovina no mercado global, diante da visão de que a demanda dos Estados Unidos será apenas uma das variáveis a influenciar as cotações. É complicado ver recuperação dos preços no curto prazo, ainda mais que há pressão da China para reduzi-los. É ela quem vai influenciar mais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.