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03/May/2024

Pecuária: tecnologia contra o aquecimento global

Responsável por 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, a agropecuária tem um grande desafio: aderir em peso à descarbonização. Em 2022, o setor manteve-se como o segundo maior emissor de gases de efeito estufa no Brasil, respondendo por 26% dos lançamentos totais no território brasileiro, segundo relatório anual do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Desse percentual, mais de 64% vêm da pecuária. O gado emite o metano, um dos gases que mais contribuem para o aquecimento do planeta. Reduzir esses números, ou até zerá-lo, portanto, é essencial para a sustentabilidade do setor; e as startups nacionais (agritechs) estão trabalhando para que isso aconteça. Na pecuária “verde”, uma das estratégias é buscar o aumento da eficiência, ao melhorar o uso de terra e a gestão do gado, é possível aumentar a produtividade sem usar mais terras, atividade que responsável por 48% dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera do País. Gestão de gado é o principal negócio da startup JetBov (SC).

Nascida em 2014, a empresa desenvolveu um aplicativo para smartphones e uma plataforma para computadores para elevar a eficiência na pecuária de corte. A ideia é “digitalizar” as fazendas, por meio de um software que permite cadastro de notas fiscais, gerenciamento de informações e análise de vendas, entre outras funcionalidades. É possível usar sensores inteligentes instalados nas porteiras para contar a entrada e saída dos bois; gerar imagens de satélite para ver mapas do terreno; e usar inteligência artificial (IA) para organizar todos os dados coletados. Com isso, o produtor consegue melhorar o manejo do gado, criar tarefas para equipes, fichar os bovinos e analisar os dados digitalizados da operação. As vantagens da gestão eficiente são claras para o meio ambiente. Essas ferramentas do app e da plataforma são a base da pecuária de precisão. É possível ter a rastreabilidade completa desse bovino por meio de fichas digitais. Além disso, o “pasto digital” traz uma otimização mais inteligente do uso da terra, já que há aumento da quantidade de carne por hectare, ou seja, mais boi numa mesma área.

O impacto ambiental positivo vem do aumento do número de bovinos em uma mesma área. Inclusive, é possível até diminuir áreas de pasto, usando outros sistemas produtivos, como a integração lavoura-pecuária-floresta. A iRancho (GO) é outra startup que oferece uma plataforma de gestão que inclui a elaboração de relatórios econômicos e de produtividade da operação bovina. Também a BovControl, fundada por um brasileiro nos Estados Unidos, oferece não só a plataforma, mas também concede crédito aos fazendeiros e gera relatórios de impacto ambiental para os clientes. No resto do mundo, as startups de pecuária apostam em soluções de mais alta tecnologia, tentando alterar a alimentação dos bovinos e, com isso, inibir a produção de metano (esse gás vem do arroto do gado, devido à fermentação entérica do boi e de outros ruminantes). A startup australiana Rumin8, que em 2023 recebeu um investimento de US$ 12 milhões do magnata da tecnologia Bill Gates (Microsoft), desenvolveu uma alga que, se introduzida na alimentação bovina, pode diminuir a emissão de metano.

A empresa testa seu produto no Brasil, onde o mercado começa a ficar atrativo para esse tipo de solução. Para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), embora essas soluções de fora pareçam “mais atraentes” do que as plataformas de gestão nascidas no Brasil, o impacto do “pasto digital” no dia a dia dos pecuaristas pode ser ainda maior na redução de gases de efeito estufa. Ao ser mais eficiente em um hectare, é possível reduzir as emissões de forma mais impactante. Na avicultura, a condição de vida das galinhas tornou-se um importante indicador de sustentabilidade na produção de ovos. Exibido nas gôndolas dos mercados, o selo “galinha feliz” indica quando a ave é criada em ambiente livre de gaiolas, sem injeção de hormônios e com ração apropriada para o crescimento natural. Agora, esse carimbo de bem-estar animal vai para outra espécie: as vacas. A startup Cowmed, fundada em 2010 em Santa Maria (RS), vem buscando implementar o mesmo parâmetro para as vacas leiteiras de seus clientes. O selo da galinha feliz é uma inspiração, porque mudou como o consumidor trata a produção de aves.

Mas, o caso da Cowmed é ainda mais completo, porque consegue fazer o monitoramento individual de cada vaca. Graças ao tamanho do setor da agropecuária na participação do Produto Interno do Brasil (PIB), o mercado potencial dessas agritechs (startups da agropecuária) em ascensão é imenso. Mas, há um entrave no caminho: a dificuldade no acesso a capital para impulsionar o crescimento e convencer pequenos produtores, com pequenas margens de lucro, a aderir a soluções mais sustentáveis. As agritechs do Brasil levantaram cerca de US$ 335,8 milhões em investimentos desde 2019, segundo dados da plataforma da Distrito, empresa de inteligência especializada no mercado de startups da América Latina. Esse número cobre os 191 aportes feitos desde então, em um total de 769 empresas de agropecuária no Brasil, que é o campeão dessas startups na região, com 76,5% do total, segundo o AgTech Report de 2023, da Distrito. Números ainda muito pequenos diante dos investimentos em fintechs (startups da área de finanças e serviços bancários) no País: cerca de US$ 8,5 bilhões com 708 negócios desde 2019, segundo a Distrito. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.