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02/May/2024

Boi: chineses pagariam mais por carne livre de desmate

Em um momento em que a China amplia o número de frigoríficos brasileiros autorizados a vender carne bovina ao país, uma pesquisa feita em Pequim e em Xangai mostra que parte dos consumidores chineses está disposta a pagar mais pelo produto. Mas, com uma condição: que essa carne não esteja associada ao desmatamento da Amazônia. A pesquisa é fruto de um projeto da Academia Chinesa de Ciências Sociais e a FGV Agro, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O trabalho das duas instituições tem o apoio da ONG norte-americana The Nature Conservancy. Mesmo com uma amostra pequena de consumidores que compram carne bovina brasileira na China (apenas 720 foram ouvidos nas duas maiores cidades do país), o resultado surpreendeu. Em média, os entrevistados afirmaram que pagariam 22,5% a mais do que pagam hoje pela carne do Brasil se ela viesse com alguma garantia de que é de criações de gado em áreas de desmatamento zero. O filé mignon chega aos chineses atualmente a preços que variam entre US$ 40,00 e US$ 70,00 por Kg (o equivalente a entre R$ 204,00 e R$ 357,00 por Kg).

No ano passado, as exportações brasileiras de carne bovina totalizaram US$ 5,73 bilhões, quase 1,2 milhão de toneladas. O Brasil responde por cerca de 60% da carne importada pela China. A China é o maior importador de carne bovina do Brasil e em março habilitou mais 38 unidades de frigoríficos brasileiros para atender seu mercado, a maior parte justamente de carne bovina. Com isso, o número de unidades de carnes (bovina, aves e suínos) do Brasil com autorização para vender à China subiu para 144. Para a Universidade de Zhejiang, uma perspectiva é que, em algum momento, a carne brasileira livre de desmatamento possa ser vendida nos mercados chineses com um selo que ateste sua rastreabilidade. A FGV Agro afirma que a indústria da carne no Brasil tem avançado em termos de rastreabilidade. Mas, há ainda uma parcela de produtores que dá menos importância para a sustentabilidade, com o argumento de que sempre haverá muitos consumidores que não levam em conta essa questão na hora da compra.

A sondagem com consumidores chineses reforça uma percepção de que não vai ser o governo que vai puxar uma mudança na forma de se produzir, não vai ser órgão regulatório. Vai ser o mercado. Isso já está acontecendo, embora ainda numa escala pequena, mas vai explodir quando a China falar que paga mais por uma carne sustentável. Não quer dizer que um selo desse tipo vá solucionar todos os problemas. Mas, há a possibilidade de que chineses aceitem pagar um preço extra para ter certeza de que não estão contribuindo com o corte de floresta do outro lado do mundo. A pesquisa mostra que isso é factível. A indústria e o governo têm de atentar para isso. Há uma diferença marcante entre o caminho que está propondo na China e o caminho adotado pela União Europeia. Os europeus aprovaram regras que impedirão a entrada no bloco de um conjunto de produtos que não tiverem sinal verde de um sistema de controle e auditoria. A China não quer que um futuro sistema de selo seja mandatório. Quer que seja voluntário. Quando é mandatório, seja ou não uma boa política, se torna um tema polêmico. Se é voluntário, o mercado decide.

A Associação Brasileira das Indústrias de Carne (Abiec), afirma que o País tem potencial para produzir mais em áreas menores e que o mercado é o motor para ampliar essa eficiência. Em relação ao desmatamento, a Abiec fala da necessidade de mais ações de controle por parte do Estado e de ações do setor privado. Um dos elos frágeis da cadeia na carne no País continua sendo o dos fornecedores indiretos. São aqueles pecuaristas que não vendem gado para os frigoríficos, mas que fornecem bovinos para as fazendas que têm contratos com a indústria. A questão é que não há informação sobre esses indiretos. Apesar do resultado da sondagem, hoje os consumidores e importadores da China não consideram um problema o fato de não terem informação suficiente sobre rastreabilidade da carne. No momento, não é. Mas será no futuro. Por algumas razões: uma delas é que a comunidade internacional dá atenção para o tema do desmatamento e a China, que importa muitos produtos do Brasil, também. Isso tem se tornado uma questão importante. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.