24/Apr/2024

O avanço da produção de leite na Região Sul do País está se constituindo em uma mudança estrutural no setor lácteo nacional. As Regiões Sudeste e Sul, juntas, representam cerca de 75% do leite produzido no Brasil. É importante destacar que dois tipos de mudanças que podem acontecer em um sistema: as mudanças estruturais e as mudanças conjunturais. As mudanças estruturais são modificações profundas e de longo prazo em um sistema, seja ele econômico, social ou político. Essas mudanças geralmente têm um impacto significativo e duradouro. As mudanças conjunturais são ajustes de curto prazo feitos em resposta a eventos específicos. Embora possam ter um impacto significativo no momento, elas não alteram a estrutura fundamental de um sistema como as mudanças estruturais.

Portanto, mudanças estruturais da produção de leite são aquelas que tendem a perdurar nos próximos anos e que representam modificações importantes para a cadeia de lácteos nacional. O primeiro fato a ser observado é a diferença do padrão sazonal entre as regiões do País. Na Região Sudeste, a maior produção de leite se concentra nos meses de novembro, dezembro e janeiro. Na Região Sul, isso acontece nos meses de agosto e setembro. Já os menores volumes de produção coincidem no mês de maio para ambas as regiões. Além disso, chama atenção que a sazonalidade da Região Sul tem maior amplitude (diferença entre maior e menor valor) que as demais regiões. Para evidenciar o segundo fato, foi usado o indicador Média Móvel (MM), que é muito utilizado no mercado financeiro para apontar mudanças de direção ou tendência nos preços.

A MM tem como principal característica ser pouco sensível a variações de curto prazo, sendo útil para captar efeitos de mudanças estruturais que tendem a se perpetuar ao longo do tempo. Um detalhe que vai ser útil adiante é que nas análises do mercado financeiro, o cruzamento de duas MM representa um sinal claro de mudança de tendência. A MM será utilizada para mostrar as mudanças das trajetórias da produção de leite no Brasil. A tendência da participação da Região Sudeste na produção total é de redução, enquanto a da Região Sul é de crescimento. A primeira vez que a Região Sul teve uma participação maior que a Região Sudeste foi no ano de 2012. Isso se repetiu em 2014 e nos anos de 2016 a 2020. No entanto, a mudança estrutural provocada pelo avanço da produção da Região Sul só pôde ser confirmada a partir de 2021. A recente dominância da Região Sul está impactando o padrão da sazonalidade nacional.

Entre 2005 e 2013, observou-se a dominância do padrão da Região Sudeste. Entre 2020 e 2023, houve crescente aumento da dominância da Região Sul. Na medida em que o leite da Região Sul ganha espaço, o seu padrão sazonal ganha mais força na determinação do comportamento médio da produção brasileira. Essa predominância se confirmou a partir de 2021, quando o Sul passou a ser, consistentemente, a região de maior participação do total produzido. A tendência aponta que a Região Sul vai continuar ganhando participação na produção nacional, até um certo limite. Isso poderá mudar ainda mais o comportamento da produção nacional e poderá afetar, por exemplo, o comportamento dos preços praticados no mercado. No longo prazo, deve-se considerar a dinâmica de crescimento das demais regiões, principalmente a Região Nordeste que tem um padrão sazonal diferente das demais. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.