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23/Apr/2024

Pescado: calor causa morte de peixes no Paraná

Os fenômenos climáticos seguem influenciando as atividades no campo. As altas temperaturas e a falta de chuvas entre os meses de janeiro a março causaram a morte de peixes em várias cidades do Paraná. Por concentrar mais de 80% dos piscicultores do Estado, a região oeste registrou o maior número de casos, com perdas que podem chegar a 5%, conforme estimativa da coordenação estadual de Piscicultura do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR). O aumento da temperatura afeta o comportamento dos peixes, que enfrentam uma situação de estresse e passam por desafios associados ao fenômeno. A tilápia é a espécie mais atingida, uma vez que é predominante entre os peixes de cultivo no Estado. A temperatura da água ideal para a tilápia é entre 24ºC e 28ºC. Entretanto, nos dias mais quentes do verão a temperatura da água passou de 30ºC, chegando a 35ºC.

Com isso, o ambiente entra em desequilíbrio, com interferência na situação de conforto para o peixe, na alimentação que precisa ser reduzida e na queda da imunidade, dando abertura para doenças. A sanidade na piscicultura está relacionada a quesitos animais, ambientais e patógenos. O piscicultor Marcelo Morilha Teles, que possui uma propriedade rural em Palotina, na região oeste do Paraná, conta que a mortalidade por causa de ondas de calor extremo deve ter atingido de 10% a 20% do plantel, entre os meses de dezembro de 2023 a março deste ano. Com três tanques escavados na Sub-Bacia do Rio Azul, ele tem produção de 130 mil tilápias ao ano em sistema de integração com uma cooperativa que atua na região. Cada safra é um desafio, mas este ano foi fora da curva. Não é fácil trabalhar com produção de tilápia nessas condições. Ele relata que os peixes deveriam ter ganhado, em média, 300 gramas em três meses, mas, ao contrário, foram perdendo peso.

Dessa maneira, ficaram expostos a doenças e, mesmo medicados, muitos não resistiram. Com dias em que a temperatura externa chegou a 45ºC, na água foi para 35ºC, e o aerador (dispositivo para misturar a água da camada superior, mais quente, com a da camada inferior, mais fria, e manter uma boa oxigenação) precisou ficar ligado por 24 horas. Os mais atingidos foram os peixes maiores, que costumam subir mais à superfície em busca de alimento. A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) afirmou que a falta de chuva contribuiu para agravar o problema. Para a atividade, o ideal é um clima mais ameno e chuvas com certa frequência. Sem chuva, o produtor não tem água suficiente para renovar a água do tanque. Até mesmo os raios solares afetam a estrutura sensível do peixe que sobe para buscar a ração que flutua no tanque. A maioria atingida são as tilápias no estágio final do ciclo de engorda, quando atingem de 900 gramas a 1 Kg.

Dessa maneira, consomem mais alimento para sobreviver e acabam sofrendo mais no processo, com a falta de oxigênio. Em casos de extremo calor, a recomendação dos especialistas, inclusive, é reduzir a alimentação dos peixes para evitar a mortalidade. O órgão estima que as perdas na região podem chegar a 10% da produção de tilápia. O problema que atinge os piscicultores é agravado por episódios de falta de energia elétrica na área rural, outro ponto cobrado pela Faep junto ao governo do Estado. O IDR-PR acrescenta que a intensificação da produção também aumenta os problemas. Quando esse fator se soma à mortalidade gerada por aspectos ligados à sanidade, fortemente influenciados pelas altas temperaturas, a perda na atividade pode chegar a 10% no Estado. Com a intensificação, o risco é ainda maior. Os produtores aumentam o número de peixes no local do cultivo, o que contribui para perdas. A diferença pode ser verificada entre piscicultores individuais e aqueles que são integrados a cooperativas.

Os integrados devem seguir protocolos, que preveem de 4 a 6 peixes por metro quadrado, enquanto os criadores individuais chegam a manter até 10 peixes por metro quadrado. Entre as recomendações do IDR para evitar a mortalidade dos peixes durante os períodos de extremo calor estão estratégias como reduzir a oferta de alimento, melhorar a qualidade da água e promover o seu manejo preventivo, com controle da temperatura. Aeração adequada e oxigenação da água são fundamentais para se manter a qualidade do ambiente, principalmente no período noturno. É preciso dar estrutura e condições necessárias aos peixes sobreviverem em um ambiente de risco. O consumo de ração precisa ser reduzido para evitar contaminação da água. A temperatura da água afeta as atividades fisiológicas dos peixes, como a respiração e a digestão, assim como gera alteração do comportamento deles.

É de extrema importância optar por alevinos com boa genética, avaliar frequentemente o estado nutricional dos peixes e as condições de imunidade deles, o que ajudará a conferir maior resistência ao plantel. As principais doenças registradas são aquelas causadas por bactérias, sendo a estreptococose a mais comum delas no Paraná, e que acomete criação de tilápias em todo o mundo. As tilápias também ficam suscetíveis a parasitas e fungos, além de outras doenças secundárias. Os peixes são muito sensíveis e há casos de infarto quando são registradas altas temperaturas. O levantamento oficial da piscicultura no Paraná em 2023 será divulgado em agosto pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), quando o impacto do clima na produção poderá ser melhor dimensionado.

A Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR) apontou os problemas climáticos como uma das principais causas, juntamente com aspectos sanitários, no aumento abaixo da média dos últimos dez anos da produção brasileira de peixes de cultivo em 2023, com destaque para as altas temperaturas do oeste do Paraná. Segundo a Peixe BR, o Paraná liderou a produção de peixes de cultivo no País, no ano passado, com 213,3 mil toneladas. Desse volume, foram 209,5 mil toneladas de tilápia. A produção brasileira de peixes de cultivo ficou em 887,03 mil toneladas, crescimento de 3,1% ante as 860,4 mil toneladas produzidas em 2022, mas, abaixo da média dos últimos dez anos, de 5,3%, e aquém dos dois dígitos esperados pelo setor. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.