21/Mar/2024
Com intenção de se listar na Bolsa de Nova York há mais de uma década, a JBS vem enfrentando novos desafios para alcançar seu objetivo. A multinacional brasileira que é a maior produtora de proteína animal do mundo (o que inclui carne bovina, ovina, suínos, aves e peixes) já adiou esse plano algumas vezes, seja por escândalos de corrupção ou crises econômicas. Agora, a companhia se depara com uma série de movimentos liderados por políticos e lobistas no exterior que a acusam de causar danos ambientais, estar envolvida em casos de corrupção e que, portanto, não deve ter acesso ao mercado de capitais norte-americano para se expandir. Ainda encara uma acusação de greenwashing da procuradoria-geral de Nova York. Hoje, a empresa tem suas ações negociadas apenas na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, na qual fez sua oferta inicial de ações (IPO) em 2007. A intenção é fazer uma dupla listagem de ações para poder comercializar seus papéis simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos, o que pode lhe abrir caminho para capital mais barato.
A empresa afirmou que a dupla listagem vai aumentar ainda mais o escrutínio da já robusta governança da JBS, aderindo aos padrões da Securities and Exchange Commission (SEC) e da Bolsa de Valores de Nova York (Nyse). O grupo também rebateu as acusações de contribuir para o desmatamento e provocar danos ambientais. Há quase 15 anos, a JBS monitora diariamente seus mais de 70 mil potenciais fornecedores de bovinos em todo o País. Por meio de imagens de satélite e consulta a listas públicas oficiais, são constantemente verificados critérios como desmatamento ilegal, embargos ambientais, invasão de terras indígenas ou unidades de conservação e práticas análogas à escravidão. Atualmente, mais de 14 mil fazendas estão bloqueadas. Entre os movimentos internacionais que se colocam contra a dupla listagem estão os capitaneados por parlamentares dos Estados Unidos e do Reino Unido, além de um batizado de “Ban the Batistas” (banir os Batistas, em português, uma referência aos irmãos Wesley e Joesley Batista, da família fundadora da companhia).
Apesar de os financiadores do “Ban the Batistas” não serem conhecidos, a lei norte-americana permite o anonimato em casos como esse e, portanto, não se saber quais são os seus interesses, o movimento contratou um escritório de lobby em Washington (EUA) para atuar contra a empresa brasileira. Esses movimentos ganharam força neste ano. Em janeiro, 12 parlamentares do Reino Unido, de diferentes partidos, mandaram uma carta à comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos (SEC) em que “imploram para que o pedido de IPO da JBS seja rejeitado” e que, assim, seja enviada uma mensagem clara de que os Estados Unidos permanecem firmes em seu compromisso de combater às mudanças climáticas. No Reino Unido, a JBS atua por meio da marca Pilgrim’s Pride Corporation, que detém unidades de processamento de suínos e aves no país. O problema central da JBS apontado pelos políticos do Reino Unido é a criação de gado por seus fornecedores na região amazônica.
Eles afirmam que a listagem da empresa na Bolsa de Nova York poderia resultar em uma alta do desmatamento. Um estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgado no ano passado mostrou que a JBS é a empresa de carnes mais exposta a risco de desmatamento na região. Como a companhia é a que tem o maior número de frigoríficos na Amazônia, ela já é naturalmente mais exposta ao risco. Nos últimos anos, no entanto, o grupo falhou no monitoramento de seus fornecedores indiretos. O levantamento do Imazon mapeou todos os frigoríficos da Amazônia, o total de hectares devastados entre 2008 e 2021 nas áreas em que essas empresas compram gado e o risco de desmatamento futuro. Zac Goldsmith, ambientalista e ex-ministro de Energia, Clima e Meio Ambiente do Reino Unido, foi um dos signatários da carta. Questionado sobre porque ele assinou o documento e se achava que a listagem da JBS nos Estados Unidos teria impactos no seu país, Goldsmith afirmou que a empresa está profundamente envolvida em desmatamento desenfreado e danos ecológicos.
Além de prejudicar as pessoas que vivem e cuidam das florestas, a JBS está contribuindo para um colapso na biodiversidade e causando considerável dano ao planeta. Seus negócios, portanto, são de interesse de todos, razão pela qual vários parlamentares de diferentes partidos políticos escrevemos uma carta instando a SEC a negar o pedido de IPO da JBS, afirmou o membro da Casa dos Lordes. Conhecido como Lorde Goldsmith de Richmond Park, o político faz parte do Partido Conservador e é próximo à família real. Nos Estados Unidos, senadores também enviaram em janeiro uma carta ao presidente da SEC em que dizem que a aprovação da proposta de listagem da JBS sujeitaria os investidores dos Estados Unidos ao risco de uma empresa com um histórico de corrupção flagrante e sistêmica, e ainda consolidaria seu poder de monopólio. Entre os 15 senadores que assinaram o documento estão o democrata Bernie Sanders e o republicano Marco Rubio.
A JBS atua nos Estados Unidos desde 2007, quando comprou a processadora de carnes Swift & Company. Desde então, foi expandindo sua atuação no exterior por meio de outras aquisições. Em 2022 (o último com resultados divulgados), os Estados Unidos geraram 49% da receita do grupo, para comparação, o Brasil foi responsável por 14%. Nesse mesmo ano, a companhia teve uma receita líquida de R$ 374,9 bilhões. Só a área de negócios de carne bovina da empresa na América do Norte (que inclui também operações no Canadá) tem dez unidades de processamento e seis de logística. Não bastasse as cartas enviadas à SEC, o embate contra a JBS teve novo capítulo no fim de fevereiro, quando a procuradoria-geral de Nova York entrou com uma ação contra subsidiárias norte-americanas da JBS por elas supostamente fazerem afirmações enganosas sobre suas metas de emissão de gases de efeito estufa para aumentar as vendas entre os consumidores ambientalmente conscientes.
No processo, é alegado que a empresa afirmou que vai zerar emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2040, apesar de não ter um plano viável para cumprir o compromisso. Em relação ao processo, a JBS disse discordar da ação. A empresa afirmou que continua a fazer parcerias com agricultores, pecuaristas e outras partes interessadas em prol de um futuro mais sustentável para a agricultura, que utilize menos recursos e reduza o impacto ambiental, ao mesmo tempo que alimenta uma população global crescente. Ainda que seja polêmico, o processo pode dificultar a dupla listagem da JBS. A FGV Direito destaca que as Bolsas de Valores estrangeiras têm elevado as exigências socioambientais para companhias de capital aberto. A gestora Mantaro Capital vai na mesma linha. A acusação impacta na relação entre empresa e investidores e pode atrapalhar a listagem nos Estados Unidos. O investidor estrangeiro é mais sensível ao tema ESG do que o brasileiro. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.