ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

19/Mar/2024

Boi: análise sobre momento para investir na pecuária

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou, em março, aquilo que o mercado já esperava: o abate de bovinos cresceu em 2023 e a participação de fêmeas no abate de bovinos também. Foram 34,1 milhões de bovinos e as fêmeas representaram 41,6% dos abates, aumento de 4,2% em relação às participações em 2022. Os números revelam o ciclo pecuário de preços. Os preços pecuários de preços variam basicamente em função da oferta de fêmeas para abate. Quando o preço do bovino para reposição do rebanho está alto, acontece retenção de fêmeas (matrizes) para a produção de bezerros. Essa retenção de fêmeas provoca uma diminuição de cabeças para abate e o preço da arroba do boi gordo sobe. Com o tempo (entre 4 e 6 anos) a oferta de bovinos para reposição cresce de tal maneira que o tamanho da oferta faz com que o preço caia. Nesse ponto, fica desinteressante a produção de bezerros e aumenta a oferta de fêmeas para abate, fazendo com a que a cotação da arroba do boi gordo caia.

No ciclo de alta, o criador (fazendeiro que possui vacas e novilhas e produz bezerros) abate menos fêmeas, se limitando a entregar ao frigorífico somente vacas e novilhas de descarte (de baixo desempenho reprodutivo), inviáveis para compor um rebanho. Hora de investir na pecuária? A pecuária é cíclica e plurianual e 2023 pode ter deixado algumas oportunidades. Mas isso não quer dizer que o momento ainda não seja interessante para investir. Comentaremos alguns destes pontos. Em fevereiro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), apresentou perspectivas para o agronegócio até 2033/2034. As projeções para a exportação de carnes entre 2025-2033 apontam para um crescimento expressivo. As exportações de carne de aves e suína devem ter aumentos de 18,0% e 19,0%, respectivamente, puxados pelo maior consumo nos países em desenvolvimento e em países emergentes.

Para a carne bovina, os números também são animadores. O comércio global deverá crescer 13,0%, puxado, principalmente, por maior procura dos países asiáticos. O Brasil manterá a liderança mundial em carne bovina e de frango, com melhora na posição das vendas externas de carne suína, passando a terceiro exportador mundial, atrás de União Europeia e Estados Unidos. A exportação de carne bovina deverá crescer 27,5%, passando a 3,8 milhões de tec. Dentre os principais compradores de carne bovina, a China deverá responder por até 30,3% do mercado, aumentando o volume de compras em 10,0%, chegando em 3,9 milhões de tec em 2033, à medida que a demanda supera o crescimento da produção doméstica. A Coreia do Sul e Japão representam ainda promessas para o mercado de carne bovina do Brasil. Até 2033, Coreia do Sul e o Japão deverão ser o terceiro e quarto maiores importadores de carne bovina do mundo, destacando-se o mercado sul-coreano, que deverá crescer 29%, acréscimo de 214 mil tec.

Para o mercado japonês, projeta-se um crescimento de 49 mil toneladas, totalizando 818,0 mil tec. Em 12 de março, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou que a China habilitara 38 frigoríficos brasileiros para exportar carne bovina, de aves e de suínos, sendo o maior número de plantas autorizadas de uma só vez. Desse conjunto, 24 plantas são produtoras de carne bovina, nove de carne de aves e um estabelecimento de carne bovina termoprocessada. Também foram habilitados quatro entrepostos, sendo um de carne bovina, dois de frango e um de suínos. O estabelecimento, em Itajaí (SC), foi habilitado como entreposto para exportação de carne de frango e suína. A China já não paga mais pela carne bovina como antes, mas, com relação à demanda, continuará um mercado importante ao Brasil e a abertura de mais plantas como fornecedoras reflete isso. Assim como o preço do boi, o preço da reposição caiu e caiu com mais intensidade, ou seja, a relação de troca melhorou.

Há uma questão biológica inerente às matrizes: a capacidade de produção de um bezerro por ano, salvo raros casos. E, além disso, os indicadores zootécnicos (intervalo entre partos, taxa de prenhez, taxa de desmame etc.) da cria no Brasil são baixos, na maioria dos casos. E o que assistimos em 2023? Uma grande oferta de bovinos jovens, bezerros, fruto da retenção de fêmeas em 2021 e uma das melhores relações de troca (arrobas de boi gordo, por bovinos de reposição) desde 2020. A relação de troca, para as categorias mais jovens, de olho nos próximos anos, esteve favorável ao recriador/invernista em 2023 e, nos primeiros meses de 2024, ainda está num bom patamar e, a partir de abril e maio, com a "safra de bezerros", a perspectiva é que os patamares atuais sejam mantidos. Se há um ensinamento que a pecuária traz é que olhar o passado é sempre uma boa estratégia para o futuro. A história mostra que a reposição do estoque de arrobas (através da compra de animais mais leves) com preços menores permite maiores chances da venda de boi gordo com ágio.

Ou seja, quem comprou bezerros de desmama há dois anos e os está vendendo hoje como boi gordo está sentindo no bolso um dos maiores deságios entre a arroba de aquisição e a arroba de venda. Por outro lado, quem comprou bezerros na última fase de baixa (entre 2016 e 2018) viu o ágio da arroba do boi gordo em relação à aquisição da desmama crescer. Esse histórico dá uma informação importante ao produtor, uma vez que a reposição é, na maior parte dos casos, um dos principais custos de produção, e é na fase de baixa de preços que acontece a oportunidade de aumentar o estoque de arrobas, a um custo menor. Se confirmada a expectativa de virada de ciclo a partir de 2025, o pecuarista está diante de uma bela oportunidade de investimento, mas, é claro, sem deixar de levar em consideração outros fatores inerentes à produção. Fonte: Alcides Torres. Broadcast Agro.