19/Mar/2024
Até meados da década de 90, quem consumia leite tinha de comprar os famosos leites C ou B no saquinho. Eles azedavam rapidamente e precisavam ser fervidos antes de beber. Com o surgimento da embalagem cartonada, também chamada de longa-vida, os saquinhos foram desaparecendo e quase sumiram. Mas, nos últimos anos eles vêm ensaiando uma lenta volta. Supermercados da classe A de São Paulo, como o Mambo e a rede Zaffari, voltaram a vender o leite de saquinho refrigerado, em embalagens de 1 litro. Tem até uma novidade. A Leitíssimo, do Grupo Leite Verde, lançou um leite em saquinho que não precisa de refrigeração. O produto passa pelo processo de ultratemperaturas (UHT). Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), esse leite do saquinho de agora é bem diferente daquele do passado. Ele não tem mais a classificação A ou B. É apenas leite pasteurizado, natural, sem aditivos.
A validade, desde que mantido sob refrigeração, chega a dez dias e não precisa ser fervido. Antigamente, o manejo e a captação do leite tinham menos cuidado. Hoje há muitas melhorias e a entrega não é mais feita em caixas de isopor. A cadeia logística é toda refrigerada. Por isso a validade se estendeu e a qualidade aumentou. Mesmo assim, a garrafa plástica é bem mais prática que o saquinho molenga em que é vendido. Por que, então, o saquinho está de volta? Preço e sustentabilidade explicam esse ponto. Para o produtor, a garrafa plástica custa quase R$ 1,00 e o saquinho fica em U$ 0,04. Isso faz o preço do leite refrigerado, na gôndola, ficar pelo menos R$ 1,00 mais barato que o engarrafado. Além de ser mais barato, é bem menos plástico que se descarta. Foi por isso que a Leitíssimo empresa lançou o UHT em saquinho. O lixo gerado é menor com o uso da embalagem em sachê, que usa 75% menos plástico que a garrafa.
Consequentemente, o custo do produto diminui também. Outro fator que ajuda na volta do saquinho é o saudosismo, diz a TM20 Branding. As pessoas estão cansadas de tanta tecnologia, de tanta mudança. Quando o saquinho volta, desperta uma saudade e isso também facilita a venda. O movimento de volta do leite em saquinho já aconteceu na Europa e nos Estados Unidos, quando a troca começou a ser feita por volta de 2010. E foi isso o que motivou a pesquisa da Universidade de Dalhousie, na província da Nova Escócia, no Canadá. Foi analisada a quantidade de plástico em cada embalagem e a geração de carbono na linha de produção de cada uma delas, num estudo de 2021. Na comparação com as embalagens longa-vida e com as garrafas plásticas, o saquinho sai ganhando, porque requer menos energia e água em sua produção e gera menos gases de efeito estufa.
Isso acontece principalmente porque ele pesa de 20% a 30% de uma garrafa ou caixa de leite, para o mesmo volume. As embalagens cartonadas, por exemplo, precisam de uma quantidade extrema de água em sua produção: são quase 20 litros de água para produzir a caixinha de 1 litro de leite. Os pequenos produtores de leite comemoram a volta do saquinho. Segundo a Leites Jamava, de Santa Cruz da Conceição (SP), em cinco anos a produção vendida em saquinhos passou de 5 mil unidades por dia para 25 mil. E não é que as pessoas estejam comprando mais. A padaria, o supermercado, que já compravam, mantiveram a demanda estável. Aumentou o número de pontos de venda. O produto está chegando a supermercados que antes não vendiam o saquinho. Em Andradina (SP), a Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados e Pequenos Produtores da Região Noroeste do Estado de São Paulo (Coapar) também está aproveitando para vender mais.
Com um ano e oito meses de atuação no mercado, a empresa vende o leite de saquinho em 80 pontos comerciais, muitos deles na capital de São Paulo. O saquinho ia sumir está ganhando mais mercados. Um dos pontos de venda do leite da Coapar em São Paulo é o Instituto Baru. Por lá, as vendas de leite em saquinho cresceram de 20% a 30% no último ano. Além de ter uma embalagem que promove menos descarte de plástico, o leite é muito bom e por isso as vendas vêm crescendo. O saquinho também aumentou as vendas de jarrinhas que servem de suporte. Na Shopee, um dos maiores marketplaces em operação no Brasil, as vendas do utensílio tiveram aumento de 20% em 2023. Mas, mesmo assim, ainda há muita gente que torce o nariz para a embalagem, diz a Abraleite. Em cidade menores, no interior, ele é conhecido. Mas nas capitais as pessoas acham que ainda é aquele leite C, ruim. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.