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18/Mar/2024

Setor de lácteos e tendências globais de consumo

Em Los Angeles (EUA), talvez uma das cidades com a maior concentração de tendências no mundo dos alimentos, especialmente quando se trata de produtos naturais, nos supermercados, na categoria “Dairy” (lácteos), é raro encontrar uma garrafa, galão ou caixinha informando “apenas leite” sem evidenciar nenhum diferencial. Muitos produtos de vacas A2A2, muitos produtos orgânicos, destaque de vacas alimentadas exclusivamente a pasto, diferentes certificados como “women owned” (produzidos por mulheres ou empresa pertencente a uma mulher) e garantia de produções provenientes de empresas familiares são alguns exemplos. Aqui o recorte se faz importante: os supermercados com este perfil de curadoria de produtos e que acabam apresentando ao mundo as principais tendências de consumo são lojas voltadas para o público A/B com o clássico DNA californiano que respira saúde. Uma rede específica chamada Erewhon com 10 lojas em Los Angeles e nos arredores, é um caso de sucesso fundado em 1966.

O conceito da rede pode ser entendido assim que se entra no site ou pisa em qualquer uma das lojas em localizações bastante sofisticadas como Bervely Hills ou Pacific Palisades, por exemplo. Eles afirmam: “No Erewhon, nós acreditamos que a nutrição é a chave para um estilo de vida radiante. Através dos nossos mercados, nós nos empenhamos para providenciar produtos orgânicos excepcionais para inspirar boas decisões e comunidades mais saudáveis”. Nessa rede, foi possível encontrar as marcas Raw Farm e Cowboy Colostrum. A primeira, fundada em 1998, faz parte das que se intitulam Family owned (propriedade familiar) e afirmam que seu maior comprometimento é com a saúde dos consumidores enquanto apoiam o meio ambiente, os animais, os colaboradores e fornecedores para um mundo mais verde e sustentável. Para isso, apostaram na venda de leite fluído, creme de leite, manteiga, kefir, queijos e até comida para cachorro totalmente elaboradas com leite cru.

O grande apelo fica justamente no caráter completamente natural do alimento, com garantia de preservação das vitaminas, minerais, enzimas e afins. Além de ressaltarem a pureza de um leite sem antibióticos, hormônios e afirmarem que pessoas que apresentam sensibilidades com o leite convencional ficam bem com essa “alternativa natural inalterada” da natureza. Uma observação interessante foi que, além de certificações mais comuns como a Certified Humane (certificação de bem-estar animal) e a Non gMO Project (projeto sem transgênico), também garantem que a alimentação das respectivas vacas é livre de soja e estampam um selo de “Test&Hold” (testado e aprovado). O último é uma confirmação de que o protocolo de teste de leite cru foi feito e reconhecido pelo estado da Califórnia. Se trata de um teste com 3 passos: basicamente testam todas as batidas da ordenha ao laticínio todos os dias e identificam cada lote para garantir uma rastreabilidade eficiente. Nada muito diferente de uma produção de leite Tipo A no Brasil. Fato é que custa US$ 10,00 mais caro que um mesmo galão de leite convencional, ambos lados a lado no supermercado.

O leite integral da marca Clover custa US$ 9,99 por galão e o leite cru da marca Raw Farm, US$ 19,99 por galão. No Brasil, porém, é difícil que essa ‘onda’ do leite cru deva chegar e ocupar grandes espaços nas gôndolas no curto prazo. A segunda marca é mais recente, com os primeiros conteúdos no Instagram postados em agosto do ano passado. A página inicial do site confunde o consumidor sobre qual produto é vendido. Especialmente por acompanhar a tendência de cowboycore (tendência baseada no Velho Oeste norte-americano), pode-se facilmente acreditar que está em um site de roupas descoladas. A estética é linda, ousada, conceitual, repleta de elementos modernos e que conversam muito bem com as novas gerações. O depoimento assinado pelas fundadoras estampado em uma das páginas amarra o core da marca: alimento milenar feito para consumidor antenado que busca saúde e bem-estar. Mesmo o colostro já sendo vendido há alguns anos, inclusive com ajuste na legislação brasileira desde 2017, esse novo posicionamento mostrou-se bastante inovador.

O supermercado Erewhon também é conhecido por shakes especiais assinados por celebridades. Por cerca de R$ 100,00, é possível tomar um smoothie de açaí da Gisele Bündchen ou um de strawberry glaze (cobertura de morango) da Hailey Bieber, com a premissa de um boost (incremento) na pele, por exemplo. No último mês, foi lançada uma versão à base de cereja, da Sofia Richie, e um dos ingredientes é o colostro. Importante ressaltar que se trata de produtos nichados, e pode ser que nunca sejam vendidos no Brasil. Mas, a mensagem principal é o fato de o leite estar no holofote, sendo visto como uma ótima opção nutricional, apresentando-se de forma moderna e com identidades visuais que conversam com gerações muito exigentes. Apesar de todos os diferenciais e storytellings (narrativas) e comunicações, a origem é a mesma: o líquido fisiológico branco proveniente das glândulas mamárias das vacas. A agora é de back to basics (volta ao básico), back to natural (volta ao natural) e back to (volta de) tudo o que a natureza tem de melhor e mais puro acontecer nas gôndolas. A categoria está brilhando, renovando-se, reinventando-se e principalmente conseguindo atingir diferentes e novos públicos. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.