14/Mar/2024
Cada vez mais carne brasileira vai para o exterior, e nem de longe isso representa falta de produto aos brasileiros. É surpreendente a resposta do Brasil à sua vocação para produzir. A autorização concedida pela China a mais 38 unidades frigoríficas para exportar carne bovina, suína e de aves é um reconhecimento à qualidade e profissionalismo das cadeias produtivas brasileiras. É, ao mesmo tempo, demonstração de demanda e abertura para que mais fornecedores nacionais disputem entre si pelos clientes chineses. Especificamente para produtos bovinos, foram habilitados 24 frigoríficos, um estabelecimento de termoprocessamento, em Hulha Negra (RS), e um entreposto, em Rio Grande (RS). Com isso, 65 abatedouros de bovinos estão habilitados a exportar para a China no Brasil. A primeira mensagem que chega é a de que a China quer mais carne brasileira e, para atender, as empresas nacionais vão precisar de mais bovinos.
Motivados pelo potencial aumento da demanda e por preços diferenciados, os pecuaristas também tendem a ampliar seus rebanhos direcionados a este mercado. Em médio ou longo prazo, no entanto, na esteira do crescimento contínuo da produção, os princípios dos mercados de commodities podem se impor. A produtividade e a qualidade do produto se elevam, alguns recebem mais num primeiro momento, mas logo o que era diferenciado se torna o “padrão”, com deságios (redução de margem) para quem não alcança os mesmos resultados. A “barra” está sempre se elevando. Quem não acompanha, tende a sair do mercado. Quem fica, passa a buscar o ganho em escala. O maior beneficiado é o consumidor, ou a sociedade como um todo. O desempenho das exportações brasileiras de carne bovina é parte dessa dinâmica virtuosa, e a habilitação de novas unidades exportadoras para a China acentua essa circularidade.
O primeiro bimestre deste ano, mais uma vez, traz a qualificação de recorde para o volume embarcado. Para a China, especificamente, foram 192,386 mil toneladas de carne in natura, 12,8% a mais que no primeiro bimestre de 2023 e 37% acima do embarcado em janeiro e fevereiro de 2022, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Os preços, no entanto, evoluíram em sentido contrário. Com redução do valor em dólar e a queda do câmbio, a média neste início do ano (vendas da carne in natura para a China) foi de R$ 21.995,00 por tonelada, coincidentes 12,8% abaixo da média registrada há um ano e 38% inferior à de dois anos atrás. É importante observar que esses comparativos estão sendo feitos com um momento em que os preços estavam em máximas históricas, devido aos desarranjos causados pela pandemia, fora do padrão. Não resta dúvida de que a China “gosta” da carne brasileira e tem sabido negociar com os vendedores locais.
Com a habilitação das 24 novas plantas industriais, terá novos fornecedores em seu catálogo e, de alguma maneira, isso aumenta o seu poder de negociação, ao mesmo tempo, como dito, que abre oportunidade de mercado para novos operadores nacionais. No mercado pecuário, em algumas semanas, é preciso algum tempo para um novo habilitado iniciar, de fato, sua produção para este cliente, é possível que haja um aumento da procura pelo “boi China”, inclusive em regiões onde esta segmentação não era vista por falta de frigoríficos habilitados. Os produtores respondem rápido a estímulo de preço, devendo iniciar e intensificar investimentos para obter bovinos para abate com idade de até 30 meses. Há de se observar que a demanda poderá estar concentrada nas mãos do grande comprador, a China, e essa condição requer uma análise do risco de dependência. As exportações de carne bovina representaram no ano passado 26% do volume produzido no Brasil, mas a sua influência na formação das cotações internas (boi gordo e carne bovina) supera essa proporção.
Se os preços da venda externa estão em baixa e se a oferta de bovinos apropriados for considerada confortável, as “bonificações” poderão baixar, obedecendo os princípios do mercado de commodities. O resumo é: quem sai ganhando é o consumidor, não só brasileiro. Neste início de ano, o preço médio do boi gordo no estado de São Paulo caiu 7,6%; e a carcaça casada de boi no atacado, recuou 6%. Não é só a China que tem aumentado a demanda pela carne brasileira. Outros parceiros também têm comprado mais, e novos mercados estão se abrindo. De acordo com dados da Secex, no primeiro bimestre de 2024, foram embarcadas pouco mais de 408 mil toneladas de carne bovina (in natura, industrializada, miúdos e outros), 22% a mais do que o então recorde de 334,1 mil toneladas em 2022. Frente ao primeiro bimestre do ano passado, o salto foi 25%, mesmo com a China suspendendo as importações no final de fevereiro de 2023 devido a um caso atípico de “vaca louca” em um bovino do Pará.
O preço médio da carne in natura, considerando-se todos os destinos, esteve em R$ 22.398 por tonelada, 10% abaixo da média de um ano atrás e 20% inferior ao primeiro bimestre de 2022. Os Estados Unidos seguem firmes como o segundo maior comprador de carne brasileira. Adquiriram quase 30 mil toneladas de produto in natura nos dois primeiros meses do ano, pagando em média US$ 4.999,16 por tonelada, diminuição de 4,76% em relação ao primeiro bimestre de 2022. A terceira colocação, que em 2023 era do Chile, passou a ser ocupada pelos Emirados Árabes Unidos, que saltaram de 6 mil toneladas de carne in natura em janeiro e fevereiro de 2023 para mais de 26 mil toneladas de carne bovina in natura na parcial de 2024. O valor pago diminuiu 4,16% em dólar, chegando a US$ 4.585,74 por tonelada. Em Reais, a média foi de R$ 22.699,42 por tonelada, queda de 4,16% sobre o começo do ano passado. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.