07/Mar/2024
O governo Lula estuda a criação de um voucher para permitir que famílias pobres possam comprar até 2 quilos de carne bovina por mês. A ideia foi apresentada por um grupo de pecuaristas de Mato Grosso do Sul (MS) ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. O nome provisório, sugerido pelos próprios pecuaristas, é "Programa Carne no Prato". O ministro encaminhou a proposta para análise da Casa Civil e do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Os pecuaristas acreditam que o projeto possa beneficiar até 19,5 milhões de pessoas, criando a demanda por mais 2,3 milhões de cabeças de gado ao ano. A proposta é questionada por especialistas. O encontro entre Paulo Teixeira e os pecuaristas ocorreu no dia 17 de agosto passado. A comitiva dos criadores incluiu o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul) e o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul).
A proposta inicial é a de que o voucher seja de R$ 35,00, suficiente para as famílias comprarem ao menos 2 quilos de carne por mês. A Acrissul calcula que até 19,5 milhões de pessoas poderiam ser beneficiadas. Inicialmente, só famílias inscritas no Cadastro Único dos Programas Sociais do Governo Federal, o CadÚnico, como as que recebem o Bolsa Família, teriam acesso aos vouchers. Estes seriam usados exclusivamente para comprar carne bovina em supermercados e açougues conveniados. Segundo levantamento do Procon de São Paulo, o valor do preço da carne de 1ª fechou janeiro em R$ 38,26 por Kg e o de 2ª foi vendido a R$ 28,61 por Kg. O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDS), Paulo Teixeira, afirmou que recebeu essa proposta de pecuaristas de Mato Grosso do Sul. Eles achavam que esse tema da carne pudesse ganhar o status de um benefício para dar condição de acesso aos beneficiários do Bolsa Família. Promover o acesso dos beneficiários do Bolsa Família à carne.
A proposta tem que passar pelo MDS, que cuida de segurança alimentar e nutricional e pela Casa Civil, pois para se tornar uma política pública precisa de uma avaliação. O benefício funcionaria como um voucher. A princípio, seria para as pessoas inscritas no CadÚnico. A ideia inicial é que os inscritos tenham um cartão, e que esse cartão seja para comprar carne nas redes conveniadas. Apesar da sugestão de R$ 35,00 não há um valor fechado. O ideal seria pensar em valor que permita comprar entre 1 Kg e 1,5 Kg de carne. O consumo de carne bovina no Brasil está em queda há anos, ao contrário de outros tipos de proteína, como suínos e frango. O programa serviria como um incentivo para o setor, que vem sofrendo com a recente queda no preço do boi gordo. Mesmo com os preços ainda elevados para o consumidor, os criadores são prejudicados pelos baixos preços do boi gordo.
Em uma contabilidade simples, isso geraria uma demanda por 2,35 milhões de cabeças de gado por ano, ou seja, 8% dos bois atualmente abatidos por ano no Brasil. A nova demanda com o programa seria de 475 mil toneladas de carne bovina por ano. No ano passado, Mato Grosso do Sul exportou 174 mil toneladas. Ou seja, a nova demanda representa duas vezes e meia a quantidade exportada pelo Estado em um ano, diz a Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul. Em janeiro deste ano, o Bolsa Família atingia em torno de 21 milhões de lares, segundo informações do MDS. Se cada uma dessas famílias recebesse R$ 35,00 adicionais para comprar carne, o programa custaria aos cofres públicos cerca de R$ 8,8 bilhões por ano. A ideia do "Carne no Prato" foi bem recebida no Desenvolvimento Agrário, mas há dúvidas quanto a restringir as opções dos consumidores somente à carne bovina.
Para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), não faz sentido limitar a proposta de incentivo ao consumo de carne bovina, uma vez que outros tipos de proteína podem ter melhor custo-benefício. Se fosse um vale alimentação, a pessoa poderia selecionar entre vários alimentos. No caso desse “vale picanha”, estaria limitando a escolha. Do ponto de vista dos consumidores, não faz muito sentido. Ele é bom para os produtores de carne bovina, então é por isso que eles estão propondo. Mas, do ponto de vista dos consumidores e da gestão pública, não faz sentido limitar a escolha. Não me parece que carne bovina seja uma prioridade do ponto de vista da segurança alimentar. Carne de frango ou mesmo proteína de soja podem ser soluções mais custo-efetivas. Além disso, a criação de gado tem impactos ambientais que precisam ser levados em conta.
Na avaliação de Alcides Torres, engenheiro agrônomo pela Universidade de São Paulo (USP) e consultor especialista em pecuária de corte na Scot Consultoria, a ideia pode ser boa, desde que existam mecanismos para garantir que os beneficiários realmente usem o dinheiro para consumir proteínas. O nutriente é imprescindível para garantir o desenvolvimento físico e intelectual das crianças, por exemplo, e várias famílias têm dificuldade em comprar carne. Ele diz ainda que o preço pago aos produtores pelo boi gordo nos últimos anos está baixo. Esse valor praticamente não guarda relação com o que é cobrado nos supermercados e restaurantes. O acesso à carne bovina e a possibilidade de fazer um churrasco aos fins de semana foi um dos motes extraoficiais da campanha de Lula, durante a disputa eleitoral de 2022. "O povo tem que voltar a comer um churrasquinho, a comer uma picanha e tomar uma cervejinha", disse o então presidenciável. Logo depois da posse, no começo de 2023, circularam notícias falsas dizendo que o governo iria distribuir "bolsa picanha" à população. Na cidade de Oeiras (PI), a prefeitura teve que divulgar uma nota desmentindo a existência do suposto programa. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.