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12/Ago/2019

Carnes: tensão entre EUA-China beneficia o Brasil

Não é nas lavouras que está o produto com maiores chances de se beneficiar do enfrentamento entre os gigantes do comércio internacional: EUA e China. “Com a peste suína, é o setor de carnes que tem a maior oportunidade — avalia Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio. O rebanho de suínos chinês está comprometido pela doença, cujos focos vêm sucessivamente estourando em diferentes regiões do país desde agosto do ano passado. Por isso, as importações de soja — a base do alimento dos animais —, reduziram significativamente. As compras chinesas em junho reduziram 24% em relação ao mesmo mês no ano passado, seguindo tendência de queda brusca verificada a partir do final de 2018. Enquanto isso, a preferência do paladar chinês por carne suína manteve o mercado aquecido. Não por acaso, os suínos figuram entre os principais itens da pauta de exportações norte-americanas para o país asiático.

Em 2017, antes da guerra comercial, a China comprou dos EUA US$ 19,5 bilhões na área agrícola, principalmente soja, laticínios, sorgo e suínos. Mas em 2018, os efeitos da disputa fizeram o volume cair para US$ 9,1 bilhões. O cenário da disputa comercial entre as duas superpotências já vinha fortalecendo os produtores brasileiros, que assumiram o posto de maiores fornecedores de carnes para a China — mais da metade das vendas externas de proteína animal do Brasil já tem como destino o gigante asiático. Mas o novo capítulo deu impulso extra ao negócio porque acelerou o processo de habilitação de novos frigoríficos para a exportação, uma demanda antiga do Brasil. Em novembro do ano passado, mesmo tendo feito vistorias em novas plantas nacionais, os chineses não deram prosseguimento ao processo de habilitação, coisa que agora se tornou urgente. “A situação deles é tão dramática que as vistorias foram feitas por videoconferência, algo inédito — assinala Carlos Cogo.”

Atualmente, o Brasil tem 49 plantas de abate de aves e suínos habilitadas para exportação para a China. E há mais de 70 aguardando habilitação. A promessa dos chineses é habilitar em torno de 30 frigoríficos, incluindo bovinos, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Apesar do cenário favorável, os produtores de proteína animal brasileiros estão cautelosos. A China está abdicando da importação de um país que tem exportações anuais de 2,5 milhões de toneladas. O Brasil tem condições de suprir, no máximo, 1 milhão de toneladas desse total, segundo a ABPA. A redução na oferta tenderia a elevar os preços no mercado chinês, motivo para animação. Em contrapartida, a peste suína tem levado produtores asiáticos a abaterem precocemente seus plantéis saudáveis temendo a contaminação, o que pode levar a uma superoferta interna — outra razão para manter certa precaução e conter a euforia.

O principal motivo de incertezas, no momento de projetar os impactos da medida sobre o agronegócio brasileiro, é o fator político. O atual capítulo da crise teve início com um anúncio inesperado de Donald Trump, de que taxaria todas as importações chinesas a partir de setembro — ele já havia imposto uma medida sobre US$ 200 milhões em produtos do gigante asiático, e dessa vez, contrariou orientações de sua equipe econômica, que advogava por uma saída negociada entre ambas nações. A China respondeu com a suspensão das importações e a cotação do yuan baixou ao menor patamar desde 2008, levando os Estados Unidos a acusarem o gigante asiático de manipular o câmbio para favorecer seu setor produtivo. Sem acordo comercial entre as duas superpotências, é impossível prever os limites a que podem chegar seus mandatários na briga pela hegemonia. Fonte: Campo e Lavoura - RBS. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.