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30/Jan/2024

Frango: a resistência antimicrobiana nas criações

A resistência antimicrobiana (RAM), quando microrganismos deixam de ser suscetíveis a medicamentos como antibióticos, é uma das 10 principais ameaças de saúde pública ao redor do planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A pecuária, devido ao intenso uso de antimicrobianos nos animais para reduzir as perdas de produção, é um fator importante já conhecido que contribui para a disseminação dessas bactérias resistentes, que atingem animais e humanos. Agora, um novo estudo revela que não é apenas o uso em larga escala dos remédios em animais que tem motivado as mutações nos microrganismos que os tornam resistentes. Cientistas da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, descobriram que bactérias de diferentes espécies coexistindo no mesmo ambiente, como no intestino de um mesmo animal, conseguem compartilhar um material genético entre elas associado à resistência aos antibióticos.

Estas espécies de bactérias podem partilhar material genético dentro e potencialmente entre espécies, uma forma de propagação da RAM. É por isso que compreender até que ponto estas bactérias no mesmo ambiente e, mais importante, no mesmo hospedeiro, podem coevoluir e partilhar o seu genoma ajudaria no desenvolvimento de tratamentos mais eficientes para combater a RAM. No novo trabalho, publicado na revista científica Nature Communications, a equipe de cientistas coletou 661 amostras das bactérias E. coli e Salmonella entérica isoladas de frangos de 10 granjas diferentes na China num período de 2,5 anos. Ambas as bactérias apresentam taxas altas de resistência aos antibióticos e são comuns na pecuária. O problema não é que elas vão ser transmitidas pelo consumo destes animais especificamente, mas sim que a proliferação de versões resistentes das bactérias entre os frangos aumenta o risco de elas chegarem aos humanos, já que os microrganismos têm uma alta transmissibilidade para pessoas.

Os pesquisadores conduziram uma grande análise genômica dos microrganismos coletados, a primeira do tipo que avaliou em larga escala amostras coletadas dos mesmos animais, ao mesmo tempo, e em ambientes de vida real. Os principais achados revelaram que a E. coli e Salmonella entérica que viviam no intestino da mesma galinha apresentavam um alto compartilhamento de material genético ligado à resistência aos medicamentos, em comparação com amostras das bactérias cultivadas em laboratório. Com isso, os mecanismos metabólicos que a levavam a não serem suscetíveis aos antibióticos foram semelhantes, o que os pesquisadores imaginam ser consequência de uma evolução conjunta das bactérias naquele local. No geral, este trabalho demonstrou que a investigação de espécies bacterianas individuais tomadas isoladamente pode não fornecer um quadro suficientemente abrangente ou os mecanismos subjacentes à insurgência e propagação da RAM na pecuária, levando potencialmente a uma subestimação da ameaça à saúde humana.

A RAM é algo que preocupa cada vez mais as autoridades de saúde já que, quando os remédios não conseguem mais combater os agentes causadores de doenças, o risco de um desfecho mais grave, como um óbito, aumenta. Uma análise publicada no periódico The Lancet no ano passado, que avaliou 204 países e territórios, mostrou que as bactérias resistentes foram responsáveis diretamente pela morte de 1,27 milhões de pessoas em 2019, número maior do que o causado por doenças como malária e Aids. Indiretamente, a RAM foi associada a 4,95 milhões de vidas perdidas. De acordo com a OMS, essa resistência ocorre devido à exposição repetida dos microrganismos aos medicamentos pelo uso inadequado ou desnecessário, o que faz com que eles se adaptem e ganhem resistência. Fonte: O Globo. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.