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26/Jan/2024

Leite: os efeitos no El Niño na produção brasileira

Desde a confirmação da chegada do El Niño em 2023, muitas dúvidas foram colocadas em relação a produção de leite no Brasil e no mundo. De fato, as dúvidas assolam a cadeia leiteira neste início de ano. Por isso, nesta análise, se busca entender como a produção de leite brasileira se comportou diante das adversidades climáticas geradas pelo El Niño ou pela La Niña. Antes de tudo, é preciso entender quais são estes efeitos. O El Niño e a La Niña são fenômenos climáticos que afetam as condições atmosféricas e oceânicas em diferentes partes do mundo, incluindo o Brasil. Esses eventos são caracterizados por variações nas temperaturas da superfície do oceano no Pacífico Equatorial. Durante o El Niño, o Brasil pode enfrentar condições mais quentes e secas em algumas regiões, como o Nordeste. Isso pode levar a uma redução na disponibilidade de pastagens, afetando a qualidade e quantidade de alimentos para o gado leiteiro, o que pode impactar negativamente a produção de leite. Além disso, as temperaturas mais altas associadas ao El Niño podem causar estresse térmico nos animais, diminuindo sua produção de leite.

Enquanto em outras regiões, como o Sul, o efeito do El Niño é de chuvas intensas. Embora isso, em certa medida, possa beneficiar a disponibilidade de água e pastagens, chuvas excessivas podem levar a inundações, afetando a qualidade da forragem disponível para o gado e, consequentemente, a produção de leite (como visto nos últimos meses). Além do fato de que as condições mais úmidas podem criar um ambiente propício para o surgimento de doenças e parasitas que afetam a saúde do gado leiteiro. Já os efeitos da La Nina são contrários ao El Niño, gerando um maior regime de chuvas na Região Nordeste e uma estiagem na Região Sul. Ou seja, tanto o El Niño quanto a La Niña podem ter impactos significativos na produção de leite no Brasil, influenciando as condições climáticas, a disponibilidade de alimentos e a saúde do gado leiteiro. Mas, ao contrário do que se pensa, isso não significa que em anos de ocorrência de El Niño ou La Niña a produção de leite no Brasil cai, na verdade, em alguns anos ocorre justamente o contrário.

Apesar dos diferentes efeitos nas diferentes regiões brasileiras, as maiores preocupações se concentraram na Região Nordeste, devido ao efeito de seca em ocorrência do fenômeno climático. Porém, a produção de leite da região em anos de El Niño e sem El Niño, não tem uma correlação direta entre o El Niño e uma queda na produção de leite. Quando observamos os resultados estaduais da Região Nordeste, em nenhum deles há uma correlação direta entre a ocorrência do El Niño e uma queda na produção de leite. Portanto, a principal conclusão a partir destes dados é de que a produção de leite no Brasil é multifatorial, e que as adversidades climáticas geram impactos na produção de leite, mas não são um fator determinante para um crescimento ou um decréscimo na produção leiteira. Para exemplificar, entre os anos de 2012 e 2013, se observar uma intensa queda na produção de leite em Pernambuco, mesmo tendo sido este um ano sem fatores climáticos adversos causados por El Nino ou La Nina. Mostrando que, na maioria das vezes, são fatores não climáticos que interferem na produção de leite.

Neste caso, a interferência nestes anos citados foi uma infestação da praga conhecida como Cochonilha do Carmim no estado, diminuindo a oferta da palma forrageira, uma das principais fontes de alimentação do gado na região. Além disso, quanto maior o incremento tecnológico na atividade, menor a variação na produção decorrente destas oscilações meteorológicas, ou seja, o crescimento na produção que foi observado nos últimos anos no Nordeste em período de La Nina, por exemplo, está muito mais associado ao maior investimento tecnológico nas regiões do que no fator climático em si. Portanto, podemos esperar que o incremento tecnológico na produção de leite, que já está ocorrendo mesmo em produções extensivas, vão colaborar para gerar menores variações nas produções. Outro importante ponto em relação a produção de leite no Nordeste é que estes estados já conseguem crescer mesmo em anos sem fatores climáticos adversos, onde o semiárido, onde se encontram as principais bacias leiteiras em desenvolvimento, já apresenta um menor regime de chuvas sem a ocorrência do El Nino.

Ou seja, estes produtores desenvolveram estratégias eficazes para enfrentar períodos de escassez de chuvas, seja através do investimento em sistemas de irrigação eficientes ou da diversificação de fontes de alimentação para o gado, como a palma forrageira. Os produtores de leite da Região Nordeste têm se mostrado resilientes para gerar um crescimento na produção diante de um menor regime de chuvas, sejam decorrentes do fenômeno El Niño ou não, garantindo a continuidade de suas atividades mesmo em condições climáticas adversas. Dessa forma, nos últimos meses, a região já tem sido impactada pelos efeitos do El Niño, representando um desafio adicional para a produção de leite. No entanto, embora seja um fator influente, o histórico demonstra que o fenômeno climático, por si só, não é determinante para a queda ou crescimento da produção. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.