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22/Jan/2024

Suíno: criadores precisam investir em climatização

Na granja do suinocultor Losivanio Luiz de Lorenzi, em Orleans (SC), o clima das últimas semanas acendeu um alerta. O produtor independente conta com 320 matrizes (fêmeas utilizadas para a reprodução, na fase de gestação de suínos). Com temperaturas entre 28º C a 38º C, somadas às chuvas, o mormaço predomina na região. Se a temperatura ambiente não for bem controlada, pode gerar estresse por calor nas fêmeas e desandar uma diarreia nos leitões, gerando perda de peso e até a morte. As ondas de calor têm afetado o setor da agropecuária e, além das lavouras, os plantéis têm exigido cuidados especiais. No caso dos suínos, a preocupação está relacionada ao estresse térmico, uma vez que eles aplicam a energia corporal em mecanismos para termorregular o organismo, causando queda na taxa de natalidade e outros problemas que impactam a produtividade. Assim, o calor representa um desafio para criadores.

Para manter a climatização de galpões das granjas, a preconização aos suinocultores é o investimento na instalação de sistemas que garantam a temperatura ideal para os suínos. Mas, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Equipamentos para Aves e Suínos (Anfeas), o índice de granjas de suínos climatizadas no Brasil é de pouco mais de um terço. A entidade incentiva a transição tecnológica na suinocultura de precisão, tentando demonstrar ao setor a importância de trabalhar no âmbito da climatização, em função da característica dos suínos. O setor avança a passos muito rápidos, mas ainda está se deixando na mesa uma perda econômica. Nas propriedades, para amenizar a temperatura e deixar o ambiente mais adequado ao plantel, suinocultores que ainda não implantaram o sistema de climatização com galpões em pressão negativa (o mais avançado atualmente) utilizam opções de resfriamento com alta pressão ou até mesmo com ventiladores.

Independentemente da opção, o consumo de água e de energia, que são recursos necessários para o funcionamento dos equipamentos, pode aumentar entre 10% e 40% nos períodos de clima mais quente. No caso de Losivanio, a opção adotada para amenizar a temperatura no espaço são os pulverizadores de água com alta pressão e exaustores. O suinocultor conta que a granja da propriedade é antiga, com uma parte nova construída em 2007. Ele acredita que no período mais crítico de calor (normalmente entre novembro e março) o consumo de energia no local aumenta entre 10% e 15%. Quanto à água, é difícil precisar, mas também há um crescimento no consumo. O suinocultor Rodrigo Bisolo, que possui duas granjas em Seara (SC) totalizando 5.400 matrizes (o maior produtor do município, integrado à JBS), conta com galpões de pressão negativa desde 2013. O consumo de água cresce em torno de 40% nos dias mais quentes. Não adianta ter tudo climatizado se não cuidar do fornecimento de água e energia.

Para manter o funcionamento do sistema, a propriedade conta com geradores de emergência e capta 90% da água utilizada na climatização de cisternas instaladas no local. Quanto ao gasto com energia, se mantém o mesmo, uma vez que no inverno é necessário usar o recurso para o sistema de aquecimento. O suinocultor lembra que, antes de ter a granja climatizada com o modelo de pressão negativa, perdeu muitos suínos devido aos efeitos do calor. A opção foi instalar o sistema em todos os barracões porque, a cada verão, era um sofrimento para os suínos. Muitos deles morrerem. Desde 2013, não houve mais perdas por causa da temperatura. A Anfeas reforça que os suínos possuem a termorregulação metabólica limitada para a perda de calor. É um animal com carência de dissipação térmica e que exige atenção ainda maior nos setores reprodutivos, em especial nas áreas de gestação e maternidade.

Entre as consequências que o calor pode trazer para essa fase da cadeia produtiva está a baixa ingestão alimentar, com risco de aborto espontâneo e queda na produção de leite das fêmeas lactantes, o que tem reflexos diretos na produtividade. Além disso, a fêmea pode ficar bastante debilitada, o que afetará o desempenho reprodutivo do plantel. Quanto menor o número de leitões desmamados por fêmea no ano, menor a eficiência produtiva e maiores os impactos econômicos. Na fase de engorda, o setor não coloca tanta ênfase na climatização, mas também se verifica dificuldade de ingestão alimentar nessa etapa, fazendo com que os suínos não ganhem o peso diário preconizado, deixando de otimizar todo o seu potencial genético, nutricional e produtivo.

O espaço climatizado propicia um ambiente de termoneutralidade, adequado ao bem-estar. Para cada uma das fases há critérios indicados para o sistema de pressão negativa, como taxa de renovação e velocidade do ar: as premissas precisam ser bem observadas, com equilíbrio da dimensão das instalações e do sistema de climatização. Não se deve espelhar a suinocultura na avicultura nessa questão, pois as necessidades dos animais e de cada fase fisiológica é diferente. O suinocultor deve buscar informações com profissionais e empresas especializadas para o desenvolvimento de um projeto de climatização visando a potencialização dos ganhos. Os custos para implantação de um sistema de climatização variam de acordo com a fase do ciclo de vida dos suínos: maternidade, gestação, creche ou terminação.

Nas fases de gestão e maternidade, consideradas as mais críticas, o investimento fica em torno de R$ 350,00 por fêmea alojada. O investimento compensa, uma vez que o suinocultor pode ter perdas gigantescas sem um sistema de climatização eficiente. O processo vai ao encontro de ações de sustentabilidade e de economia circular nas propriedades, que têm apostado na geração de energia renovável e de biogás, assim como em estratégias de reuso da água. Sem falar no quesito relacionado ao bem-estar animal, que hoje significa mais competitividade ao setor, que enfrenta o mercado internacional, uma vez que a suinocultura vem ganhando espaço na agenda exportadora. A Anfeas ressalta que promove e defende constantemente um debate a respeito da importância do crédito agrícola para a tecnificação das propriedades rurais do setor. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.