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15/Jan/2024

Lácteos e o crescimento da importação brasileira

Historicamente, os volumes de importações de lácteos do Brasil sempre foram bastante correlacionados ao diferencial de preços do leite ao produtor (em dólares por litro) pagos no mercado doméstico e no Mercosul. Sempre que essa relação ultrapassa um determinado patamar médio (de 14%, ne média do período de 2009 a 2023) os volumes de importações também sobem; a relação inversa também funciona, isto é, quando os preços do leite no Brasil ficam mais próximos (ou até menores) que no Mercosul, os volumes importados caem. No entanto, esta relação de preços não determinou os volumes de importação no período a partir de agosto de 2022 até o final de 2023.

A relação de preços do leite baixou consideravelmente e os volumes de importações, ao contrário, subiram bastante e se mantiveram bastante elevados até o final de 2023. A explicação fica ainda mais complexa quando se verifica as vendas de lácteos no primeiro semestre de 2023, quando os volumes caíram, em média 3% em relação ao primeiro semestre de 2022; adicionalmente verificou-se um crescimento de 1,3% na produção brasileira de leite no primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período do ano anterior. Houve uma demanda menor e produção maior. Então, por que então tanta importação? Algumas hipóteses que podem ajudar a entender e a projetar o que pode acontecer em 2024:

- Altas expectativas do setor sobre o cenário de crescimento econômico e demanda no novo governo Lula: sabidamente o setor brasileiro é pródigo em avaliar cenários e decidir com base em expectativas (normalmente otimistas). O novo governo Lula, que normalmente toma medidas para a ativação da economia e do consumo, gerou expectativas de grande aumento de consumo no início deste ano. Os preços elevados dos lácteos na ponta final trataram de “jogar água fria na fervura” do consumo no início de 2023.

- Tempo entre contratar as importações e a chegada dos volumes ao mercado brasileiro: os traders e empresas importadoras mencionam de 45 dias a 2 meses entre fechar o negócio e os volumes efetivamente chegarem ao comprador. Nos últimos meses de 2023 este “lead time” pode ter sido até maior (quase de 3 meses), em função das maiores dificuldades de obtenção de LI’s (Licenças de Importação) e pela burocratização da entrada de produtos, num ambiente de mercado no qual produtores e muitas indústrias já começavam a reagir contra os produtos importados;

- Diferencial de preços do leite em pó industrial (LPI) entre o mercado brasileiro e o mercado internacional: este pode ser o motivo que mais explica os volumes ainda elevados de importações. A partir de meados de 2022 (mais precisamente, março de 2022) o diferencial de preços do leite em pó industrial no mercado brasileiro e no mercado mundial (representado no gráfico pelas cotações do GDT) cresceu bastante. Ainda que os preços ao produtor tenham se aproximado da média do Mercosul, o derivado em pó seguiu alto, estimulando a manutenção e o aumento dos volumes importados.

- No cenário de mercado de 2024, o ano ainda entrou com um significativo diferencial de preços do LPI entre o mercado brasileiro e o mercado internacional (GDT). Eventuais restrições de oferta no Mercosul (principalmente na Argentina, onde a produção no primeiro semestre deste ano deve cair entre 4% e 6%) e as medidas de cortes de benefícios fiscais adotadas pelo governo brasileiro (e que devem ser efetivas a partir de fevereiro) podem reduzir um pouco o ímpeto importador, mas nada como o bom e velho “preço” para determinar exatamente o que pode acontecer. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.